Desempenho setorial instável: etapa anterior à retomada econômica
Após as retrações de 2014 e, principalmente, de 2015 e 2016, era natural que quiséssemos saber quando a economia brasileira interromperia sua trajetória de queda. Os sinais nessa direção já apareceram no final do ano passado, e estão mais evidentes após o primeiro trimestre de 2017, no qual se estima que o PIB tenha crescido entre 0,5% e 0,7% (em comparação com o primeiro trimestre de 2016, feitos os ajustes sazonais), notadamente por causa do bom desempenho do setor agropecuário.
Com expressiva alta estimada de 13%, de janeiro a março, e cuja safra de grãos em 2017 deverá ser 25% maior do que em 2016, a agropecuária é o grande destaque nesse início de ano. Mesmo que este setor represente apenas 5% de todos os bens e serviços produzidos no País, um desempenho tão positivo, certamente terá importante impacto sobre a recuperação econômica. Por outro lado, serviços e indústria, mesmo em situação bem menos favorável, uma vez que permanecem em um cenário de elevado desemprego e alta ociosidade, pararam de piorar há alguns meses e agora apresentam naturais oscilações de desempenho.
No caso da indústria nacional, houve crescimento de 0,6% no primeiro trimestre de 2017, em comparação com esse mesmo período de 2016, mas o comportamento mês a mês foi um tanto quanto errático. Em comparações com o mês anterior, a produção industrial teve significativo avanço de 2,4% em dezembro de 2016, mas passou a apresentar pequenas variações em janeiro e fevereiro deste ano, com queda de 0,2% e expansão de 0,1%, respectivamente, e uma inesperada queda importante em março, de 1,8% (mercado projetava um recuo em torno de 0,9%). Sobre possíveis explicações para essa instabilidade, algumas observações podem ser feitas.
O setor que mais está colaborando para a retração na indústria é o automobilístico, que ainda está tentando ajustar sua produção à menor demanda doméstica, e procurando resolver o problema de estoques acima do desejado com redirecionamento para o mercado externo. Em março, na comparação com fevereiro, veículos automotores, reboques e carrocerias tiveram queda de 7,5%. Outro importante determinante para o comportamento instável da indústria são os juros ao consumidor, que ainda permanecem elevados (mesmo com as seguidas reduções da taxa Selic), o que dificulta o acesso ao crédito e à redução do endividamento. Ademais, as incertezas políticas, notadamente relacionadas à gestão fiscal (na qual a aprovação da reforma da previdência tem um papel decisivo) também interferem nas decisões dos industriais sobre execução de investimentos.
Assim, em resumo pode-se afirmar que há sinais claros de que a recessão foi deixada para trás, e a retomada está tomando forma; porém, como será uma recuperação lenta e gradual, novas oscilações no desempenho dos setores econômicos devem continuar ocorrendo. Logicamente, quanto mais reduzirmos as incertezas no campo político e quanto maiores as quedas dos juros ao consumidor, melhores as possibilidades de ampliação da demanda e dos investimentos e, por conseguinte, da atividade produtiva.
Confira as edições anteriores da Análise Econômica Semanal:
28/04 - Para não aprofundar recessão e desemprego
20/04 - Reformas trabalhista e tributária: para elevar a produtividade
13/04 - Corte nos juros e reforma trabalhista: avanços em tempos de tormenta política
31/03 - O orçamento mais rígido do mundo
24/03 - Mais eficiência e menos tributos: como resolver o rombo de R$ 58,2 bilhões
17/03 - Desafio: cumprir a meta fiscal sem aumento de impostos
10/03 - Retomada, mesmo que lenta e gradual: motivos para acreditar
03/03 - Os números e a realidade da Previdência
24/02 - Superávit das contas públicas em janeiro e a disposição para atingir a meta fiscal
17/02 - A retomada da confiança
10/02 - Monitorando os avanços
03/02 - Medidas microeconômicas do Banco Central melhoram ambiente de negócios
27/01 - Sinais positivos
20/01 - O potencial de crescimento e os seus riscos
13/01 - As boas notícias e os ajustes necessários
07/01 - A retomada virá em 2017
16/12 - Melhoria do ambiente de negócios
09/12 - Pressupostos da recuperação da economia
02/12 - A volta da instabilidade política
25/11 - Crise política: persistente pedra no caminho de nossa recuperação econômica
18/11 - Crise é mais profunda do que se imaginava
11/11 - Endividamento: freio à retomada do crescimento
04/11 - O risco Trump
28/10 - Conter gastos públicos é necessário para a retomada econômica
21/10 - Por que os juros não caíram mais?
14/10 - Repatriação e investimentos: reforços no caixa
07/10 - PEC dos gastos e as reformas necessárias
30/09 - O Brasil e o ranking de competitividade econômica
23/09 - Avanços e riscos de um novo modelo de ensino médio
16/09 - O primeiro pacote de concessões
09/09 - O IDEB e os impactos na economia
18/08 - Dívida dos Estados e a necessidade de superar as ineficiências institucionais
05/08 - A queda da inflação e a revisão dos juros
29/07 - Déficit nas contas públicas: solução passa por investimentos e exportações
22/07 - Mudança na SELIC terá que vir acompanhada de medidas fiscais
15/07 - Precisamos aproveitar o cenário favorável
08/07 - Respeito às restrições do orçamento é imprescindível para alcançar meta fiscal
01/07 - O elemento central para a retomada da econonomia
24/06 - O "Brexit" como mais um desafio para a agenda internacional brasileira
17/06 - Sinais de confiança na retomada da economia
10/06 - Foco no cumprimento da meta de inflação
03/06 - No Caminho da austeridade
27/05 - Primeiras medidas evitam agravamento do quadro fiscal
20/05 - Controle das contas públicas e a eficiente gestão do gasto
13/05 - Competitividade, chave para retomada do crescimento
06/05 - A premissa da eficiência do gasto público
29/04 - O equilíbrio que se faz necessário nesse momento
22/04 - Os desafios do pós-Dilma
15/04 - Próximos dias darão o tom sobre as incertezas
08/04 - Um governo novo ou um "novo governo?
01/04 - FUTURO: Uma construção coletiva
24/03 - Não há saída sem a recuperação da confiança
18/03 - Destaques econômicos em segundo plano
11/03 - Os humores da política
04/03 - Efeitos da Lava Jato na economia
26/02 - Até que enfim, um sopro de positividade
19/02 - Programação Orçamentária e Financeira para 2016: cortes de gastos de R$ 24 bilhões