Para não aprofundar recessão e desemprego
Saiu o balanço das contas do governo federal (contas reunidas do Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) de março. O resultado aponta déficit primário (arrecadação do governo menos os gastos, exceto juros da dívida) de R$ 11,1 bilhões, o pior resultado para este mês desde o distante ano de 1997. Assim, o trimestre de 2017 se encerra com impressionante rombo de R$ 18,3 bilhões, o maior já registrado para o período. Nos últimos 12 meses, o déficit está em R$ 156,5 bilhões, valor próximo a 2,5% do PIB do Brasil (para efeito de comparação, o PIB do Ceará corresponde a cerca de 2% do PIB do País).
Por outro lado, o desempenho das contas em março é resultado de dois comportamentos distintos: superávit no Tesouro Nacional (próximo a R$ 2 bilhões) e no Banco Central (R$ 35 milhões) e déficit de R$ 13,1 bilhões na Previdência Social. Ademais, enquanto a despesa caiu 3,5% nos últimos 12 meses, os gastos com Previdência crescerem impressionantes 7% nesse mesmo período. Naturalmente, para o equilíbrio das contas públicas, isso reafirma a necessidade de ajustes imediatos nas despesas relacionadas à Previdência Social.
Assim, neste momento, em que ocorrem greve geral e protestos contra a reforma da Previdência (prevista para ser votada na próxima semana, deve ter tramitação retardada em função das reações contrárias), é muito importante que seja feita a seguinte reflexão: quão deterioradas estarão as contas públicas em 2019, quando do início de um novo governo, se essa reforma não for aprovada?
Sob essa hipótese, ao menos três grandes efeitos negativos sobre o crescimento econômico devem ser citados:
- Não sendo possível conter o aumento das despesas previdenciárias, o governo, logicamente, teria que reduzir outros gastos, e isso certamente afetaria os investimentos. Na realidade, isso já vem ocorrendo: por exemplo, os gastos com obras de infraestrutura caíram 31% em apenas um ano.
- Para conter elevação de sua dívida, o governo teria que gerar receita compatível com o aumento da despesa, e um caminho para isso seria o do aumento de impostos, o que desestimularia a atividade produtiva.
- Como o desequilíbrio fiscal leva a mais endividamento, os efeitos seriam a alta dos juros e do risco de se investir no País.
Além da redução do investimento e do aumento de impostos e de juros, um outro ponto de atenção reside na necessidade de cumprimento da chamada meta fiscal. O governo prometeu economizar R$ 139 bilhões em 2017 para manter sua dívida sob controle, sem gerar inflação. Logicamente, sem a reforma da Previdência, será ainda mais difícil atingir essa meta, e, isso ocorrendo, o governo teria enormes dificuldades para financiar seus futuros déficits, uma vez que perderia credibilidade para dar garantias.
Portanto, ou faremos ajustes nas despesas, controlando as contas públicas, e isso exige mudanças na Previdência, ou teremos cenário de baixo crescimento, com juros altos e com dívida explosiva. Em resumo, sem as reformas, aprofundaremos essa conjuntura de recessão e desemprego.
Confira as edições anteriores da Análise Econômica Semanal:
20/04 - Reformas trabalhista e tributária: para elevar a produtividade
13/04 - Corte nos juros e reforma trabalhista: avanços em tempos de tormenta política
31/03 - O orçamento mais rígido do mundo
24/03 - Mais eficiência e menos tributos: como resolver o rombo de R$ 58,2 bilhões
17/03 - Desafio: cumprir a meta fiscal sem aumento de impostos
10/03 - Retomada, mesmo que lenta e gradual: motivos para acreditar
03/03 - Os números e a realidade da Previdência
24/02 - Superávit das contas públicas em janeiro e a disposição para atingir a meta fiscal
17/02 - A retomada da confiança
10/02 - Monitorando os avanços
03/02 - Medidas microeconômicas do Banco Central melhoram ambiente de negócios
27/01 - Sinais positivos
20/01 - O potencial de crescimento e os seus riscos
13/01 - As boas notícias e os ajustes necessários
07/01 - A retomada virá em 2017
16/12 - Melhoria do ambiente de negócios
09/12 - Pressupostos da recuperação da economia
02/12 - A volta da instabilidade política
25/11 - Crise política: persistente pedra no caminho de nossa recuperação econômica
18/11 - Crise é mais profunda do que se imaginava
11/11 - Endividamento: freio à retomada do crescimento
04/11 - O risco Trump
28/10 - Conter gastos públicos é necessário para a retomada econômica
21/10 - Por que os juros não caíram mais?
14/10 - Repatriação e investimentos: reforços no caixa
07/10 - PEC dos gastos e as reformas necessárias
30/09 - O Brasil e o ranking de competitividade econômica
23/09 - Avanços e riscos de um novo modelo de ensino médio
16/09 - O primeiro pacote de concessões
09/09 - O IDEB e os impactos na economia
18/08 - Dívida dos Estados e a necessidade de superar as ineficiências institucionais
05/08 - A queda da inflação e a revisão dos juros
29/07 - Déficit nas contas públicas: solução passa por investimentos e exportações
22/07 - Mudança na SELIC terá que vir acompanhada de medidas fiscais
15/07 - Precisamos aproveitar o cenário favorável
08/07 - Respeito às restrições do orçamento é imprescindível para alcançar meta fiscal
01/07 - O elemento central para a retomada da econonomia
24/06 - O "Brexit" como mais um desafio para a agenda internacional brasileira
17/06 - Sinais de confiança na retomada da economia
10/06 - Foco no cumprimento da meta de inflação
03/06 - No Caminho da austeridade
27/05 - Primeiras medidas evitam agravamento do quadro fiscal
20/05 - Controle das contas públicas e a eficiente gestão do gasto
13/05 - Competitividade, chave para retomada do crescimento
06/05 - A premissa da eficiência do gasto público
29/04 - O equilíbrio que se faz necessário nesse momento
22/04 - Os desafios do pós-Dilma
15/04 - Próximos dias darão o tom sobre as incertezas
08/04 - Um governo novo ou um "novo governo?
01/04 - FUTURO: Uma construção coletiva
24/03 - Não há saída sem a recuperação da confiança
18/03 - Destaques econômicos em segundo plano
11/03 - Os humores da política
04/03 - Efeitos da Lava Jato na economia
26/02 - Até que enfim, um sopro de positividade
19/02 - Programação Orçamentária e Financeira para 2016: cortes de gastos de R$ 24 bilhões