Corte nos juros e reforma trabalhista: avanços em tempos de tormenta política
Corte nos juros e reforma trabalhista: avanços em tempos de tormenta política
Confirmando as expectativas de mercado, o Banco Central cortou a taxa Selic em um ponto percentual, determinando, agora, 11,25% ao ano. Trata-se de uma intensificação do ritmo de queda dos juros (os cortes em janeiro e fevereiro haviam sido de 0,75 pp, cada), o maior desde 2009, inclusive. A próxima reunião do Conselho de Política Monetária (COPOM) será em maio, e a expectativa é de que essa tendência se mantenha, havendo dúvida apenas sobre o tamanho da nova redução, o qual dependerá do comportamento da inflação, da atividade econômica e da aprovação da reforma da Previdência.
Sobre isso, valem algumas reflexões:
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Inflação: sob controle, projeta-se IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) próximo de 4,1% ao final deste ano e de 4,5% em 2018. Ou seja, em ambos os casos, atingindo a meta definida pelo governo. Portanto, o comportamento da inflação pesa a favor da redução dos juros.
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Atividade Econômica: infelizmente, não está reagindo como se desejava, mesmo com o desempenho positivo do setor agrícola. No geral, ainda é muito alto o nível de ociosidade. Por isso, espera-se um crescimento de apenas 0,5% neste primeiro semestre, e de algo próximo a 1% na segunda parte do ano. Esse fraco desempenho, por outro lado, também favorece a queda da Selic. Uma reflexão adicional é a de que o desafio do governo, nesse caso, é buscar políticas macroeconômicas que contribuam para o aumento da margem de lucros das empresas, notadamente as da indústria manufatureira, pois este é o único caminho para uma elevação significativa dos investimentos.
- Aprovação da Reforma da Previdência: fundamental para um alívio das contas públicas a longo prazo, o que significa uma expressiva redução do risco de o Brasil ficar insolvente (não conseguir pagar suas dívidas), estimulando, naturalmente, a ampliação dos investimentos, essa aprovação fica mais distante no atual quadro de enorme instabilidade política, causado pela divulgação das delações dos executivos da Odebrecht. Assim, é nítido que os ruídos políticos pesam contra a economia como um todo, incluindo, obviamente, o ritmo de redução dos juros.
Crise política à parte, um importante avanço é a proposta de reforma trabalhista, apresentada nesta quinta-feira, na Câmara, pelo seu relator, o deputado Rogério Marinho. As relações de trabalho no Brasil são um dos grandes entraves à competitividade, pois são regidas por um sistema defasado, rígido e juridicamente inseguro. O proposto pelo governo contribui para modernizar a regulação e ampliar a negociação coletiva entre trabalhadores e empregadores, favorecendo a redução de encargos e incentivando novos investimentos e contratações.
Isso é particularmente importante em uma conjuntura com mais de 13 milhões de desempregados e, ainda, uma demonstração de que podemos avançar institucionalmente, mesmo diante de um profundamente desalentador quadro político.
Ponto a ponto da reforma trabalhista
Os principais tópicos da proposta de Rogério Marinho
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Altera o artigo 8º da CLT para reduzir o poder de interferência da Justiça Trabalhista sobre acordos coletivos e sua capacidade de interpretar a CLT: Tribunais não poderão formar jurisprudência que crie obrigações. não previstas na lei e balização sua atualão "pelo princípio da intervenção mínima na autonomia da vontade coletiva".
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Reduz o número de pessoas que podem ter acesso à Justiça gratuita, alterando o critério de renda exigido.
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Endurece regras contra os trabalhadores no artigo 884 da CLT: ele perderá a ação e arcará com as custas caso não compareça à audiência; atualmente essa norma vale para o representante da empresa.
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Outro parágrafo no art. 884 estipula que o trabalhador somente poderá entrar novamente na Justiça Trabalhista se pagar as custas dos processos nesses casos.
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Aumenta para 30 horas a jornada em regime de tempo parcial; atualmente, uma empresa só pode contratar um funcionário em tempo parcial, com remuneração proporcional, se ele trabalhar no máximo 25 horas semanais.
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Determina que, caso uma empresa seja vendida, a compradora será a responsável por eventuais passivos trabalhistas.
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Estipula um limite para valor das indenizações por dano moral e existencial dentro das relações trabalhistas.
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Estipula multa de 1% a 10% do valor corrigido da causa contra o chamado "litigante de má fé", ou seja, entrar com uma ação que o juiz considere sem fundamento.
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Altera o art. 59 da CLT para determinar o aumento do piso da remuneração da hora extra de 20% para 50% da hora normal trabalhada.
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Cria o art. 59-B, que prevê a criação do regime 12 horas trabalhadas por 36 horas de descanso, "mediante acordo individual escrito, convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho".
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Regulariza o trabalho fora das dependências da empresa, com vínculo empregatício. A modalidade foi chamada por ele de "teletrabalho" e consta no art. 75-A, criado na proposta.
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Possibilita o parcelamento de férias anuais em até três períodos, sendo que um deles não pode ser inferior a 14 dias corridos. Atualmente, elas podem ser divididas em duas vezes, com uma não menor do que dez dias corridos.
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Permite que a gestante ou lactante trabalhe em lugares insalubres com um atestado médico que garanta que isso não oferecerá risco à saúde.
- Estipula multa de R$ 3.000 por funcionário não registrado, contra os atuais R$ 402. A proposta original do governo propunha multa de R$ 6.000.
Fonte: Valor Econômico (13/04/2017)
Confira as edições anteriores da Análise Econômica Semanal:
07/04 - Corte nos juros e reforma trabalhista: avanços em tempos de tormenta política
31/03 - O orçamento mais rígido do mundo
24/03 - Mais eficiência e menos tributos: como resolver o rombo de R$ 58,2 bilhões
17/03 - Desafio: cumprir a meta fiscal sem aumento de impostos
10/03 - Retomada, mesmo que lenta e gradual: motivos para acreditar
03/03 - Os números e a realidade da Previdência
24/02 - Superávit das contas públicas em janeiro e a disposição para atingir a meta fiscal
17/02 - A retomada da confiança
10/02 - Monitorando os avanços
03/02 - Medidas microeconômicas do Banco Central melhoram ambiente de negócios
27/01 - Sinais positivos
20/01 - O potencial de crescimento e os seus riscos
13/01 - As boas notícias e os ajustes necessários
07/01 - A retomada virá em 2017
16/12 - Melhoria do ambiente de negócios
09/12 - Pressupostos da recuperação da economia
02/12 - A volta da instabilidade política
25/11 - Crise política: persistente pedra no caminho de nossa recuperação econômica
18/11 - Crise é mais profunda do que se imaginava
11/11 - Endividamento: freio à retomada do crescimento
04/11 - O risco Trump
28/10 - Conter gastos públicos é necessário para a retomada econômica
21/10 - Por que os juros não caíram mais?
14/10 - Repatriação e investimentos: reforços no caixa
07/10 - PEC dos gastos e as reformas necessárias
30/09 - O Brasil e o ranking de competitividade econômica
23/09 - Avanços e riscos de um novo modelo de ensino médio
16/09 - O primeiro pacote de concessões
09/09 - O IDEB e os impactos na economia
18/08 - Dívida dos Estados e a necessidade de superar as ineficiências institucionais
05/08 - A queda da inflação e a revisão dos juros
29/07 - Déficit nas contas públicas: solução passa por investimentos e exportações
22/07 - Mudança na SELIC terá que vir acompanhada de medidas fiscais
15/07 - Precisamos aproveitar o cenário favorável
08/07 - Respeito às restrições do orçamento é imprescindível para alcançar meta fiscal
01/07 - O elemento central para a retomada da econonomia
24/06 - O "Brexit" como mais um desafio para a agenda internacional brasileira
17/06 - Sinais de confiança na retomada da economia
10/06 - Foco no cumprimento da meta de inflação
03/06 - No Caminho da austeridade
27/05 - Primeiras medidas evitam agravamento do quadro fiscal
20/05 - Controle das contas públicas e a eficiente gestão do gasto
13/05 - Competitividade, chave para retomada do crescimento
06/05 - A premissa da eficiência do gasto público
29/04 - O equilíbrio que se faz necessário nesse momento
22/04 - Os desafios do pós-Dilma
15/04 - Próximos dias darão o tom sobre as incertezas
08/04 - Um governo novo ou um "novo governo?
01/04 - FUTURO: Uma construção coletiva
24/03 - Não há saída sem a recuperação da confiança
18/03 - Destaques econômicos em segundo plano
11/03 - Os humores da política
04/03 - Efeitos da Lava Jato na economia
26/02 - Até que enfim, um sopro de positividade
19/02 - Programação Orçamentária e Financeira para 2016: cortes de gastos de R$ 24 bilhões