UFC, Unifor e FIEC desenvolvem capacete de respiração assistida para tratamento de pacientes da covid-19
Com a pouca disponibilidade de respiradores mecânicos nas unidades de saúde diante do crescimento acelerado de novos casos da covid-19, é cada vez mais imperativo alterativas para o tratamento dos pacientes. Diante disso, a Universidade Federal do Ceará (UFC), a Universidade de Fortaleza (Unifor) e a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), por meio do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI Ceará), estão desenvolvendo um projeto em conjunto para a fabricação de capacetes de respiração mecânica. A iniciativa conta com o apoio da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) e da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP).
A grande vantagem do equipamento, além de desafogar a demanda pelos respiradores, é que utiliza um mecanismo de respiração artificial não invasivo, ou seja, o paciente não precisa ser intubado. Segundo estimativas do grupo desenvolvedor, o capacete reduziria em até 60% o avanço das dificuldades respiratórias dos pacientes, reduzindo o tempo de hospitalização. De acordo com o Rodrigo Porto, pró-reitor-adjunto de Pesquisa e Pós-Graduação da UFC, o capacete se destinaria aos pacientes de leve e intermediária gravidades. "É uma alternativa, pode fazer com que muitos casos não evoluam para um nível de gravidade que necessite do respirador", esclarece.
O projeto técnico para a fabricação dos capacetes foi elaborado conjuntamente por UFC, Unifor e SENAI Ceará a partir de entendimentos com a equipe de saúde do Governo do Estado que está à frente do combate ao novo coronavírus. A ideia veio de um modelo (helmet) já adotado na Europa que tem alcançado bons resultados. "A experiência dos capacetes na Itália reduziu a necessidade de respiradores na base de 60%; estamos trabalhando com a ideia de 50% aqui", afirmou o reitor da UFC, Cândido Albuquerque.
A elaboração de um protótipo do capacete coube ao SENAI Ceará. Ele será apresentado em videoconferência na manhã desta sexta-feira (17/4) com a participação de representantes das universidades, do Grupo Edson Queiroz, FIEC e SENAI Ceará. À tarde, os testes do novo equipamento terão início na Unifor. A expectativa é de que já na próxima semana o capacete possa ser validado para a fabricação de modelos definitivos, dando início à produção de até 1 mil exemplares do capacete, a fim de que seja repassado aos hospitais públicos no menor tempo possível.
De acordo com o gerente de inovação do SENAI Ceará, Tarcísio Bastos, o capacete tem base em prolipropileno, a abóboda é feita em PVC transparente e a lapela de pescoço (colar) em látex. "O nosso principal desafio tecnológico foi o fornecedor do látex", pontua. O protótipo do capacete está sendo desenvolvido no Instituto SENAI de Tecnologia em Eletrometalmecânica, em Maracanaú. "Nessa iniciativa, o SENAI esteve envolvido na elaboração do projeto técnico, no desenvolvimento e construção do protótipo, na busca de parceiros industriais para a produção de alguns componentes e também participa dos testes de estanqueidade que serão realizados na Unifor. O SENAI tem atuado fortemente na busca de soluções tecnológicas de forma a contribuir com a sociedade nessa luta contra o novo coronavírus", ressalta.
O capacete, que está sendo batizado de Elmo, vai prover apoio respiratório não-invasivo aos pacientes, mantendo a segurança das equipes de saúde. Estima-se que os capacetes sejam produzidos pela indústria local utilizando os insumos disponíveis no estado.
A Universidade de Fortaleza participa da iniciativa em três frentes de atuação: no projeto das peças do capacete, nos testes de validação do protótipo e na integração das ações com as empresas do Grupo Edson Queiroz. Pesquisadores da Diretoria de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Unifor integram o grupo de concepção do projeto, que utilizará as instalações do Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI) para os testes do protótipo, a partir dos manequins usados no curso de Medicina.
“O mais relevante, nesse momento tão importante de combate à covid-19, é a integração da academia, governo e indústria no desenvolvimento de uma tecnologia que vai ajudar no tratamento dos pacientes”, destaca o professor Vasco Furtado, diretor da Diretoria de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Unifor.
RESPIRADORES ‒ Em outra frente para suprir a falta de respiradores mecânicos nos hospitais do Estado, em outra parceria entre UFC, o Instituto Federal do Ceará (IFCE), FIEC/SENAI, com financiamento da Funcap, quatro aparelhos desativados por tecnologia obsoleta foram restaurados e já voltaram a ser utilizados pelo Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), unidade do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará vinculada à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH).
Até o fim de abril, outros 15 respiradores também voltarão a entrar em funcionamento no HUWC, após trabalho de manutenção na unidade do SENAI localizada no bairro Jacarecanga, na Capital, onde se dá parte das atividades da Central de Ventiladores Mecânicos e Equipamentos Respiratórios (CVMER), instância vinculada à SESA e cuja coordenação técnica é do médico Marcelo Alcântara Holanda, professor da Faculdade de Medicina da UFC e superintendente da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP).
Na unidade do SENAI, a parceria entre as instituições abrange a participação de cerca de 40 profissionais, entre engenheiros, médicos, fisioterapeutas, técnicos, pesquisadores e estudantes. Esse grupo multidisciplinar se divide em três estações: recepção ou triagem, onde ocorre a desinfecção dos respiradores e se descobre qual defeito cada aparelho apresenta; manutenção, onde acontece o conserto propriamente dito, como a troca de peças danificadas; e certificação ou calibragem, quando o equipamento restaurado passa por testes de qualidade conforme padrões exigidos de segurança e operacionalidade.
Para viabilizar a parceria, segundo o pró-reitor-adjunto de Pesquisa e Pós-Graduação da UFC, Rodrigo Porto, a universidade "entra com o seu capital intelectual e a sua competência técnica, aplicados de maneira rápida e decisiva nesse momento importante em que todos precisamos somar esforços para a superação dessa crise. E assim os equipamentos voltam em [boas] condições para as UTIs [Unidade de Tratamento Intensivo] dos hospitais", explicou o professor.
Até o dia 15 de abril, a CVMER já havia consertado 10 respiradores mecânicos, de 38 recebidos de diversos hospitais de Fortaleza e municípios do Interior, como Caucaia, Baturité, Iguatu, Itapipoca e Quixadá. Ao todo, serão 30 aparelhos a serem restaurados oriundos do Complexo Hospitalar da UFC, que emprestou 11 deles para hospitais gerenciados pelo sistema de saúde estadual e que estão com tratamento de pacientes com covid-19.
"Essa parceria entre UFC e FIEC é muito elogiável. O professor Cândido, nosso reitor, foi quem nos procurou para saber se o Complexo Hospitalar tinha respiradores em condições de conserto e passíveis de cessão para a rede pública de saúde estadual", afirmou Carlos Augusto Alencar Júnior, superintendente do Complexo Hospitalar da UFC/EBSERH.
PROTETORES FACIAIS ‒ A parceria entre a UFC e a FIEC, através do SENAI, também resultou na doação de 400 protetores faciais para os profissionais que atuam no Complexo Hospitalar da UFC/EBSERH. Os equipamentos de proteção individual foram entregues pelo gerente do Instituto SENAI de Tecnologia, João Luís Giffoni, à gerente administrativa do complexo, Eugenie Desirée Rabelo Neri Viana, na última terça-feira (14/4).
Os equipamentos são laváveis e poderão ser reutilizados pelos profissionais envolvidos em procedimentos que geram aerossóis (micropartículas de água e ar que se depositam sobre superfícies), como intubação e coleta de swab (cotonete estéril que retira secreções de mucosas para análise laboratorial). "Recebemos como uma dose de solidariedade e atenção. Essa proteção é essencial para a segurança dos nossos profissionais", disse Eugenie Viana.