Especialistas das Rotas Estratégicas começam a traçar futuro do setor de biotecnologia
Especialistas do poder público, empresários e meio acadêmico estão reunidos hoje e amanhã (21 e 22/9), na Casa da Indústria, para discutir o setor de biotecnologia no Ceará. Por meio do Projeto Rotas Estratégicas, a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) tem a proposta de iniciar a construção coletiva das visões de futuro dos setores e áreas industriais promissoras para o estado até 2025. Os participantes debatem sobre a situação atual do setor, produtos, processos, técnicas disponíveis, mercados, capacidades, dentre outros aspectos. As Rotas Estratégicas fazem parte do Programa para Desenvolvimento da Indústria.
O assessor técnico da diretoria da FIEC e economista, Guilherme Muchale, abriu o evento apresentando estudo socioeconômico do setor. “Biotecnologia não é formalmente um setor econômico cearense. Apresentamos as informações e estamos abertos a receber atualizações sobre o setor das pessoas que lidam com isso todos os dias, que estão no campo”. Segundo o estudo, no Brasil há 903 empresas de biotecnologia. Nos Estados Unidos, são mais de 11 mil. Há forte participação das pequenas empresas. Cerca de 550 têm menos de 50 trabalhadores. Quanto a participação do setor nos investimentos em P&D, Suíça, Dinamarca e Israel lideram. A área da biotecnologia que mais tem investimentos na maioria dos eventos é de saúde, com destaque para Inglaterra.
No Brasil, quase 80% das empresas estão em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. O Ceará participa com 2% das empresas. No Nordeste, são 426 cursos de graduação, pós-graduação e grupos de pesquisa, o que corresponde a 21% do total no país. No Sudeste, são 934, equivalente a 45%. No Ceará, foram identificados 44 cursos de graduação, entre 23 de licenciatura e 21 de bacharelado, espalhados em vários municípios cearenses, sendo 15 em Fortaleza, 5 em Quixadá e 5 em Sobral.
Quanto às patentes, 3% são depositadas no Brasil, 15% na China e 14% nos Estados Unidos. Em termos de patentes concedidas, apenas 0,2% são geradas no país, o que demonstra que outros países e organizações depositam no Brasil seus pedidos de patente. Em 1995, foram 37 patentes concedidas no setor e em 2015, 5393. No Brasil, esse comparativo não é constantemente crescente. Em 1995, foram 16 e, em 2015, 140, com pico de quase 500 em 2009 e 2010. As áreas mais comuns são biotecnologia, produtos farmacêuticos, química de alimentos e química fina orgânica.
Biotecnologia
Na última década, a biotecnologia ganhou mais destaque no Brasil com a criação, em 2007, de uma política nacional com o propósito de tornar o país um dos líderes na área. A ideia é acelerar o crescimento econômico por meio do desenvolvimento da biotecnologia em quatro segmentos: saúde humana, agropecuária, industrial e ambiental. Na avaliação de especialistas, é um passo importante, mas ainda há muito a avançar. Condições naturais não faltam ao Brasil para atingir essa meta.
O país possui um quinto da biodiversidade mundial, com cerca 200 mil espécies de plantas, animais e microrganismos. O Ceará, por sua vez, conta com a caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, com clima e biodiversidade únicos no mundo. Isso sem mencionar a biodiversidade marinha da costa cearense, ainda pouco explorada. Para tirar melhor proveito desse potencial, o Brasil e o Ceará requerem recursos humanos qualificados, marcos legais e investimentos que viabilizem a criação de ferramentas capazes de transformar o conhecimento acumulado nas universidades em produção industrial.
Atualmente, especialistas tem usado com mais frequência o termo bioeconomia, que é a utilização da biotecnologia para promover o desenvolvimento da economia de uma região. Acredita-se que a bioeconomia é a quarta onda tecnológica na evolução da humanidade. Há estimativas de que, em 2030, a biotecnologia vai contribuir para a criação de 80% dos novos medicamentos, 35% da produção química, 50% da produção do setor primário, num total de 2,7% do PIB dos países ligados à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), algo em torno de 1 trilhão de dólares.