SESI Parangaba recebe Setembro Amarelo
O Serviço Social da Indústria (SESI/CE) realizou na manhã de hoje (14), na unidade Parangaba, mais uma palestra da campanha “Setembro Amarelo – Sua vida vale ouro”, com o psicólogo e coach Márcio Vaz. A colaboradora da empresa Expresso Guanabara, Kamila Sousa, participou do evento junto com outras 70 pessoas. “A palestra foi de muito aprendizado, nos fez pensar o quanto somos capazes de ajudar o outro e de como devemos ter uma visão positiva da vida”, afirmou ela.
A vida de Márcio Vaz mudou depois que ele sofreu um acidente durante um mergulho em água rasas, que o deixou para sempre tetraplégico.
Confira a entrevista realizada com o psicólogo.
Vamos começar falando um pouco sobre a sua história, mais especificamente sobre o momento em que você percebeu que não conseguiria voltar a andar. Você disse que passou 10 anos vivendo uma rotina de tédio e marasmo. Hoje, qual a sua avaliação sobre esse tempo de dificuldades?
- No início o baque foi enorme, mas nunca perdi a vontade de viver. Sempre acreditei que ainda teria muito o que fazer, além de ter que cuidar do meu pai que tem uma doença degenerativa e já dependia de mim. Nesse sentido, eu tinha um significado e um propósito pelos quais precisava continuar. No meu caso, o fato de não andar tornou-se pequeno, diante a severa realidade de não mexer nem se quer os braços, pois perdi total autonomia, como a da simples ação de me coçar. Ser 100% dependente dos outros, foi minha maior batalha, porém, ao mesmo tempo, a maior lição, porque tive que aprender a lidar com as pessoas em seus limites e diferenças. No que diz respeito aos 10 anos em que fiquei parado, dois fatores foram determinantes: 1º - A minha crença limitante de não acreditar que uma pessoa que só mexesse a cabeça pudesse agregar valor no mercado de trabalho; 2º - Certa zona de conforto que uma reserva financeira nos dava. No entanto, quando meu pai enfartou e a adversidade aumentou, pois descobri que estávamos falidos, decidi que era chegada a hora de acordar para vida e mudar nossa realidade. Foi então que, motivado pela dor, dei a volta por cima, transformando a minha rotina e adquirindo qualidade de vida. Hoje, avalio que os tempos de dificuldades foram necessários para eu me tornar quem sou atualmente. Os 10 anos parados comprovam que nuca é tarde para recomeçar e que cada um desperta ao seu tempo e de acordo com a sua vontade, necessidade ou oportunidade.
O meu grande diferencial hoje, no universo das palestras, é provar que, quando mudamos a nossa forma de pensar, adquirimos novos comportamentos que são capazes de superar grandes desafios. Pensar positivo e acreditar nas possibilidades, faz toda a diferença na hora de agir.
Por vezes, os familiares e amigos de alguém que está passando por um grande problema ou uma tristeza profunda ficam sem saber como proceder. Pela sua experiência, o que você diria para essas pessoas? Como elas podem ajudar?
- Primeiramente, devemos compreender que não existe um padrão ou fórmula exata de como se deve proceder. Cada caso é um caso, por se tratar da subjetividade humana e de contextos biopsicossociais diferentes. O mais importante é agir com amor, paciência e respeito, entendendo que uma boa comunicação pode trazer melhores respostas de como se deve agir. Perguntar se a pessoa QUER ajuda e COMO pode ajudá-la, é um bom começo. Saber ouvir com atenção e falar coisas positivas, torna-se igualmente uma boa opção. No mais, devemos agir com bom senso, não invadindo demais o espaço e tempo de cada ser em sofrimento, mas também não desistindo e abandonando o indivíduo, por achar que não tem mais jeito. Acredito que não há má fase que perdure para sempre. Aos poucos e na medida “certa”, se é que existe, vamos dosando cada proceder e avaliando os resultados.
Na palestra, você disse que o que mudou foi a sua forma de pensar. Mas sabemos que isso não é algo que acontece do dia para a noite. Que conselhos você daria para quem quer ser uma pessoa diferente, mas não sabe por onde começar?
Por mais óbvio que pareça, a melhor forma de começar, é começando. As pessoas tendem a procrastinar suas ações, deixando tudo para depois, todavia, esse depois, pode ser amanhã, semana que vem ou nunca. Na maioria das vezes adiamos nossas decisões por dois motivos: medo e/ou comodismo. No que se refere ao medo, uma hora teremos que enfrentá-lo se quisermos alcançar nossos objetivos. Ou corremos o enorme risco de viver por viver sem sonhar e prover. Temos que lembrar que é a nossa felicidade ou a de quem amamos que está em jogo, logo, agir com coragem, não é ter perdido o medo, mas sim, mesmo com medo seguir em frente em prol de um bem maior, a realização dos nossos sonhos. Quanto ao comodismo, o pensamento só muda, quando a dor relacionada ao que sofremos ou não temos, torna-se maior do que a dor da nossa mudança de comportamento. Eu, na minha trajetória, fui motivado pela dor da necessidade, mas, se pudesse aconselhar, diria para cada um sair da sua zona de conforto movido pelo amor, ou seja, uma intensa vontade de transformar a sua realidade para viver com dignidade e de acordo com as suas possibilidades que são infinitas. Posso lhes dizer que, mudar a nossa forma de pensar e agir, não é uma tarefa fácil, porém, possível, uma vez que eu estou aqui. Por isso, procure ter propósito de vida e dê um significado positivo para o que estiver passando, pois assim, sempre irá tirar um aprendizado seja qual for a situação.
Você é psicólogo, então eu gostaria de saber quais são as indicações profissionais para quem, efetivamente, tem um pensamento suicida?
- O ideal seria um acompanhamento interdisciplinar, em que vários profissionais da saúde poderiam intervir com seu saber de acordo com a demanda de cada paciente. No entanto, torna-se imprescindível, passar inicialmente por um psiquiatra que irá entrar com medicamentos para combater quimicamente o ímpeto desse pensamento e comportamento (efeito) e por um psicólogo que irá fazer seu acompanhamento semanal para trabalhar a causa do sofrimento.
Como você se sente em participar de uma campanha como o Setembro Amarelo? Qual a importância de falar sobre esse tabu?
- Para mim é um privilégio e uma honra participar dessa campanha, pois ela está alinhada à minha missão e propósito, que é de transformar outras vidas à medida que me transformo e me torno exemplo de superação das adversidades e de satisfação pelo que nos é dado e somos capazes de realizar independentemente das circunstâncias.
Vejo o tema e a campanha como de extrema relevância, por se tratar de um assunto pouco levantado e debatido, mas de consequências trágicas e cada vez mais recorrentes e alarmantes. Vivemos hoje em um mundo sem fronteiras, tecnologicamente conectado, mas de pouco contato ou sensibilidade humana, o que nos gera um grande vazio existencial. Vivemos pelo Ter, logo temos mais informações e possibilidades, porém, permanecemos insatisfeitos com o que temos. Discutir sobre o suicídio e as causas que o disseminam, chama a atenção da sociedade para um problema silencioso cujas ações preventivas podem evitar maiores danos.