Mudança na SELIC terá que vir acompanhada de medidas fiscais
Mesmo diante da mais profunda recessão econômica brasileira – em magnitude, comparável apenas aos períodos de 1930 a 1931, e de 1981 a 1983 -, os juros permanecem altos. Na quarta-feira, o COPOM (Comitê de Política Monetária) decidiu manter a taxa SELIC em 14,25% ao ano, e isso se deveu especialmente ao comportamento da inflação, que apenas começou a cair nos últimos meses. Por causa disso, inclusive, não há espaço para redução dos juros em agosto, como esperado por parte do mercado. Porém, segue projetado corte de 0,5 ponto percentual em outubro, com a SELIC terminando o ano em 13,25% e sendo reduzida para 11,25% em 2017.
É justificável esse espaço para redução dos juros. Em primeiro lugar, pela inflação em queda – dados divulgados pelo IBGE indicam que os preços devem continuar caindo. Apesar da inflação de julho estar acima das projeções (feijão e leite, com respectivas altas no ano de 58,06% e 15,54%, foram os destaques negativos), as estimativas apontam para desaceleração nos preços de alimentos e bebidas nos próximos meses. Em segundo, pela desvalorização do câmbio e do ajustamento dos chamados preços administrados (são aqueles estabelecidos por contratos e não pela lei de oferta e demanda. Exemplos: serviços telefônicos, planos de saúde, gasolina, eletricidade, taxa de água e esgoto, IPVA, IPTU, entre outros). Em terceiro, pelo aumento recente da confiança, que reduz as incertezas, deixando sob maior controle as expectativas dos agentes econômicos. E, finalmente, pela enorme ociosidade econômica atual, que abre uma possibilidade natural de recuperação.
Mas, para que a redução da SELIC ocorra, será necessário avanço nas medidas fiscais, notadamente no êxito do projeto que limita a expansão dos gastos da União pela inflação do ano anterior e, ainda, nas mudanças nas regras de aposentadoria. Para se entender a gravidade do problema em relação a previdência, nos 12 meses acumulados até maio deste ano, os benefícios previdenciários responderam por 38% da despesa primária da União.
Portanto, mesmo com o contexto atual de recessão e juros altos, tem-se um provável cenário futuro de diminuição da SELIC, motivado, fundamentalmente, pela menor inflação, maior confiança e sucesso da política fiscal. Obviamente, juros menores devem ser sempre buscados, pois são imprescindíveis para a elevação dos investimentos.
Confira as edições anteriores da Análise Econômica Semanal:
15/07 - Precisamos aproveitar o cenário favorável
08/07 - Respeito às restrições do orçamento é imprescindível para alcançar meta fiscal
01/07 - O elemento central para a retomada da econonomia
24/06 - O "Brexit" como mais um desafio para a agenda internacional brasileira
17/06 - Sinais de confiança na retomada da economia
10/06 - Foco no cumprimento da meta de inflação
03/06 - No Caminho da austeridade
27/05 - Primeiras medidas evitam agravamento do quadro fiscal
20/05 - Controle das contas públicas e a eficiente gestão do gasto
13/05 - Competitividade, chave para retomada do crescimento
06/05 - A premissa da eficiência do gasto público
29/04 - O equilíbrio que se faz necessário nesse momento
22/04 - Os desafios do pós-Dilma
15/04 - Próximos dias darão o tom sobre as incertezas
08/04 - Um governo novo ou um "novo governo?
01/04 - FUTURO: Uma construção coletiva
24/03 - Não há saída sem a recuperação da confiança
18/03 - Destaques econômicos em segundo plano
11/03 - Os humores da política
04/03 - Efeitos da Lava Jato na economia
26/02 - Até que enfim, um sopro de positividade
19/02 - Programação Orçamentária e Financeira para 2016: cortes de gastos de R$ 24 bilhões