FIEC articula resposta com maiores exportadores cearenses para mitigar impacto de nova tarifa dos EUA
Diante do anúncio feito pelo governo dos Estados Unidos, que prevê a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto, a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) reuniu, na tarde desta quinta-feira (24/07), os maiores exportadores cearenses ligados a setores diretamente impactados pela medida para discutir possíveis soluções conjuntas. A iniciativa visa compreender os efeitos da medida sobre a indústria local e elaborar uma proposta estruturada a ser encaminhada aos governos estadual e federal.
A reunião foi conduzida pelo Presidente da FIEC, Ricardo Cavalcante, que defendeu uma abordagem colaborativa e orientada por dados, capaz de gerar respostas práticas para o setor produtivo. Segundo ele, o momento exige união das cadeias afetadas e inteligência estratégica para lidar com os impactos.
O encontro contou com a presença de representantes de sindicatos industriais e de importantes grupos exportadores. Estiveram presentes o Diretor Financeiro da FIEC e Presidente do Sindcarnaúba, Edgar Gadelha; o Presidente do Sindicato das Indústrias de Mármores e Granitos do Estado do Ceará (Simagran), Carlos Rubens Alencar; o Primeiro Secretário do Sindifrios, Paulo Gonçalves; e o Presidente do Sindicato das Indústrias de Calçados, Bolsas, Cintos, Luvas e Material de Segurança e Medicina do Trabalho de Sobral (Sincal) e do Sindicato das Indústrias de Calçados de Fortaleza (SindCalf), André Luís Pinto, assim como a Gerente do Centro Internacional de Negócios (CIN), Karina Frota.
Também participaram os executivos Jorge Oliveira (CEO da ArcelorMittal América Latina); Paulo Wanick (CFO da da ArcelorMittal América Latina), Erick Torres (CEO da ArcelorMittal Pecém), as lideranças empresariais Gerardo Azevedo (Carnaúba do Brasil), Marcelo Matos (Aeris), Guilherme Assis (Usibras), Marcos Strada (Grendene), Adriano Thielke (Finoagro – Grupo Vicunha), Luis Mendes (Rimo Mastrotto) e Felipe Gurgel (Duramental).
“Precisamos expor aqui a situação e encontrar soluções para mitigar os efeitos das tarifas que os EUA querem impor na importação dos produtos brasileiros. Entendo que cada setor vai sofrer de uma forma diferente e, por isso, precisamos de soluções diferentes, mas nós precisamos juntar as cadeias produtivas afetadas e olhar a nível de estado o que pode ser feito. Precisamos entender as necessidades de cada negócio, mas levar uma proposta conjunta para discutir com os governos do Ceará e federal, mostrando a nossa preocupação com os impactos não só financeiros, mas também sobre os empregos”, afirmou Ricardo Cavalcante.
O Presidente da FIEC ressaltou ainda a importância do trabalho desenvolvido pelo Observatório da Indústria Ceará, centro de inteligência da FIEC, que reúne dados e análises estratégicas sobre o setor industrial. Para ele, as ferramentas do Observatório podem orientar os empresários na identificação de novos mercados, no mapeamento de insumos alternativos e no planejamento de rotas de exportação mais seguras. “O Observatório da Indústria Ceará consegue mapear dados de cada setor em tempo real, ajudando as empresas na prospecção e ampliação de novos mercados, podendo indicar possíveis caminhos a seguir”, destacou.
Exportações cearenses aos EUA mantêm protagonismo, mas com alta concentração no aço
Durante a reunião, o Economista-chefe da FIEC e Gerente do Observatório da Indústria Ceará, Guilherme Muchale, apresentou um panorama da relação comercial entre Brasil e Estados Unidos, com foco especial no desempenho do Ceará. Os dados do Observatório da Indústria, em parceria com o CIN, mostram que, mesmo com a perda de protagonismo dos EUA na pauta exportadora brasileira nas últimas décadas, o Ceará preserva laços econômicos consistentes com o país norte-americano.
No primeiro semestre de 2025, o estado exportou cerca de US$ 556,7 milhões aos Estados Unidos, o segundo maior volume já registrado na série histórica iniciada em 1997. Atualmente, mais da metade das exportações cearenses (51,9%) tem os EUA como destino, percentual que coloca o Ceará como líder nacional em participação proporcional no comércio bilateral. No conjunto do Brasil, os Estados Unidos respondem por apenas 12,1% das exportações totais.
Esse protagonismo, contudo, está fortemente concentrado. Mais de 76% das exportações do Ceará para os EUA correspondem a produtos semimanufaturados de aço, como placas e ligas metálicas. Outros itens relevantes, embora com menor peso na pauta, incluem peixes congelados, sucos e castanha de caju. Essa dependência da cadeia do aço torna a indústria local particularmente vulnerável a alterações tarifárias, como as que estão sendo anunciadas pelo governo dos EUA.
Federação defende articulação diplomática e soluções orientadas por dados
Durante a reunião, foram discutidas diversas frentes de atuação para enfrentar o novo cenário. A defesa da via diplomática com os Estados Unidos foi apontada como essencial para evitar o agravamento das barreiras comerciais. Ao mesmo tempo, foi destacada a importância de fortalecer estratégias de diversificação de mercados e de origem de insumos, medida já adotada por setores como couro e calçados.
Outro ponto destacado foi o uso dos dados produzidos pela FIEC como base para mostrar que as tarifas impostas aos produtos brasileiros também afetam negativamente indústrias americanas que dependem, por exemplo, do aço semiacabado do Brasil.
A proposta debatida ao final do encontro é construir uma agenda de resposta articulada, que envolva os governos estadual e federal e leve em consideração as particularidades de cada setor. A FIEC e a Confederação Nacional das Indústrias (CNI), segundo Cavalcante, já atuam para intensificar esse diálogo institucional, com o apoio técnico das suas áreas econômicas e de comércio exterior.
Mesmo diante da ausência de uma ordem executiva formalizada pelo governo dos EUA, e da consequente incerteza sobre a aplicação efetiva da nova tarifa, a Federação decidiu agir desde já, promovendo escuta ativa com o setor produtivo e antecipando estratégias de reação.