Regulação do hidrogênio verde, ESG e mercado de carbono norteiam as palestras finais do FIEC Summit 2024
Chegando ao fim de sua terceira edição, o FIEC Summit trouxe para as palestras de encerramento da programação três temas que estão no centro das discussões atuais sobre a transição energética: a regulação do hidrogênio verde, as práticas ESG e o mercado de carbono.
Com o gancho factual da recente aprovação do marco legal do hidrogênio de baixa emissão de carbono no Brasil, o painel “Regulação e certificação nacional e mundial do Hidrogênio Verde” reuniu Ricardo Gedra, gerente de Análise e Informações na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE); Tudor Constantinescu, assessor principal da Diretoria Geral de Energia da União Europeia; e Roulien Paiva Vieira, diretor de Sustentabilidade e Investimentos Verdes da Magna Capital.
O painel contou com mediação de Monica Panik, consultora internacional da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), e focou neste que é, na visão de Monica, “um dos mais importantes temas a serem discutidos no setor de hidrogênio verde”.
Representando a empresa responsável pelo lançamento da primeira certificação de hidrogênio no mercado brasileiro, Ricardo Gedra trouxe ao público as principais novidades quanto à certificação de H2V no contexto doméstico e de exportação, ressaltando uma novidade trazida pela CCEE: a possibilidade de que as empresas obtenham uma pré-certificação de hidrogênio.
De acordo com Gedra, essa pré-certificação surge como uma opção para as empresas que querem validar seus projetos com hidrogênio verde, mas que ainda estão em fases iniciais de implementação. O período até que esse mercado esteja de fato estabelecido pode se estender por anos, então garantir a pré-certificação pode trazer mais segurança e diferencial nesse processo.
Tudor Constantinescu participou remotamente da palestra e explicou o cenário da União Europeia quanto à política de hidrogênio verde. De acordo com o especialista, o hidrogênio de baixo carbono caminha para tornar-se uma commodity mundial, e a política europeia vem avançando em consonância a isso nos últimos anos.
“Nós precisamos de hidrogênio para tudo que está vindo. A União Europeia tem a meta de incluir 43% de combustíveis de origem não-biológica na indústria e 1% no transporte até 2030. [...] Buscamos implementar um mercado de hidrogênio eficiente, trazendo ele de locais onde está sendo produzido para países aqui da Europa”, contou.
Para além do contexto europeu, Roulien Paiva Vieira ressaltou que o Brasil não pode deixar de olhar para outros mercados na construção da cadeia de hidrogênio de baixo carbono, especialmente para os países integrantes do BRICS — incluindo as seis nações que passaram a compor o bloco neste ano. “É interessante conhecermos quem são os nossos parceiros e onde eles estão porque vamos ter que conversar com eles. Temos apoiadores nos BRICS com os quais vale muito a pena trabalhar também”, assegurou.
Os resultados do ESG no Ceará
O segundo painel da tarde desta terça-feira trouxe os casos de sucesso de três empresas certificadas pelo Núcleo ESG-FIEC: Durametal, Qair Brasil e Cerbras. Sob a orientação do programa, as três empresas conseguiram o “triple A”, classificação máxima da certificação nas três categorias que compõem o ESG: meio ambiente, social e governança.
Gustavo Silva, diretor de operações da Qair Brasil; Camila Freitas, supervisora de Meio Ambiente da Cerbras; e Victor Praça, diretor industrial da Durametal; sob a mediação de Alcilea Farias, coordenadora do Núcleo ESG da FIEC, ressaltaram a certificação como um diferencial em seus negócios, tanto para empresas com iniciativas incipientes nesta pauta quanto para aquelas que já possuíam políticas socioambientais mais robustas.
Camila Freitas destacou que, para a Cerbras, “o selo veio para chancelar boas práticas”. A supervisora endossou a ideia de que é preciso garantir “um mundo que possa ser vivido e não só sobrevivido pelas várias gerações que estão por vir”, e que adotar práticas ESG é um passo importante rumo a essa meta.
Mercado de carbono – e de hidrogênio
O último painel do FIEC Summit 2024, que contou com mediação de Laiz Hérida, fundadora e CEO da HL Soluções Ambientais, trouxe para o centro das discussões o mercado de carbono, dando ênfase a como o hidrogênio verde pode passar a integrar essa cadeia. Fernando Giachini Lopes, diretor-executivo e fundador do Instituto Totum, destacou o papel dos créditos de carbono como uma solução viável e imediata para as empresas enquanto a produção de hidrogênio verde se estabelece.
“Não tem hidrogênio ainda. As plantas ainda vão se estabelecer, então talvez em 2029, 2030, é que vamos ter o hidrogênio verde de fato. E nesse período que não tem hidrogênio, o que eu posso fazer se minha indústria é uma grande consumidora de gás? [...] O mercado de carbono é uma opção”, ressaltou.
Fabiano Machado, diretor da Apsis Carbon, trabalha com o mercado de carbono desde 2007 e vem acompanhando sua expansão no Brasil desde então. Em sua opinião, ainda existem muitas barreiras quanto aos investimentos em hidrogênio verde, sob o qual pairam incertezas. “Mas quanto mais barreira, melhor para o crédito de carbono, porque ele surge justamente para ajudar a superar essas barreiras”, assegurou.
Remotamente, Vicente Hurtado, head da Unidade de Mercado de Carbono, Tributação de Energia e Green Taxation na Comissão da União Europeia, apresentou o CBAM, o mecanismo de taxação de carbono aduaneiro para produtos exportados para a União Europeia. A política pretende igualar o preço do carbono pago por produtos de fora do território europeu a produtos internos.
Com previsão de implementação a partir de 2026, o CBAM exigirá que os exportadores consigam rastrear suas emissões de produção e declará-las, tornando produtos com menor emissão de carbono mais competitivos no mercado europeu.
Conclusão de um ciclo
Carlos Prado, 1º vice-presidente da FIEC, concluiu o FIEC Summit 2024 refletindo sobre a trajetória e o impacto do evento no Ceará. A primeira edição, realizada em 2022, discutiu o hidrogênio verde e as energias renováveis quando o tema ainda parecia distante da realidade. Hoje, ele pauta discussões sobre o futuro do estado e do país e se traduz também em concretização de investimentos.
“O primeiro evento foi como um sonho, tratando do tema sem que muitos acreditassem nele. O segundo já começou a mostrar algumas rotas a serem seguidas. E neste terceiro, a gente completa o ciclo a que se propôs a Federação das indústrias”, ressaltou.
Para dar continuidade a esse legado, o objetivo da FIEC é integrar cada vez mais a indústria nas discussões sobre transição energética e descarbonização, o que, segundo o 1º vice-presidente da Federação, pode se traduzir em um evento que congregue a interação industrial e o hidrogênio verde.
Fotos: Laura Guerreiro e George Lucas