FIEC Summit 2023: iniciativas do setor de energias renováveis e financiamento para projetos de H2V são destaques do primeiro dia de evento
As iniciativas do setor de energias renováveis no Ceará e as possibilidades de financiamento para projetos de hidrogênio verde (H2V) foram os destaques do primeiro dia de programação do FIEC Summit 2023. Iniciado nesta quarta-feira (25/10), o evento segue até a próxima quinta (26/10) com exposições, rodadas de negócio e palestras sobre a transição energética e matrizes de energia limpas, em especial o H2V.
As atividades foram abertas pelo Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), Ricardo Cavalcante, no painel “Investidores: iniciativas e empreendimentos no Ceará”, que teve a presença do CEO da Fortescue para o Brasil, Luis Viga; do Diretor de Regulação e Comercialização na Casa dos Ventos, Fernando Elias; do CEO ArcelorMittal Pecém, Erick Torres; do CEO da Aeris Energy, Alexandre Negrão; do Vice-Presidente da Vestas para Assuntos Institucionais e Governamentais na América Latina, Leonardo Euler de Morais; do Diretor de Negócios da LINDE/White Martins, Guilherme Ricci; do CEO da Qair Brasil, Jorge Borrell; e do Vice-Presidente de Assuntos Corporativos e Regulação da AES Brasil, Carlos Pompermaier.
A palestra apresentou a atuação de empresas produtoras de energias renováveis no Estado e ações desenvolvidas na indústria cearense com foco na descarbonização. Ricardo Cavalcante enalteceu os esforços do setor produtivo para implementar projetos envolvendo hidrogênio verde e outras fontes de energia sustentáveis, acrescentando a necessidade de incentivo por parte do poder público.
“O interesse do empresariado é total. Temos capacidade de fazer as mudanças que tanto o país precisa. Por isso tivemos a preocupação de estar aqui com as maiores empresas do planeta, que estão interessadas em vir para o Brasil e o Ceará, mas para isso precisam de regulamentação e que o Governo entenda que isso é a política do futuro”, ressaltou o Presidente da FIEC.
Em fase avançada de negociações, a Fortescue pode ser uma das primeiras empresas a produzir H2V no Ceará. Luis Viga, CEO da mineradora australiana no Brasil, afirmou que a planta de Hidrogênio Verde em implantação no Complexo Industrial do Porto do Pecém tem capacidade de gerar 2,1 GW e se posicionou a favor da cooperação para “destravar” os projetos em andamento no Estado.
“A Fortescue está se preparando para tomar liderança nessa indústria, tanto em tecnologia como em produção. Estamos desbravando, mas esperamos que outras grandes mineradoras venham junto e ajudem a criar uma ‘onda verde’. Temos que destravar os primeiros projetos para ficar mais barato para os outros e tornar mais fácil a reindustrialização do Brasil”, disse o CEO.
A união de esforços entre empresas também foi citada por Guilherme Ricci, da LINDE/White Martins, que parabenizou a FIEC pela iniciativa de agregar diferentes segmentos no evento e “plantar a semente do Hidrogênio Verde nas indústrias”. “Um passo fundamental para implementar a cultura do hidrogênio é a colaboração. Várias entidades e associações, como a FIEC, já estão na liderança de informar e trazer conhecimento sobre hidrogênio, e percebemos, nos vários países onde atuamos, que o começo vai vir muito com a colaboração entre empresas”.
CEO da Qair Brasil, Jorge Borrell destacou a importância da ação de gestores públicos e privados no Ceará para transformar o Estado em referência na produção de Hidrogênio Verde.
“Se a gestão é ágil, as coisas dão certo. Sol e vento tem em todo canto, mas esse movimento da FIEC e do Governo fizeram com que todo o mundo conheça o Ceará. Eles enxergaram a oportunidade e começaram a trabalhar para trazer as empresas para cá”.
Já Fernando Elias, da Casa dos Ventos, falou sobre o trabalho da empresa em energias renováveis, destacando a posição estratégica do Estado no mercado. “O Ceará está próximo da Europa e tem ZPE, que é fundamental, além de toda uma estrutura pronta. Mas precisamos de incentivos e chamo atenção para a questão da transmissão. Temos que começar hoje. Essa é uma oportunidade que pode ser transformadora para o Brasil”.
Representando a fabricante de pás eólicas Aeris, Alexandre Negrão também defendeu a criação de incentivos para o segmento. “Precisamos do compromisso do Governo para que a energia eólica continue crescendo. Temos visto os Estados Unidos e a União Europeia colocando muito capital nas renováveis e na descarbonização. O Brasil, infelizmente, tem feito um movimento contrário, então corremos risco de ficar para trás nessa história”.
Ainda na indústria de energia eólica, o Vice-Presidente da Vestas para Assuntos Institucionais e Governamentais na América Latina, Leonardo Euler de Morais, afirmou que o setor é um “porto seguro para que seja alcançada a neoindustralização baseada em economia verde”, parabenizando os esforços do Ceará para colocar a pauta no centro das políticas públicas.
“A transição energética é, indiscutivelmente, um dos principais desafios, mas isso também representa oportunidade de industrialização, geração de renda e inclusão, que é o que estamos buscando”, disse o Vice-Presidente. “A América Latina e o Brasil têm posição destacada, com condições bastante favoráveis, mas não é suficiente. Precisamos de incentivos, de marcos regulatórios e de mecanismos criativos para incentivar a demanda e aproveitar esse potencial”, completou.
Com foco na descarbonização, a ArcelorMittal Pecém apresentou o plano da empresa para reduzir as emissões de CO2, cuja meta é atingir a neutralidade de carbono em suas plantas até 2050. Para isso, algumas das ações realizadas são reuso de água e aumento da utilização de sucatas.
O CEO Erick Torres também aproveitou a oportunidade para defender que os projetos de produção de hidrogênio verde no Ceará priorizem o mercado interno antes da exportação. “Não vamos produzir hidrogênio para tirar do Ceará antes de usá-lo aqui na nossa indústria. Temos que consumir aqui, e a ArcelorMittal não vai abrir mão disso”, pontuou.
Para Carlos Pompermaier, Vice-Presidente de Assuntos Corporativos e Regulação da AES Brasil, que trabalha na implantação de uma planta de produção de amônia verde no Porto do Pecém, a principal mensagem da empresa no FIEC Summit é a necessidade de esforços conjuntos para que o Brasil seja protagonista na geração de energias renováveis.
“Estamos diante de desafios como competitividade, financiamento e incentivos, que exigem não só que o empresariado, mas toda a sociedade e governo atuem como indutor. Sem esse trabalho conjunto, talvez a gente não decole. Precisamos de esforços em todos os níveis”.
O painel sobre as iniciativas em energias renováveis no Ceará foi seguido por apresentação do empresário indiano Hitendra Patel, fundador e CEO do IXL - Center for Innovation, Excellence and Leadership. Patel abordou a visão global sobre a cadeia do Hidrogênio Verde, listando oportunidades de negócio geradas a partir da produção do combustível do futuro em segmentos diversos, como transporte e infraestrutura.
“Se sua organização está prestando atenção no hidrogênio verde, seu negócio vai crescer. Você tem que perguntar onde está a oportunidade para o seu setor, mas ela tem janela limitada. Temos que começar a pensar nisso agora, no que fazer para concretizar, e temos que agir”.
O último painel do dia debateu certificação e projetos de financiamentos para o H2V e teve a participação de do Diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha do Rio de Janeiro, Ansgar Pinkowski; do Economista-Chefe e Assessor Especial da Presidência do Banco do Nordeste, Luis Alberto Esteves; do Analista de Informações ao Mercado Pleno da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, Gabriel Legramanti Ramos; e do Economista Sênior de Energia do Banco Mundial, Carlos Antonio Costa.
“Um projeto de hidrogênio precisa ser competitivo e atender regras de certificação para realmente ser chamado de verde. Só assim vai conseguir o devido financiamento”, destacou Ansgar Pinkowski.
Gabriel Legramanti Ramos, que também atua no time de desenvolvimento da Certificação de Hidrogênio Verde no Brasil, explicou que o maior obstáculo para chegar a um modelo de certificação é adequar a realidade de outros países que já possuem regras para a produção do H2V à realidade nacional.
“Um dos principais desafios é interpretar as regras europeias e adaptar à nossa realidade, porque nosso mercado de energia é diferente e tem muitas particularidades oriundas do nosso país”.
Segundo o Economista-Chefe e Assessor Especial da Presidência do Banco do Nordeste, Luis Alberto Esteves, a certificação será item obrigatório para a concessão de recursos a projetos de geração de Hidrogênio Verde.
“O BNB tem feito um empenho muito grande em aportar recursos em projetos de renováveis. Mas mesmo com todo esse dinheiro, não damos conta da demanda que aparece. A fila é longa,então chega o momento em que ter certificação é obrigatoriedade, porque na hora de selecionar projetos, vamos buscar aqueles com menor risco”.
Por fim, o Economista Sênior de Energia do Banco Mundial, Carlos Antonio Costa, afirmou que o financiamento de projetos de hidrogênio é uma “caminhada a longo prazo”. “O primeiro passo foi dado no Nordeste. Começamos a trabalhar com o BNB e não vamos parar até que todas essas operações sejam aprovadas no Brasil por investidores do Banco Mundial”.