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[REVISTA DA FIEC] Edson Queiroz Neto - "O valor da experiência só se aprende com o tempo"

09/04/2019 - 15h04

                                                                                                                                                                                                                         

A  ausência  do  avô,  referência  maior  dos  Queiroz, todavia, não impediu ao neto a convivência familiar cheia de simbologias e respeito à memória de Edson Queiroz.  “As  famílias  da  minha  mãe  e  do  meu  pai eram muito grandes. Da minha avó, seis filhos; e do meu avô, 10”. No total, eram 33 primos e as relações dominicais constantes, com eles e tios.

Já aos sábados, diz Edson Neto, a lembrança das manhãs com  o  pai  em  casa,  no  jardim,  na  piscina,  mas  essencialmente  caseira.  A  rotina  de  casa  manteve-se  até  a  mudança  para  o  exterior,  aos  13  anos.  A  transferência  para Genebra, na Suiça, fez com que essa relação fosse transformada literalmente. Se no começo, quando criança, a  mãe  era  mais  presente,  pois  o  pai  tinha  que  assumir funções estratégicas nas empresas, no exterior, os dois se revezavam neste acompanhamento.

Em Genebra, o primeiro grande salto em termos de crescimento pessoal para o adolescente Edson Neto. “No exterior, eu tive que ficar só. Foram três anos em colégio interno, mas uma experiência riquíssima. Para se ter ideia, as salas eram  limitadas  a  22  ou  23  alunos  de  19  nacionalidades  diferentes. Essa riqueza cultural me ensinou muito”.

A ida para o exterior foi uma escolha dos pais para que Edson  Neto  passasse  a  conhecer  mais  o  mundo  desde cedo.  O  contraste  com  a  vida  que  levava  no  Brasil  não poderia ser diferente. “O primeiro ano foi de adaptação”, ressalta.  Depois,  com  a  chegada  de  um  primo,  os  dois foram para um colégio internato, apesar de a mãe dele e a minha estarem morando em Genebra.

Depois de um ano, a mãe e irmã voltaram para o Brasil e um ano e meio após, foi a vez do primo também retornar. Edson Neto, então, passou a ficar só novamente.  Desta vez, porém, o tempo de adaptação já havia sido superado e as amizades e conhecimentos adquiridos o levaram a não sentir tanto a falta dos parentes com os quais conviveu na infância.

Até  o  retorno  para  o  Brasil,  o  adolescente  Edson  Neto confessa  que  não  possuía  uma  dimensão precisa do que  representava  o  conglomerado  de  empresas  que compunham  o  grupo  Edson  Queiroz.  “Sabia  que  eram 
algumas  empresas,  mas  essa  dimensão  exata  fugia  da minha compreensão mais clara”, afirma.

A curiosidade, no entanto, sempre foi uma característica do jovem Edson Neto, que logo na volta ao país começou a se interessar pelas coisas do grupo. “Eu sempre fui muito curioso. Pela minha mãe, eu seguiria mecatrônica, porque vivia desmontando as coisas. Dizem que meu avô era um pouco assim. Ele tinha um laboratório de fotografia e vivia mexendo nas coisas por lá”, destaca.

A  veia  curiosa  que  poderia  indicar  o  caminho  para  a área  da  mecatrônica,  todavia,  não  se confirmou. “Meu pai queria que eu cursasse a faculdade de Direito. Mas acabei fazendo o curso de Administração. Foi um meio termo,  acho  que  fui  político.  Depois  acabei  cursando  Direito também”, destaca.

O tempo mostrou que a escolha se fez acertada por Edson Neto. “A Administração me conquistou pela capacidade de poder aliar o que é muito abstrato com o que é concreto. Mas eu só fui ter a certeza da escolha certa ao longo do curso. Vi com o tempo que isso seria complementar ao  que eu pretendia para minha vida”, diz.

O  aprendizado  adquirido  no  curso  de  Administração  na Unifor ofereceu a Edson Neto a capacidade de aliar o abstrato ao concreto. Mas a entrada nas empresas do grupo representou outra forma de compreender a realidade da vida. “Construí minha carreira nas empresas começando como trainee. Todos os membros da família que entraram no grupo entraram como trainee. Era um direcionamento”.

O primeiro posto se deu na área de compras e suprimentos. “Não fui eu que escolhi, mas foi uma experiência maravilhosa”. Como ele mesmo gosta de dizer, “minha função era uma espécie de curinga. Eu era um tira-férias. Quando estava me adaptando, ai saía para outra função”. A partir dessa experiência, Edson Neto vivenciou vários momentos das fábricas, desde o funcionamento a adaptações. “E foi aí que caiu a ficha. Vi como o grupo era grande”.

Foi  aí  também,  na  prática,  que  Edson  Neto  sentiu  que a diferença por ser filho do chanceler Airton Queiroz se media  por  uma  cobrança  maior.  Cobrança  que  já  havia sentido ainda mesmo quando estudante na Unifor. “Para você  ter  uma  ideia,  uma  professora  me  reprovou  duas vezes na mesma cadeira. E ela tinha razão para fazer isso”.

Hoje, diz ele, esses momentos foram importantes para que descobrisse que na sua trajetória não haveria espaço para  privilégios.  “Nem  na  Unifor  e  nem  nas  empresas. Meus  pais  me  cobravam  e  me  repreenderam, tiraram o carro. Então essas punições educativas eu tive como qualquer jovem de uma família que preza pela disciplina e a formação do caráter”.

Nesse  sentido,  menciona  a  avó,  Yolanda  Queiroz,  por possuir um jeito peculiar de lidar com esse tipo de coisa. “Ela era tinha um modo bem especial de cobrar as coisas. “Lembro  bem,  que  uma  vez,  eu  fiz  uma  apresentação bonita, power  point,  certo  de  que  estava  abafando  na apresentação, e ao final ela me deu um beijo e disse: meu filho, vamos aguardar os resultados”.

Após o começo na área de compras, o passo seguinte foi o  departamento  de  auditória.  “Foi  o  meu  mestrado. Ali eu comecei a fazer auditoria em todos os processos do grupo. Foi um período difícil, pois passava 30 dias viajando, voltava, havia 10 dias para montar um relatório, e depois passava mais 45 dias pelas unidades da empresa no país.

Durante  três  anos,  Edson  Neto  conheceu  por  meio  do departamento de auditoria, todos os processos de gestão que compõem o conglomerado de empresas do grupo, vindo  a  ser  o  gerente  deste  setor.  Até  que  em  2004, assumiu a superintendência administrativa da Nacional Gás Butano, com apenas 28 anos de idade.

A nova missão não refreou a extensa agenda de viagens, pois eram mais de 20 unidades sob a sua administração espalhadas pelo país. “Foi também um período muito difícil, mas de forte aprendizagem pessoal e profissional. Eu tinha ao mesmo tempo que aliar a imaturidade e a ousadia de questionar as coisas de uma empresa de sucesso”.

A junção da ousadia e o pouco tempo de experiência deixaram como lição a compreensão de que “a realidade não é muitas vezes aquilo que está a nossa frente. Aprendi a não ser tão intempestivo nas coisas, deixando que aconteçam algumas  vezes  a  seu  tempo.  Meu  pai  me  ajudou  muito nesse  período e  agora  percebo que ele  não me  dava as respostas, mas toques para eu perceber os detalhes. Era um pouco do que a minha avô tentava me passar também”.

Sobre esse momento de sua vida, Edson remonta ao pai, que  lhe  dizia  sempre:  “Respeite  os  cabelos  brancos. E agora eu entendo que o valor da experiência a gente só aprende com o tempo”. É nesse sentido, que admite ser a solidão um dos principais riscos à boa gestão. “Você só sabe o valor da solidão de estar à frente de uma empresa quando não há ninguém para lhe confrontar”.

Com  relação  a  esta  condição,  Edson  Neto  destaca  que “tomar uma decisão é sempre uma experiência solitária. E esse é o problema, porque quando você está só na tomada de decisão, é aquela história de precisar combinar antes  com  os  adversários”.  Foi  neste  momento,  como gestor, que ele se viu pela primeira vez exposto ao mercado, já que antes a experiência tinha sido toda interna.

Mas  Edson  não  se  fez  de  rogado.  “Pude  me  conhecer melhor, quase um jogo de xadrez de mercado”. Na solidão das  decisões,  o  pai  quase  sempre  era  o  porto  seguro. “Eu recorria ao doutor Airton, ao chefe. E ele foi sempre muito cauteloso. Não dizia o que fazer, mas ponderava as ideias. Era uma visão de gestão, sem comandar a empresa. Indicava balizamentos, mas não dizia o que devia ser feito. E aquilo me dava confiança. Era uma forma de me preparar para a vida, porque quando você dá a resposta pronta,  resolve-se  problema  mais  imediato,  mas  não  prepara para os grandes desafios”.

Edson é o sexto neto de quinze de Yolanda Queiroz. Dela, a orientação sempre foi mais de moral do que de gestão. “Era mais ou menos querendo me dizer que eu era o verdadeiro responsável”. Dessa relação mais fora da empresa, impossível não ter como não ser influenciado pelo ambiente de casa. “Não tenho tanto os gostos refinados de meus pais. Mas a influência que eu tive deles, na minha vida pessoal, é que aprendi a me dedicar a certas coisas simples da vida.

Do  pai,  guarda  os  conselhos  de  ser  presente  em  casa, ficar mais com os filhos, com a esposa. “Isso me fez entender que temos que ter a importância do que fazemos aqui como reflexo nas pessoas. A arte de viver é a busca do equilíbrio entre os extremos. Ter a dimensão do lado profissional e o da família. O que vai ficar de mim é a minha família  e  o  trabalho  é  um  tijolo  que  você  vai  deixando. E eu entendo a família quase como uma religião”.

É essa percepção holística de Edson, pai de três filhos, o mais novo de um ano e meio, e o mais velho de 10 anos, que lhe permite se doar para além das questões profissionais. “Eu e minha esposa nos completamos dedicando parte do nosso tempo a ações sociais. Apesar disso, procuro ser o mais presente possível com os filhos. Sou daqueles que acompanho  na  escola.  Procuro  estar  sempre  com  eles nos finais de semana”.

No que diz respeito ao futuro, Edson Neto destaca que o  seu  caminho  será  garantir  a  continuidade  da  história  da família e do grupo empresarial. “Eu nunca pensei em não  trabalhar  no  grupo.  Entendo  que  me  foi  dada  uma  condição nessa vida, que foi ter nascido nessa família e entendo isso como missão e pretendo cumpri-la, porque ao fazer isso, sei que também estou contribuindo para a melhoria da sociedade”.

Atualmente, Edson Neto é o diretor de Administração-Estruturação do grupo Edson Queiroz e é superintendente do Sistema Verdes Mares. Em 2017, foi nomeado Chanceler da Universidade de Fortaleza (Unifor).

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