[REVISTA DA FIEC] Economia brasileira dá sinais de retomada
Desde o final de agosto, os números vêm dando conta da retomada da economia brasileira, com sinais técnicos de saída da recessão. O mercado se anima, os empresários voltam a ter confiança para planejar investimentos, as pessoas voltam a consumir com mais afinco. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 0,2% no 2º trimestre em relação ao 1º. Esse foi o segundo aumento consecutivo e confirma que a recuperação da economia está em curso.
Com o segundo resultado positivo, a dinâmica da recuperação ficou mais consistente. O economista da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), Guilherme Muchale, considera que a retomada está visível, principalmente nos primeiros números do segundo semestre. “O que não está tão claro é o ritmo dessa retomada. O principal é a sensação de que a economia está indo para o caminho certo e isso, em termos de confiança, tanto do consumidor quanto do investidor, é muito importante. A mudança de percepção do cenário ainda não é tão nítida por conta da instabilidade no campo político”, avalia.
O segundo aumento do PIB é explicado, em grande parte, pelo aumento do consumo das famílias e seus reflexos no comércio. Para a indústria, houve uma recuperação tímida mas não para todos os segmentos. As indústrias de transformação e extrativa registraram alta de 0,1% e 0.4%, respectivamente, no segundo trimestre. As indústrias da construção e de serviços industriais de utilidade pública (geração e transmissão de energia elétrica, saneamento, etc) mostraram queda, de 2% e 1,3%, respectivamente. O avanço do PIB estimulou o mercado e fez com que o Ibovespa chegasse aos 72 mil pontos, maior patamar alcançado desde novembro de 2010, quando registrou 72.109 pontos. Ao mesmo tempo, a taxa de desemprego no Brasil caiu de 13% no trimestre encerrado em abril para 12,8% no trimestre encerrado em julho. De acordo com o IBGE, foi o segundo nível mais baixo do ano, ficando atrás apenas dos 12,6% de janeiro.
Em julho, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, foram criadas 35.900 empregos com carteira assinada. A melhora é tímida mas é uma luz no fim do túnel. De janeiro a julho deste ano, foram abertos 103.258 postos formais. Em 2016, no mesmo período, houve fechamento de 623.520 vagas.
De acordo com o Informe Conjuntural da Confederação Nacional da Indústria (CNI), referente a julho e setembro, a recuperação do mercado de trabalho tem sido mais intensa que a esperada. De acordo com a CNI, o cenário deve melhorar com a Reforma Trabalhista, em novembro, que deve motivar o aumento das contratações temporárias já no final do ano.
A inflação é outro fator que está gerando otimismo e confiança. Para a CNI, é um processo de “desinflação”, que tem surpreendido os agentes econômicos por sua duração e intensidade. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou, em setembro, variação de 2,5% no acumulado em 12 meses. A previsão da CNI é que o índice deve encerrar 2017 em 3,1%, abaixo da meta de 4,5% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional para este ano.
Segundo especialistas, em 2018 o ritmo de recuperação econômica será mais intenso, com efeitos positivos e duradouros no mercado de trabalho. Os dados de produção física da indústria do Brasil e do Ceará estão crescendo 1,5%. A produção industrial do Brasil e Ceará começam a crescer a taxas próximas de 4% quando comparadas ao mesmo período do ano passado.
INTERNACIONALIZAR O CEARÁ
A retomada da economia pode ser ainda melhor percebida no Ceará. Equilibrado financeiramente, o estado tem implantado visão de longo prazo na economia e na sociedade. O Programa Ceará 2050 está sendo realizado na perspectiva de planejar políticas para os próximos 33 anos. Os frutos dessa visão ampliada já aparecem na forma de investimentos estrangeiros no estado.
A tríade de Hubs traz de forma inédita ao estado um montante importante de recursos e tecnologias. Quanto à logística portuária, a parceria entre os portos do Pecém e Roterdã, um memorando de entendimento foi assinado em março de 2017, na Holanda. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), a definição do modelo de negócio e apresentação do plano de execução deverá estar definido até dezembro.
No que diz respeito ao Hub aéreo, com a concessão do aeroporto Pinto Martins para a Fraport e a conquista do Hub da Air France/KLM/GOL, a capital cearense terá, por semana, três voos para Amsterdã e dois para Paris. Além disso, a GOL anunciou que reforçará a oferta de voos para quatro capitais do Norte e do Nordeste (Recife, Salvador, Belém e Manaus) e criará uma nova rota entre Fortaleza e Natal.
Consolidando o Hub de dados, a multinacional de telecomunicações Angola Cables lançou em agosto o cabo submarino de fibra ótica com previsão de chegada a Fortaleza em fevereiro de 2018, percorrendo 6.200 quilômetros pelo Oceano Atlântico. A Angola Cables está investindo cerca de US$300 milhões em projetos na capital cearense.
Além do cabo de fibra ótica South Atlantic Cable System (Sacs), a empresa constrói outra rede submarina, o sistema Monet, e um DataCenter localizado na Praia do Futuro. A perspectiva é de gerar cerca de 40 empregos diretos e 800 indiretos até 2030, segundo projeções da empresa, que estuda ampliar a atuação no Ceará, no CIPP, com empresas de manutenção dos cabos e serviços de telecomunicações.
Os investimentos e cooperações com empresas podem criar um diferencial, tanto em termos de ambiente de negócios quanto de aprendizado e convivência com outras culturas, na opinião de Muchale. Segundo ele, por mais que as notas do Ceará na educação básica tenham melhorado, a Educação é um tema a se manter sempre em perspectiva, buscando melhorar, porque é o que vai garantir, a longo prazo, o desenvolvimento do estado. “Esses parceiros que estão vindo para cá também vão visualizar o Ceará de maneira diferenciada e expandir ainda mais seus investimentos se houver capital humano formado pra isso e um ambiente de inovação que ajude”, analisa Muchale.
Esses investimentos, por mais estimulantes que sejam, não têm impacto tão forte na economia do que poderiam ter se aliados a um ambiente educacional e de capital humano para aproveitá-los e multiplicá-los. “Poderíamos conectar isso a uma série de oportunidades, dar o diferencial do tamanho que o Ceará precisa visto que há 100 anos temos a metade do PIB per capita do Brasil. Temos 4% da população e 2% da PIB. É como se cada cearense vivesse com metade da renda que o brasileiro vive. Ou seja, é um desafio muito grande e por isso temos que pensar grande dentro desses determinantes – educação e inovação – que sempre foram deixados de lado para que a gente possa usar esse momento diferenciado para agir de maneira diferenciada, sempre pensando no futuro”, conclui. Como exemplos de iniciativas que merecem destaque, continuidade e melhorias nessas áreas, Muchale aponta a expansão do ensino técnico e os editais de inovação.
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