A retomada da confiança
Confiança é algo fundamental para a teoria econômica, pois ajuda a entender ações futuras dos agentes, especialmente decisões sobre o quanto consumir (famílias) e investir (empresários). Por isso, costuma-se dizer que o resgate da confiança é o primeiro passo para a retomada do crescimento de uma economia, uma vez que percepções positivas contribuem para o aumento dos gastos e dos investimentos.
Claro que as decisões de consumidores e empresários dependem de muitos outros fatores, como a renda disponível e o nível de endividamento, mas monitorando a confiança é possível reduzir incertezas de curto prazo, e compreender melhor o cenário econômico atual e dos próximos meses. Deve haver, portanto, especial interesse na maneira como os agentes avaliam as condições econômicas atuais, como isso impacta a formação de suas expectativas e como estas contribuem para suas tomadas de decisões.
Por esta razão, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) mensura a confiança do empresário brasileiro por meio do ICEI (Índice de Confiança do Empresário Industrial), o qual é obtido por consultas diretas aos industriais. Os resultados apontam que o contexto é positivo – em fevereiro, o Índice está 3,1 pontos acima da linha que separa a confiança da falta de confiança (na metodologia, essa linha é de 50 pontos). Na comparação com fevereiro do ano passado, o crescimento é de expressivos 16,0 pontos. A indústria brasileira experimenta, assim, o maior nível de confiança desde janeiro de 2014.
Além disso, nota-se que esse cenário de projeções otimistas está disseminado entre os setores das indústrias extrativa, de transformação e da construção. Dos 32 setores presentes na pesquisa, apenas 7 ainda estão com falta de confiança e, mesmo assim, reduzindo a distância para a linha divisória a, no máximo, 4,1 pontos. Os resultados para o Ceará - obtidos pela FIEC, com a mesma metodologia da CNI - são semelhantes aos nacionais: ICEI igual a 53,2 pontos em fevereiro, 13,2 pontos acima do que fora observado neste mesmo mês em 2015, e com confiança alta também nos segmentos (Transformação (53,1) e Construção (53,5)).
Analisando a trajetória recente do ICEI, tanto para o Brasil quanto para o Ceará, nota-se confiança em alta desde julho do ano passado – apenas em dezembro, o índice oscilou negativamente -, deixando claros os sinais de uma recuperação do setor. Mas, por que, mesmo com a confiança em alta, ainda observamos condições atuais tão desfavoráveis? Afinal, a economia brasileira retraiu 3,6% em 2016, fazendo com que o nosso PIB retornasse ao nível de 2011, e o Ceará segue sofrendo os rebatimentos naturais dessa profunda recessão. Sobre isso, valem algumas reflexões.
O nível de confiança é determinado pela percepção do momento atual da economia e de expectativas para o futuro. Nem sempre, porém, evoluem da mesma maneira. Ou seja, mesmo que as condições atuais não sejam favoráveis, é possível que os agentes observem sinais de melhora, formando expectativas positivas para os próximos meses – isso é, precisamente, o que vem ocorrendo com a indústria, tanto local quanto nacional.
Portanto, mesmo que a economia ainda não esteja avançando do jeito que gostaríamos, é relevante observarmos que estamos superando um passado recente, no qual as expectativas batiam recordes de pessimismo e os indicadores de satisfação se encontravam em patamares muito inferiores. Claro que há incertezas sobre quando conseguiremos transformar projeções otimistas em concretas decisões de consumo e investimento. Mas, ao melhorarmos a confiança, já estamos dando os primeiros passos para isso.
Confira as edições anteriores da Análise Econômica Semanal:
10/02 - Monitorando os avanços
03/02 - Medidas microeconômicas do Banco Central melhoram ambiente de negócios
27/01 - Sinais positivos
20/01 - O potencial de crescimento e os seus riscos
13/01 - As boas notícias e os ajustes necessários
07/01 - A retomada virá em 2017
16/12 - Melhoria do ambiente de negócios
09/12 - Pressupostos da recuperação da economia
02/12 - A volta da instabilidade política
25/11 - Crise política: persistente pedra no caminho de nossa recuperação econômica
18/11 - Crise é mais profunda do que se imaginava
11/11 - Endividamento: freio à retomada do crescimento
04/11 - O risco Trump
28/10 - Conter gastos públicos é necessário para a retomada econômica
21/10 - Por que os juros não caíram mais?
14/10 - Repatriação e investimentos: reforços no caixa
07/10 - PEC dos gastos e as reformas necessárias
30/09 - O Brasil e o ranking de competitividade econômica
23/09 - Avanços e riscos de um novo modelo de ensino médio
16/09 - O primeiro pacote de concessões
09/09 - O IDEB e os impactos na economia
18/08 - Dívida dos Estados e a necessidade de superar as ineficiências institucionais
05/08 - A queda da inflação e a revisão dos juros
29/07 - Déficit nas contas públicas: solução passa por investimentos e exportações
22/07 - Mudança na SELIC terá que vir acompanhada de medidas fiscais
15/07 - Precisamos aproveitar o cenário favorável
08/07 - Respeito às restrições do orçamento é imprescindível para alcançar meta fiscal
01/07 - O elemento central para a retomada da econonomia
24/06 - O "Brexit" como mais um desafio para a agenda internacional brasileira
17/06 - Sinais de confiança na retomada da economia
10/06 - Foco no cumprimento da meta de inflação
03/06 - No Caminho da austeridade
27/05 - Primeiras medidas evitam agravamento do quadro fiscal
20/05 - Controle das contas públicas e a eficiente gestão do gasto
13/05 - Competitividade, chave para retomada do crescimento
06/05 - A premissa da eficiência do gasto público
29/04 - O equilíbrio que se faz necessário nesse momento
22/04 - Os desafios do pós-Dilma
15/04 - Próximos dias darão o tom sobre as incertezas
08/04 - Um governo novo ou um "novo governo?
01/04 - FUTURO: Uma construção coletiva
24/03 - Não há saída sem a recuperação da confiança
18/03 - Destaques econômicos em segundo plano
11/03 - Os humores da política
04/03 - Efeitos da Lava Jato na economia
26/02 - Até que enfim, um sopro de positividade
19/02 - Programação Orçamentária e Financeira para 2016: cortes de gastos de R$ 24 bilhões