O potencial de crescimento e os seus riscos
Na linha das expectativas de mercado, o Banco Central anunciou corte de 0,75 ponto na taxa básica de juros (SELIC), a qual está, agora, em 13% ao ano. A justificativa do Comitê de Política Monetária (Copom) para essa redução é a queda na inflação, que passou de 10,67% para 6,29% de 2015 para 2016, ficando abaixo da meta definida pelo governo, de 6,5%. Além disso, as projeções para 2017 são de continuação dessa desaceleração, com o IPCA devendo ficar muito próximo da meta para este ano, de 4,5%. Esse comportamento da inflação reflete o enorme sacrifício pelo qual o País passa há muito tempo.
Com a alta de preços sob controle, é provável que os juros fiquem abaixo de 10% até o final do ano, o que produzirá efeitos positivos como, dentre outros, a economia que o governo fará, estimada em mais de R$ 30 bilhões, apenas com a rolagem de títulos indexados pela Selic. Ou, ainda, os ajustes nas taxas de captação dos bancos – logo após o anúncio do Copom, Banco do Brasil e Bradesco, por exemplo, comunicaram reduções de juros em várias linhas de crédito, para pessoas físicas e jurídicas. Dessa forma, espera-se ampliação da oferta de crédito, o que é importante nesse contexto de retomada econômica.
Mais um ponto relevante é que, com juros reduzidos, ficam melhores as condições para empresas e famílias diminuírem seus níveis de endividamento, um dos mais expressivos problemas causados pela profunda recessão atual – em 2016, os pedidos de recuperação judicial aumentaram 51,2% no comércio, 48,5% nos serviços e 24,5% nas indústrias. Relativamente a isso, sobre a dívida das pessoas e empresas com o governo, foi lançado o Programa de Regularização Tributária (PRT), por meio da Medida Provisória 766, de 4 de janeiro de 2017. Trata-se de importante caminho para o equacionamento dos débitos tributários, reunindo condições melhores do que as presentes no programa anterior, intitulado Programa de Redução de Litígios Tributários (Prolelit).
Apesar disso, observa-se que o PRT necessita de ajustes, para correto alinhamento com as necessidades das empresas diante de conjuntura econômica muito adversa. Nessa direção, alterações ainda podem ser realizadas. Será possível apresentar sugestões de emendas à Medida Provisória 766, no período de 2 a 7 de fevereiro. Após isso, as emendas seguirão para as comissões e, posteriormente, para votação na Câmara dos Deputados e no Senado. Dessa forma, o PRT poderá incorporar diversos aperfeiçoamentos, como, por exemplo:
- Oferecer parcelamento baseado em percentual da receita brutas, e não com parcelas fixas, o qual sobrecarrega o fluxo de caixa das empresas.
- Reduzir multas, juros e encargos legais na consolidação dos débitos a serem regularizados.
- Substituir a Selic como indexador dos débitos e do parcelamento pela Taxa de Juros a Longo Prazo (TJLP).
- Unificar as diversas modalidades de parcelamentos previstas tanto no âmbito da RFB como da PGFN – o texto original diferencia esses casos.
Confira as edições anteriores da Análise Econômica Semanal:
13/1 - As boas notícias e os ajustes necessários
7/1 - A retomada virá em 2017
16/12 - Melhoria do ambiente de negócios
9/12 - Pressupostos da recuperação da economia
2/12 - A volta da instabilidade política
25/11 - Crise política: persistente pedra no caminho de nossa recuperação econômica
18/11 - Crise é mais profunda do que se imaginava
11/11 - Endividamento: freio à retomada do crescimento
4/11 - O risco Trump
28/10 - Conter gastos públicos é necessário para a retomada econômica
21/10 - Por que os juros não caíram mais?
14/10 - Repatriação e investimentos: reforços no caixa
7/10 - PEC dos gastos e as reformas necessárias
30/09 - O Brasil e o ranking de competitividade econômica
23/09 - Avanços e riscos de um novo modelo de ensino médio
16/09 - O primeiro pacote de concessões
09/09 - O IDEB e os impactos na economia
19/08 - Dívida dos Estados e a necessidade de superar as ineficiências institucionais
05/08 - A queda da inflação e a revisão dos juros
29/07 - Déficit nas contas públicas: solução passa por investimentos e exportações
22/07 - Mudança na SELIC terá que vir acompanhada de medidas fiscais
15/07 - Precisamos aproveitar o cenário favorável
08/07 - Respeito às restrições do orçamento é imprescindível para alcançar meta fiscal
01/07 - O elemento central para a retomada da econonomia
24/06 - O "Brexit" como mais um desafio para a agenda internacional brasileira
17/06 - Sinais de confiança na retomada da economia
10/06 - Foco no cumprimento da meta de inflação
03/06 - No Caminho da austeridade
27/05 - Primeiras medidas evitam agravamento do quadro fiscal
20/05 - Controle das contas públicas e a eficiente gestão do gasto
13/05 - Competitividade, chave para retomada do crescimento
06/05 - A premissa da eficiência do gasto público
29/04 - O equilíbrio que se faz necessário nesse momento
22/04 - Os desafios do pós-Dilma
15/04 - Próximos dias darão o tom sobre as incertezas
08/04 - Um governo novo ou um "novo governo?
01/04 - FUTURO: Uma construção coletiva
24/03 - Não há saída sem a recuperação da confiança
18/03 - Destaques econômicos em segundo plano
11/03 - Os humores da política
04/03 - Efeitos da Lava Jato na economia
26/02 - Até que enfim, um sopro de positividade
19/02 - Programação Orçamentária e Financeira para 2016: cortes de gastos de R$ 24 bilhões