A retomada virá em 2017
O ano de 2017, mesmo apresentando baixo crescimento na economia, deverá marcar o início de nossa recuperação econômica, com boas expectativas em termos da inflação convergindo para a meta desejada, o que permitirá uma queda mais acelerada dos juros, contribuindo para a redução do endividamento das famílias e das empresas, ampliando o crédito e impulsionando os investimentos. Ademais, é esperada uma excelente safra – crescimento de 15% -, o que favorecerá a agroindústria e os preços das commodities brasileiras. O câmbio, que deverá ficar estável, também ajudará a concretizar esse cenário.
O Difícil 2016
Nossa economia em 2016 ficou caracterizada pelos recordes de desemprego (12,1 milhões de pessoas) e de déficit nas contas públicas (R$ 170,5 bilhões), além da estagnação dos investimentos e de uma aguda crise fiscal de estados e municípios. A pior retração econômica da história do país (queda de 3,8% em 2015 e, esperada, de 3,5% em 2016) guarda, ainda, estreita relação com uma profunda instabilidade política, marcada por crise entre os poderes, impeachment da presidente Dilma Rousseff, além de acusações de corrupção contra dezenas de políticos, notadamente no escopo da Operação Lava-Jato. O saldo negativo do ano passado pode, ainda, ser atribuído às dificuldades de exercícios anteriores, cujas soluções que exigiam medidas concomitantes de ajuste fiscal e de política monetária nunca foram devidamente implementadas.
Sem previsão de aumento no consumo das famílias, nem nos gastos governamentais, e não tendo as exportações um volume suficiente de recursos para impedir a trajetória explosiva da dívida pública, a solução para a retomada da economia sempre esteve condicionada ao aumento dos investimentos, e era sabido que isso apenas ocorreria com a elevação da confiança dos diversos agentes. No ano passado, entretanto, a melhora nas perspectivas de mercado veio apenas com a mudança de governo.
Para corresponder a essas expectativas, as medidas do governo Temer têm procurado combater o desequilíbrio fiscal das contas públicas, a principal causa da atual crise. Para tanto, foi aprovada no Congresso uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que estabelece um teto para os gastos públicos (começa a vigorar em 2017, limitando a taxa de crescimento do orçamento federal à inflação do ano anterior) e encaminhada outra PEC para a reforma da Previdência Social, a mais relevante fonte das despesas governamentais. Além disso, para estimular a atividade produtiva, foi lançado o Programa de Sustentação dos Investimentos (PSI), o qual propõe às empresas a regularização de dívidas tributárias, previdenciárias e com o BNDES; estabeleceu-se, ainda, redução gradual da multa adicional de 10% do FGTS na demissão sem justa causa, além de garantir a divisão dos lucros desse fundo com os cotistas. A equipe econômica ainda determinou ações para simplificação no pagamento de obrigações (eSocial), redução da burocracia e designou mudanças relacionadas ao sistema financeiro.
Os efeitos dessas iniciativas ainda não puderam ser completamente absorvidos, afinal muitos deles são de médio/longo prazo, mas, mesmo que a superação da crise não seja uma realidade, um importante resultado positivo tem sido observado: o controle da inflação (o IPCA deverá ficar abaixo de 6,5%, teto da meta para 2016). Isso está, inclusive, permitindo corte nos juros de referência: a taxa SELIC, mantida em 14,25% ao ano desde julho de 2015, sofreu duas reduções consecutivas de 0,25 p.p. em outubro e novembro, fechando 2016 em 13,75%.
Assim, apesar do saldo ter sido negativo, o ano se encerra com uma desejável combinação de ajuste fiscal e redução dos juros, além de ações microeconômicas que deverão melhorar o ambiente de negócios, um dos mais significativos entraves à competitividade nacional. A retomada da economia, portanto, está encaminhada, e deverá ocorrer ainda em 2017.
Projeções para 2017
O crescimento em 2017 será baixo – as perspectivas estão em torno de 0,3% a 0,5% - e isso ocorrerá por causa da significativa herança ruim dos últimos anos e pelas dificuldades para realizar um ajuste fiscal mais amplo. A retomada, portanto, será lenta devido à profundidade da crise e, como consequência, o mercado de trabalho permanecerá em dificuldades, com a taxa de desemprego, hoje um pouco abaixo de 12%, podendo superar 13%.
Por outro lado, é muito provável que a inflação fique bem próxima da meta de 4,5%, o que permitirá uma aceleração do ritmo de cortes nos juros – a SELIC deverá passar dos atuais 13,75% para menos de 10% até dezembro. A economia, assim, ganhará força a partir do segundo semestre, uma vez que, naturalmente, juros menores irão contribuir para melhorar a situação financeira das famílias e das empresas (redução do endividamento e aumento do crédito), elevando as intenções de consumo e investimento. Outra boa perspectiva é na agroindústria, devido ao aumento da safra em torno de 15%, o que deverá elevar os preços das nossas commodities, especialmente com a esperada estabilidade cambial.
Dessa forma, o ano de 2017 deverá ficar marcado como o início da retomada do nosso crescimento, após a mais aguda crise de sua história. O maior risco a essa expectativa, entretanto, não estará no ambiente econômico. Caso a instabilidade política se intensifique poderá haver impacto negativo sobre o andamento das reformas no Congresso, comprometendo o ajuste fiscal e deteriorando a situação no longo prazo, além de muito provavelmente inviabilizar a limitação da expansão dos gastos. Os agravantes éticos, institucionais e, principalmente, políticos, são, de fato, as maiores ameaças à retomada econômica brasileira em 2017.
Confira as edições anteriores da Análise Econômica Semanal:
16/12 - Melhoria do ambiente de negócios
9/12 - Pressupostos da recuperação da economia
2/12 - A volta da instabilidade política
25/11 - Crise política: persistente pedra no caminho de nossa recuperação econômica
18/11 - Crise é mais profunda do que se imaginava
11/11 - Endividamento: freio à retomada do crescimento
4/11 - O risco Trump
28/10 - Conter gastos públicos é necessário para a retomada econômica
21/10 - Por que os juros não caíram mais?
14/10 - Repatriação e investimentos: reforços no caixa
7/10 - PEC dos gastos e as reformas necessárias
30/09 - O Brasil e o ranking de competitividade econômica
23/09 - Avanços e riscos de um novo modelo de ensino médio
16/09 - O primeiro pacote de concessões
09/09 - O IDEB e os impactos na economia
19/08 - Dívida dos Estados e a necessidade de superar as ineficiências institucionais
05/08 - A queda da inflação e a revisão dos juros
29/07 - Déficit nas contas públicas: solução passa por investimentos e exportações
22/07 - Mudança na SELIC terá que vir acompanhada de medidas fiscais
15/07 - Precisamos aproveitar o cenário favorável
08/07 - Respeito às restrições do orçamento é imprescindível para alcançar meta fiscal
01/07 - O elemento central para a retomada da econonomia
24/06 - O "Brexit" como mais um desafio para a agenda internacional brasileira
17/06 - Sinais de confiança na retomada da economia
10/06 - Foco no cumprimento da meta de inflação
03/06 - No Caminho da austeridade
27/05 - Primeiras medidas evitam agravamento do quadro fiscal
20/05 - Controle das contas públicas e a eficiente gestão do gasto
13/05 - Competitividade, chave para retomada do crescimento
06/05 - A premissa da eficiência do gasto público
29/04 - O equilíbrio que se faz necessário nesse momento
22/04 - Os desafios do pós-Dilma
15/04 - Próximos dias darão o tom sobre as incertezas
08/04 - Um governo novo ou um "novo governo?
01/04 - FUTURO: Uma construção coletiva
24/03 - Não há saída sem a recuperação da confiança
18/03 - Destaques econômicos em segundo plano
11/03 - Os humores da política
04/03 - Efeitos da Lava Jato na economia
26/02 - Até que enfim, um sopro de positividade
19/02 - Programação Orçamentária e Financeira para 2016: cortes de gastos de R$ 24 bilhões