Especialistas brasileiros e estrangeiros qualificam debate sobre certificação, rastreamento, novas tecnologias de produção do hidrogênio verde e transição energética na indústria

A programação da manhã do segundo dia (4/8) do FIEC Summit 2002, no auditório Waldyr Diogo, trouxe diversas abordagens relacionadas aos desafios e oportunidades para o avanço do hidrogênio verde no Ceará, no Brasil e no mundo, com exposições de especialistas brasileiros e estrangeiros. O painel inicial versou sobre “Certificação e rastreamento do Hidrogênio Verde” e foi moderado pelo Diretor setorial de geração centralizada do Sindienergia, Luiz Eduardo Moraes. De acordo com ele, assegurar a origem da energia utilizada na produção do hidrogênio verde é um desafio para o Brasil e para o mundo e é uma questão de extrema relevância uma vez que o foco da produção nacional é também o mercado internacional. 

“Precisamos ser protagonistas, inclusive induzindo a certificação. Vamos ter uma geração eólica offshore muito forte, alimentando a produção de hidrogênio verde, mas não podemos desprezar a geração onshore e para isso a certificação e o rastreamento são imprescindíveis”, pontuou.  

A primeira palestra foi da executiva da Agência Internacional para as Energias Renováveis (Irena, em inglês), Ranya Oualid, que apresentou um panorama das iniciativas de diversos países para a certificação do hidrogênio verde, em especial na Europa, Estados Unidos e Austrália. Segundo ela, o mercado consumidor internacional exige transparência e a certificação surge como uma forma de atestar a procedência do hidrogênio verde. Porém, ainda não existe um padrão internacional a ser seguido, com critérios e requisitos globais pré-estabelecidos. “É essencial que haja um método unificado em relação à questão do carbono e que os critérios sejam passíveis de auditoria”, destacou.

Em seguida, o Gerente de análise e informações ao mercado da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), Ricardo Gedra, informou que a CCEE se posicionou, no final do ano passado, como a entidade que vai buscar desenvolver a certificação do hidrogênio verde produzido no Brasil. Desde então, as discussões giram em torno de qual será a abrangência dessa certificação.

“Se o hidrogênio vai ser destinado à exportação, quem define os atributos são os clientes. Certamente haverá necessidade de atendimento a requisitos internacionais. Agora, há a possibilidade de uso doméstico desse hidrogênio e neste caso seria um padrão nacional que teríamos que definir? Ainda não temos respostas, mas a ideia não é fazer algo que seja exclusivo do Brasil, mas sim desenvolver algo que seja compatível com padrões internacionais que estão em desenvolvimento pelo mundo”, explicou. 

O Consultor comercial sênior do Bureau Veritas, Francisco Martins de Almeida Rollo, continuou o painel ressaltando a complexidade da elaboração desse conjunto de normas e padrões dadas as especificidades de diversos aspectos. O mercado, no entanto, avança a passos largos e não espera essas definições. “Nós temos uma demanda e precisamos começar a nos estruturar agora para essas demandas. Por isso é preciso fazer um trabalho que acompanhe essas mudanças. Não posso esperar essas definições para depois implementar projetos de acordo com as normativas que vão ser consolidadas. É preciso me mobilizar já e ir adaptando os meus padrões normativos à luz das discussões e dos desdobramentos mundiais, nacionais e locais em relação ao tema”, sugeriu.

O painel seguinte teve como tema “Tecnologias na produção de Hidrogênio Verde” e foi moderado pela Consultora da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), Monica Saraiva Panik. Ela lembrou que em março do ano passado duas empresas globais, líderes na fabricação de eletrolisadores, começaram a oferecer essa tecnologia no Brasil. Segundo ela, isso foi muito importante no mercado brasileiro porque até então era preciso buscar essa tecnologia fora do país, levando meses até chegar no Brasil, que até então era um mercado muito incipiente.

Os representantes dessas duas empresas, Thyssenkrupp e Siemens Energy, participaram do painel apresentando suas tecnologias e os projetos em operação no Brasil. Luiz Mello, Gerente de desenvolvimento de negócios da Thyssenkrupp, mostrou a expertise da empresa de mais de 50 anos de know-how em eletrólise e destacou um novo projeto com a Unigel, na Bahia, para o primeiro projeto de hidrogênio verde em escala industrial no Brasil. Já Marina Piva, engenheira de aplicação da Unidade de Soluções de hidrogênio verde (New Energy Business) da Siemens Energy, falou sobre a tecnologia da empresa que permite ir além da eletrólise e que essa tecnologia avança dez vezes a cada quatro anos, desde 2011. A empresa projeta que a partir de 2023 a ordem de grandeza dos projetos a serem atendidos seja na casa dos 100 MegaWatts.

O painel seguiu com a palestra de Daniel Lopes, Diretor da Hytron Energia e Gases Especiais. O executivo contou a história da empresa, cujas raízes remontam à sua graduação em Engenharia Mecânica na Universidade Federal do Ceará. Em 2003, a Hytron surgiu como spin-off do Laboratório de Hidrogênio da Unicamp. Hoje a empresa possui diversos projetos, incluindo um no Pecém. A Hytron desenvolveu três tipos de tecnologia: eletrólise da água, sistema de produção de hidrogênio renovável a partir do gás metano e a produção de hidrogênio a partir do etanol.      

Por fim, o Gerente de desenvolvimento de negócios da Clean Power Hydrogen Group Limited (CPH2), Qamar Khan, concluiu o painel ressaltando a flexibilidade da solução da empresa, podendo ser adaptada a requisitos específicos como uma alternativa limpa para complementar a energia da bateria para veículos elétricos, fora da rede, e armazenamento de eletricidade, baseado em rede.

O último painel da manhã foi com a temática “Transição energética na indústria”, um dos assuntos mais comentados para a sustentabilidade mundial. A pauta tem estado no foco de discussões quando o assunto é energia renovável, limpa e considera que o processo de desenvolvimento sustentável deve ser inclusivo e participativo. Até fevereiro de 2021 o Brasil não marcava o mapa do hidrogênio verde no mundo, até que o Ceará lançou o primeiro HUB de Hidrogênio Verde no Complexo do Pecém.

Para debater a temática, estiveram presentes o Gerente executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Davi Bomtempo; Gerhard Ett, Pesquisador e Professor em hidrogênio e engenharia eletroquímica do Centro Universitário FEI; Renata Ferrari, Gerente de descarbonização da Yara Brasil e o Gerente de sustentabilidade e energia da Votorantim Cimentos, Fábio Cirilo. A moderação do painel foi realizada pelo Presidente da FGC Participações, Fernando Cirino.

Com previsão de investimento de 5 a 15 trilhões de dólares até 2050, o hidrogênio é a grande aposta, não só da sustentabilidade mundial, como da economia, de acordo com dados apresentados pelo pesquisador Gerhard Ett.

“Hoje, o hidrogênio é reconhecido como um produto premium, sendo produzido com pureza de 99%. Além disso, tem um papel, muitas vezes, além do óbvio, como o potencial uso como substituto do gás natural para aquecimento e geração de eletricidade. Mas o grande benefício do hidrogênio é o alto poder calorífico e a natureza livre de carbono de seus produtos de combustão”, explicou o especialista.

Ainda segundo Etto, até 2030, espera-se cortar R$ 10 mi de toneladas de carbono, por ano. “Isso equivale a tirar quatro trilhões de carros das ruas”, completou o pesquisador.

O hidrogênio verde na descarbonização dos fertilizantes foi o tema central da palestra da Gerente de descarbonização da Yara Brasil, Renata Ferrari. Segundo a especialista, o Brasil será um importante player na produção global de H2, dado o potencial de geração de energia renovável com custos competitivos. “O grande desafio para a indústria é o alto investimento. É importante frisar a importância do desenvolvimento de programas de incentivo para que essa tecnologia ganhe escala. Até 2025, de acordo com a especialista, a meta é que a produção de carbono, por tonelada de hidrogênio produzida, tenha uma diminuição de 10%, chegando a uma redução de 100% até 2050.

Para o Gerente de sustentabilidade e energia da Votorantim Cimentos, Fábio Cirilo, a produção do hidrogênio verde irá favorecer consideravelmente a descarbonização no setor de cimentos. “A Votorantim Cimentos estima que haverá uma neutralização das emissões de gases de CO2, por tonelada, em 2050. Nós já vemos um início desse processo em outras regiões do mundo”, disse o especialista.

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