[REVISTA DA FIEC] Novo Ensino Médio já é realidade em escolas SESI e SENAI no Ceará

                                                                                                                                                                                             

O Ensino Médio das escolas brasileiras está sendo transformado. A Lei 13.415, aprovada em 2017, propõe um novo formato para essa fase escolar. As instituições de ensino têm até 2021 para fazer as adequações, mas a reforma já é realidade nas escolas SESI e SENAI de todo o Brasil. No Ceará, três turmas estão em andamento, duas em Fortaleza e uma em Sobral.

A implantação da novidade foi iniciada em cinco estados - Ceará, Alagoas, Bahia, Espírito Santo e Goiás. Em 2019, o Sistema Indústria estendeu a experiência pedagógica a 21 departamentos regionais, graças aos resultados positivos alcançados nas primeiras turmas. “Estamos passando por um momento histórico na educação do país, e, desde o princípio, o Ceará faz parte disso”, afirma Sônia Parente, gerente de educação do SESI e do SENAI no Ceará.

Com as mudanças propostas, o objetivo do Governo Federal é tornar o Ensino Médio mais atrativo e, assim, diminuir os índices de evasão escolar. Dados do Censo Escolar apontam que apenas 84,3% dos adolescentes de 15 a 17 anos que deveriam estar no Ensino Médio estudam. Além de ter menos pessoas chegando a essa etapa, há um alto índice de desistência no período, que, segundo o Ministério da Educação, chega a 11,2%.

A reforma estabelece uma organização curricular mais flexível, com a oferta de uma Base Nacional Comum Curricular (BNCC), organizada não mais por disciplinas, mas por competências e habilidades, que são divididas em quatro áreas do conhecimento: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. A BNCC representa 60% da grade, enquanto os outros 40% ficam a cargo dos chamados itinerários formativos.

Os itinerários formativos apresentam diferentes possibilidades de escolha aos estudantes, de acordo com suas preferências e intenções de carreira. Eles podem aprofundar os conhecimentos em uma das quatro áreas do conhecimento da BNCC ou optar por uma formação técnica e profissional. As instituições de ensino têm autonomia para definir quais os itinerários formativos ofertarão, considerando um processo que envolva a participação de toda a comunidade escolar.

                                                                                                                                                                                             

No Ceará, as três turmas do Novo Ensino Médio são focadas no itinerário 5, com capacitações nas áreas de Técnico em Eletrotécnica e de Técnico em Redes de Computadores. “Foi feito um estudo sobre as demandas do mercado, para que a formação ofertada aos alunos, de fato, lhes possibilite uma inserção no mercado de trabalho”, explica Nathália Castro, analista de processos educacionais do SESI Ceará.

A matriz curricular desenvolvida pelo SESI e pelo SENAI foi aprovada pelo Conselho Nacional de Educação em 2017. É uma experiência pioneira, que contou com a contribuição de educadores de toda a rede de ensino. Entre os principais desafios, o projeto propõe a formação integral do aluno, exigindo que professores e coordenadores reinventem a maneira de ensinar.

“É uma forte mudança de estrutura, que obriga todos a terem um pensamento não mais compartimentado por caixas, em que cada um cuida de seu espaço sem se importar com o dos demais”, explica Sérgio Gotti, gerente-executivo de Educação do SESI. “Eles têm de estar muito afinados para chegar em sala de aula e trabalhar como uma orquestra nessa nova visão”, afirma.

Para Daniel Roberto, de 15 anos, aluno da Escola SESI SENAI Ceará, a metodologia faz toda a diferença. “No ensino fundamental, as aulas não tinham nada a ver uma com a outra. Hoje, eu consigo compreender como os conteúdos se relacionam muito mais do que eu imaginava e assim tenho uma visão do todo. Eu me sinto mais interessado, mesmo pelas matérias que eu não gostava antes”, explica.

Com o objetivo de garantir essa integração, são feitos planejamentos semanais com todas as áreas. “Fazendo o planejamento vamos encontrando as intercessões dos conteúdos. Já aconteceu de ministrarmos aula com dois ou três professores ao mesmo tempo no quadro”, contou a professora de Ciências da Natureza, Conceição Feijó. “Os alunos adoram”, complementa.

                                                                                                                                                                                             

Um dos recursos utilizados é a aprendizagem baseada em projetos, no qual é proposto um tema para o trabalho que deve ser desenvolvido de forma transdisciplinar. Para a aluna do 1º ano do Ensino Médio, Nathália Frota, de 14 anos, o projeto sobre carnaval foi uma das experiências mais marcantes na escola até agora. Enquanto o professor da área de Ciências Sociais Aplicadas abordou, em sala de aula, os processos históricos e sociais da festa momina, o professor de Linguagens falou sobre enredos e marchinhas carnavalescas.

Já em Ciências da Natureza, aspectos biológicos sobre hidratação do corpo e alimentação foram explorados. Ao final, os alunos realizaram uma grande apresentação, com base nas pesquisas feitas. “Além do envolvimento com as aulas ser maior, nós também exercitamos nossas habilidades de falar em público e trabalhar em equipe”, corrobora Pedro Kauã, de 15 anos, que também gostou da experiência.

Para os estudantes, outro diferencial positivo do Novo Ensino Médio é a forma de avaliação, em que as provas representam apenas 40% do resultado final. Os outros 60% são compostos por fatores como parecer do professor, trabalhos realizados e participação nas aulas. “Além disso, não temos notas, de 0 a 10, mas conceitos, que vão de A a D”, explica Danielle Santos da Silva, coordenadora pedagógica. O estudante Carlos César, de 16 anos, se diz orgulhoso de fazer parte do Novo Ensino Médio. “A taxa de evasão da nossa turma é zero. Somos muito unidos, como uma família”, destaca. 

Saiba mais
O SESI e o SENAI já têm uma parceria de 18 anos em escolas, executando a educação básica articulada com a educação profissional, conhecida como EBEP. Em um período do dia, o aluno está na escola do SESI na educação básica e, no outro turno, faz o curso de educação profissional do SENAI. A principal diferença em relação entre os dois é que o EBEP trabalha em uma visão articulada do currículo, enquanto o Novo Ensino Médio prevê uma integração. Isso gera impactos, inclusive, na carga horária dos alunos, que é maior no EBEP, justamente porque a carga do curso profissional é independente, enquanto no Novo Ensino Médio ela é contemplada dentro da grade curricular normal.

O Novo Ensino Médio objetiva a formação integral dos jovens, considerando uma nova concepção de educação, que implica a mudança do papel da escola, superando sua tradicional função de transmissora de conhecimentos. A intenção é construir conhecimentos e representações que deem sentido às experiências e validem as ações cotidianas dos adolescentes. Nessa proposta, o estudante é sujeito ativo, coautor do processo de produção e apropriação do conhecimento.
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