Endividamento: freio à retomada do crescimento

O nível atual de endividamento, tanto do setor público quanto do setor privado, é preocupante. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a dívida conjunta de empresas (exceto não-financeiras) e de consumidores representou 68,5% do PIB em 2015. Além do valor, impressiona também a trajetória recente dessa dívida: ela representava 41% do PIB em 2008. Ou seja, houve acréscimo de 28 pontos percentuais do PIB em 7 anos, dos quais a elevação de 11 pontos aconteceu apenas de 2013 a 2015. Foi um ritmo duas vezes maior do que o de outros países emergentes. De forma semelhante, a dívida das famílias, que hoje representa 43% da renda acumulada nos últimos 12 meses, era de apenas 18,4% em 2005.

O endividamento das empresas corporativas ocorreu pela tomada de empréstimos no exterior, influenciado pelo ambiente de juros baixos. Com a recessão, essas companhias viram suas dívidas crescendo, ao mesmo tempo em que o crédito ficava cada vez mais caro e escasso. O FMI estima que um volume próximo de US$ 51 bilhões esteja em empresas nas quais a geração de lucro é insuficiente para bancar o pagamento dos serviços das dívidas. O risco de aumento dos calotes, naturalmente, deve ser considerado. Obviamente, nesse cenário, as perspectivas de investimento não são positivas.

Do lado do setor público, o quadro não é diferente. A dívida bruta passou de 51,7% em 2013, para 70,7% do PIB em setembro deste ano, e pode chegar a 85% do PIB em 2018. Para agravar o quadro, observa-se aumento do endividamento das empresas do governo, sobretudo Eletrobras e Petrobras (teve prejuízo de R$ 16,5 bilhões no 3º trimestre de 2016, o terceiro maior de sua historia). Nessa direção, um questionamento importante é se as contas públicas irão permitir ao governo lidar com os efeitos impactantes de uma redução dos planos de expansão das empresas. É necessária, para tanto, uma política fiscal restritiva nos próximos anos, até que o País consiga estabilizar e, depois, reduzir sua dívida. Medidas como a PEC que limita os gastos e a reforma da previdência estão exatamente nessa linha.

A redução dos juros também será fundamental, e esse ciclo, que teve início em outubro, deverá continuar nos próximos meses – dada a grande ociosidade atual, há quem aposte na Selic (hoje em 14% ao ano) abaixo de dois dígitos antes do fim de 2017. Para tanto, é imprescindível que a inflação permaneça em queda.

Com avanços na gestão pública e esforço fiscal suficiente para controlar a inflação e permitir redução dos juros, abre-se a possibilidade de se atenuar o problema do endividamento (de consumidores, governo e empresas privadas), que se coloca como um importante entrave à nossa retomada econômica.

Confira as edições anteriores da Análise Econômica Semanal:

4/11 - O risco Trump

28/10 - Conter gastos públicos é necessário para a retomada econômica

21/10 - Por que os juros não caíram mais?

14/10 - Repatriação e investimentos: reforços no caixa

7/10PEC dos gastos e as reformas necessárias

30/09 - O Brasil e o ranking de competitividade econômica

23/09 - Avanços e riscos de um novo modelo de ensino médio

16/09 - O primeiro pacote de concessões

09/09 - O IDEB e os impactos na economia

19/08 - Dívida dos Estados e a necessidade de superar as ineficiências institucionais

05/08 - A queda da inflação e a revisão dos juros

29/07 - Déficit nas contas públicas: solução passa por investimentos e exportações

22/07 - Mudança na SELIC terá que vir acompanhada de medidas fiscais

15/07 - Precisamos aproveitar o cenário favorável

08/07 - Respeito às restrições do orçamento é imprescindível para alcançar meta fiscal

01/07 - O elemento central para a retomada da econonomia

24/06O "Brexit" como mais um desafio para a agenda internacional brasileira

17/06 - Sinais de confiança na retomada da economia

10/06 - Foco no cumprimento da meta de inflação

03/06 - No Caminho da austeridade

27/05 - Primeiras medidas evitam agravamento do quadro fiscal

20/05 -  Controle das contas públicas e a eficiente gestão do gasto

13/05 - Competitividade, chave para retomada do crescimento

06/05 -  A premissa da eficiência do gasto público

29/04 - O equilíbrio que se faz necessário nesse momento

22/04 - Os desafios do pós-Dilma

15/04 - Próximos dias darão o tom sobre as incertezas

08/04 - Um governo novo ou um "novo governo?

01/04 - FUTURO: Uma construção coletiva

24/03 - Não há saída sem a recuperação da confiança

18/03 - Destaques econômicos em segundo plano

11/03 - Os humores da política

04/03 - Efeitos da Lava Jato na economia

26/02 - Até que enfim, um sopro de positividade

19/02 - Programação Orçamentária e Financeira para 2016: cortes de gastos de R$ 24 bilhões

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