Meus amigos,
Em 2019, o Centro Industrial do Ceará completa 100 anos de existência e, ao longo desse quase um século, no qual a sua história se confunde com a da indústria cearense e a do próprio estado, é possível entender a marca do empreendedor aguerrido e visionário que nos identifica, seja na coragem para ousar, ou simplesmente envolvidos no desejo de gerar desenvolvimento para o nosso estado.
Ao fim daquela segunda década do século XX, a indústria no Ceará resumia-se a poucos estabelecimentos voltados para o processamento de matérias-primas locais, como têxtil, óleos vegetais, couros e peles.
Nossa economia, marcada por uma agricultura de subsistência, dependia de investimentos governamentais, ao mesmo tempo em que lidava com extorsiva carga tributária.
*Década de 1920: Carga tributária de 20% do PIB. Hoje, a carga é de 35%.
Nesse cenário de dificuldades, floresceram as indústrias de tecido de algodão e as do ramo de especialidades farmacêuticas, dadas as suas extraordinárias capacidades de enfrentar obstáculos.
Os anos de 1950, por sua vez, nos legam a possibilidade da industrialização do Nordeste, com o aproveitamento do Vale do São Francisco, a transformação do Dnocs em autarquia, a implantação da hidrelétrica de Paulo Afonso e a criação da Sudene, que representou para nós cearenses, um verdadeiro canal de desenvolvimento.
Aliado a isso, vieram outros instrumentos de avanço da nossa economia, como a criação da Universidade Federal do Ceará, do Banco do Nordeste, BNB, o surgimento do Porto do Mucuripe. Estávamos construindo uma nova expectativa para o desenvolvimento do Ceará e do Nordeste.
A crise fiscal e a dívida externa dos anos 1980, porém, dizimaram esperanças de uma política regional que efetivamente alavancassem nossas possibilidades de crescimento. Ao Ceará, como de resto ao Nordeste, foi legado o instrumento dos incentivos fiscais para atrair investimentos privados. Nesse período, um grupo de jovens empresários cearenses assumia a direção do Centro Industrial, que rapidamente passou a ser protagonista na discussão de políticas de desenvolvimento regional. Foi um dos momentos mais profícuos de debates sobre a conjuntura, pois se discutiu economia e política como faces de uma mesma moeda.
Desses encontros, alimentados pelo vigor da juventude intelectual dos quais muitos de nós participaram, resultaram propostas e personagens que sedimentam a história do Ceará e do Brasil.
O CIC, meus amigos, foi uma espécie de sopro em um momento no qual o Brasil clamava por ideias e necessitava de personagens com a mente aberta para nos guiar pelos novos caminhos que o mundo apontava. Fazíamos, sem nos darmos conta, uma disruptura nos modelos que a velha política insistia em querer perpetuar. O que era sonho de uma juventude destemida, virou forma na realidade de uma gestão marcada pelas mudanças.
O Centro Industrial do Ceará ganhou asas e suas ideias superaram os limites da representação empresarial com o ingresso de muitos de seus quadros na esfera político-partidária. Dali, surgiram governadores, ministros, senadores, com destacada presença no cenário político do país.
Mas, mais do que quadros, ficaram as lições. Lições de que é possível fazer o certo e o justo, e qualquer desvirtuamento dessa direção, foge aos princípios básicos da verdadeira e nobre arte da política, que é a busca do bem comum.
Meu amigo André Siqueira,
a sua responsabilidade ao assumir a presidência do CIC nesta noite, é enorme. Primeiro por substituir Aluísio Ramalho Filho, esse valoroso empresário que tão bem conduziu a última gestão do Centro Industrial do Ceará. Em seu nome, gostaria de homenagear todos os ex-presidentes que oferecem suas contribuições para o fortalecimento do protagonismo da indústria cearense.
Seu desafio também é grande, André, porque o Ceará é um estado que se destaca no cenário nacional e grande parte do que temos hoje foi construído nas discussões geradas pelo CIC nas últimas quatro décadas.
Veja o quanto é valiosa a sua missão na história dessa entidade. Já se vão 40 anos desde quando teve início aquela fase gloriosa do CIC e, se podemos nos vangloriar de muitas conquistas, nos encontramos envoltos em outros problemas que nos instigam a perseverar nas suas soluções. O Ceará e o Nordeste continuam precisando do entusiasmo transformador que a Federação das Indústrias e o Centro Industrial do Ceará provocam.
Vivemos um período em que é preciso que mentes arejadas assumam papéis decisivos para a condução dos nossos destinos. Na política, nas instituições de classe, nas empresas privadas, precisamos renovar as ideias, clarear objetivos e assumir riscos.
Sabemos que tarefas como essas precisam ser abraçadas, porque demandam um espírito verdadeiramente preparado para tal missão. E você, amigo André, é certamente uma dessas pessoas que, juntamente a uma bela seleção de empresários, preservará a relevância do Centro Industrial do Ceará por muitos anos na perspectiva de um Brasil, de um Nordeste e de um Ceará melhores para as futuras gerações.
Um forte abraço,
BETO STUDART