[Discurso] Jorge Alberto Vieira Studart Gomes

Meus amigos,
Boa noite.


A festa anual em comemoração ao Dia da Indústria, marcada pela nossa mais alta comenda, a Medalha do Mérito Industrial, é a mais importante da Federação das Indústrias do Estado do Ceará e de todos que compõem a indústria cearense.

Nesta celebração, não apenas homenageamos os agraciados, mas principalmente aproveitamos o momento para disseminarmos, entre todos nós, os exemplos de tenacidade, ousadia e crença nos valores que fortalecem a iniciativa privada como instrumento fundamental para o desenvolvimento da economia e da sociedade como um todo.

Aqui vemos representados os mais importantes segmentos, seja no âmbito do poder público, da economia, e da intelectualidade. Assumindo a imodéstia, ressalto o que é muito óbvio: esta tradicional solenidade extrapola os muros do segmento industrial, reunindo personalidades dos setores produtivos, sejam do comércio, de serviços, do agronegócio, e também agregando autoridades de vulto dos três poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário.

Ao longo da nossa história, ampliamos também o raio de representatividade a partir dos mais de 90 agraciados com a Medalha do Mérito Industrial, desde o primeiro homenageado, o governador César Cals de Oliveira Neto, em 1974. Neste período de 42 anos, passaram nessa passarela de ilustres icônicos entre os maiores empreendedores do nosso Estado, nomes como Edson Queiroz, José Macedo, Ivens Dias Branco, Luiz Esteves Neto, Celso Furtado, Herbert Johnson, Maria Suzete Dias de Vasconcelos.

Em 2016, pessoalmente, não podia me sentir mais feliz, por estar, no segundo ano de minha gestão à frente da FIEC, conduzindo a entrega da Medalha do Mérito Industrial a Roberto Macêdo, Orlando Siqueira e Sérgio Leite. Nomes sugeridos com uma certeza ímpar de serem fiéis portadores dos mais nobres princípios, e aprovados com entusiasmo pela nossa diretoria.

ROBERTO MACÊDO,
a quem tenho a honra de suceder na FIEC, além de amigo pessoal, entrou definitivamente para a história de nossa federação em um dos momentos mais difíceis desta entidade.

Não que antes disso não houvesse prestado a sua colaboração de forma íntegra e dedicada à FIEC. Mas coube ao Roberto assumir um desafio que talvez poucos naquele período tão conturbado tivessem a competência e o discernimento de conduzir com tal maestria.

Não à toa, sua marca mais forte na FIEC será sempre a do conciliador, que sem se afastar de seu perfil austero e discreto, encerrou, no segundo semestre de 2014, oito anos de gestão à frente da Federação, deixando a instituição reunificada, com diversas ações consistentes em prol da indústria cearense.

Tanto isso é fato, que não hesitei em aceitar como sugestão do Roberto Macêdo, que a chapa pela qual fui eleito, fosse denominada chapa União.

Poderia falar muito mais sobre Roberto, mas vou me valer do exemplo de seu pai, o senador José Macêdo, criador do grupo que leva o seu nome, para resumir que aqui, o filho é a marca do pai.

Roberto aprendeu desde cedo o gosto e a importância do trabalho, sem se descuidar da questão humanitária e da atenção ao meio ambiente. Hoje, sua biografia não pode ser referenciada sem características que vão além da lida empresarial.

Meu amigo, muito obrigado por tudo que você fez e tem feito pela FIEC e pelo Ceará.

Sobre ORLANDO SIQUEIRA,
digo inicialmente que nutro um respeito muito grande por este empresário que soube acreditar no seu sonho e nunca se afastou dele.

Orlando é um dos maiores empresários do setor mineral do Nordeste e a sua empresa é exemplo de qualidade e inovação que devem ser seguidos por todos.

O Orlando costuma dizer que venceu mesmo quebrando pedra. Eu diria que não. Diria que venceu lapidando a matéria bruta para transformá-la em uma jóia refinada, rara, elaborada com o mais puro requinte advindo daqueles que se permitem a busca pela excelência como missão de vida.

O nosso Orlando, meus amigos, é capaz de atitudes visionárias, como as de, por exemplo, quando chegou aos 50 anos, decidir entregar o controle das empresas aos filhos, e passar a se dedicar a pensar, sem arredar de seu papel como presidente do seu Conselho Familiar.

Pensar não em um sentido contemplativo. Mas na perspectiva de inovar, transformar, adotando em sua plenitude o mais absoluto conceito de ócio criativo.

Dessa forma, Orlando tanto pode estar viajando pelo mundo em busca de novidades nas feiras internacionais do segmento ao qual sua empresa está inserida, como pode estar em sua oficina particular encontrando alternativas para a melhoria de processos de produção.

Assim é Orlando Siqueira, homem capaz de entrar em uma disputa eleitoral, como fez no pleito que disputou pela presidência da FIEC, com o intuito maior de legitimar a ampliação da democracia no processo eleitoral de nossa Federação.

Saiba, amigo Orlando Siqueira, que você é também reconhecido pela história como um dos vencedores daquele processo.

SÉRGIO LEITE,
Presidente da Companhia Siderúrgica do Pecém, CSP, que conheci e passei a admirar mesmo antes de assumir a presidência da FIEC, tendo fortalecido os laços nesses últimos 20 meses, de tal forma que posso dizer que nos tornamos amigos.

Sérgio Leite é uma daquelas pessoas especiais, com as quais você pode conversar na certeza de que estará sempre aprendendo.

Sérgio desbravou o mundo desenvolvendo projetos siderúrgicos e de mineração, mas não pensou duas vezes ao ser convidado para a missão de tocar a primeira usina siderúrgica integrada no Nordeste.

É ele, homem discreto e de fala suave, o responsável hoje pelo grandioso projeto da siderúrgica que irá materializar um sonho alimentado pelo Ceará durante longos anos, inaugurando um novo tempo para o desenvolvimento local.

A CSP deverá incrementar em 48% o PIB industrial do Ceará e em 12% o PIB do Estado. Traz consigo, ainda, promessa de vida nova para milhares de cearenses que serão empregados na usina e em todas as empresas que fazem parte da sua cadeia produtiva.

A CSP, caros amigos, é atualmente um dos maiores investimentos de capital privado no País e no momento em que estamos vivendo, isso tem que ser ressaltado.

Todo esse conceito de desenvolvimento proporcionado pela CSP, passa necessariamente pela cabeça privilegiada de Sérgio Leite.

Meu amigo, aqui, o reconhecimento não é apenas meu, ou da FIEC, é do Ceará de agora e das futuras gerações que ainda serão fortemente impactadas pelo que a CSP trará de bom para todos nós.

Mas, meus amigos,
para  além do momento de festa que reúne fortes razões para celebrarmos mais um Dia da Indústria, o período pelo qual o país atravessa exige de todos nós uma reflexão aprofundada.

Enquanto presidente da FIEC, é meu o dever trazer à público a nossa posição, as nossas bandeiras, o nosso pensamento, porque nossa entidade, efetivamente, é formadora de opinião e a sociedade conta com o nosso parecer para se fortalecer.

O Brasil vivenciou há poucos dias o afastamento da presidente da República e não resta dúvida de que um processo como este é muito traumático. Ainda mais se levarmos em conta que o País vivencia pela segunda vez em menos de 25 anos.

Por outro lado, felizmente, o afastamento da presidente se deu na mais absoluta normalidade democrática, dentro das regras de uma democracia madura, provando que nossas instituições estão funcionando plenamente.

Vencida esta etapa, entramos em um outro momento, que, ao mesmo tempo, nos exige capacidade extraordinária de  resiliência, resistência e desprendimento e nos oferece esperança e otimismo.

As atitudes apresentadas até agora pelo novo governo são animadoras. A aprovação pelo Congresso do projeto de lei que autoriza o déficit primário nas contas públicas de R$ 170 bilhões em 2016 ressalta o descuido administrativo a que estávamos submetidos e reforça que a saída da presidente era não apenas inevitável, mas principalmente imprescindível.

Como sabemos, superar essas dificuldades não será fácil, mas já vemos que estamos a caminho de uma recuperação. Os primeiros passos na direção certa foram dados para estancar o estrangulamento do quadro fiscal que já se tornara inadministrável.

Destaco aqui a imposição de limite para os gastos, indicando que as despesas anuais do governo não poderão crescer acima da inflação do ano anterior. Com essa contenção, o superávit nas contas dependerá do comportamento das receitas. Num médio prazo, isso certamente poderá trazer bons resultados.

É fato que as primeiras medidas reforçam um compromisso do novo governo com a redução da dívida pública, mas havemos de concordar que outras ainda precisarão vir, complementares ao ajuste que permitirá ao país retomar os trilhos do desenvolvimento. E confiamos que virão.

Como essenciais nesse sentido, a venda de ativos e as reformas estruturais nas despesas e na previdência, são medidas sem as quais não alcançaremos a solução real do problema.

O que nos anima como instituição classista é a segurança de que a equipe econômica do atual governo tem a verdadeira dimensão do que precisa ser feito, não apenas do que a sociedade deseja, mas principalmente do que o Brasil precisa.
Como tem dito o próprio ministro Henrique Meireles, é essencial agora estabilizar a trajetória da dívida pública para que se torne sustentável a longo prazo. Feito isso, voltaremos a previsibilidade na economia e a consequente retomada da confiança pelos empreendedores nacionais e internacionais.

Nada disso, porém, acontece de um dia para o outro, apesar de vermos indicadores claros da mudança, como a elevação da produção industrial do mês passado, que interrompeu o ritmo descendente e deu uma trégua alentadora, nos animando para a hora da virada.

Ainda será preciso paciência e atenção, para que se evitem decisões e posicionamentos precipitados, que venham a ameaçar o processo de recuperação do país.

Não podemos colocar em risco a retomada da nossa potência transformadora, a indústria, que emprega e gera riqueza, empresários que ousam, inovam e impulsionam a sociedade.

Meus amigos, a nossa clara sensação com a entrada do novo governo é de que o ambiente de negócios no Brasil já é outro. O nosso ânimo mudou, percebemos uma atmosfera mais propícia.

Sabemos, porém, que é preciso que a economia não se contamine pelo pernicioso ambiente político federal, que insiste seguir por vias tortuosas, causando tantos males ao nosso país, às nossas empresas, a toda população.

As medidas econômicas a serem tomadas são urgentes e exigem compromisso social do Congresso Nacional, sob pena de jogarmos por terra a chance que temos de ultrapassar esse período soturno da nossa história recente.

A mudança do Brasil também cobra de cada um de nós ainda maior comprometimento. Temos o dever de nos tornar mais competitivos e eficientes. Não canso de repetir que a inovação é a nossa melhor alternativa, é nosso investimento mais assertivo. E não vamos pensar em inovação como algo estritamente tecnológico, voltado às máquinas, à automação ou coisas do gênero. Inovação é também processo, é gestão, é filosofia e tem que ir do pensamento aos nossos produtos.

Meus amigos, não há saída para a economia do Brasil sem equilíbrio fiscal, queda de juros, segurança jurídica e aumento da competitividade das empresas.

Sem isso, não sairemos do abismo em que fomos jogados pela falta de zelo com a coisa pública, pela falta de respeito para com os brasileiros.

Qualquer iniciativa que exclua essas premissas não será em prol do Brasil; será em benefício de terceiros e nós sabemos muito bem onde isso termina.

Mas o caminho para o Brasil passa também por cada um de nós, que devemos prezar pelas práticas transparentes e retilíneas nos nossos negócios, porque, só assim, teremos uma competição justa, em que se fortalece aquele mais eficiente, mais organizado, mais enxuto.

O momento é de otimismo sem descanso, de vigília com compromisso público, de esperança com muito trabalho e de muito amor pelo Brasil.

Em nome da Indústria e dos industriais do Ceará, conclamo a todos que permaneçamos unidos e que possamos engordar nossos cordões, para fazer valer a nossa força.

Meus amigos, estamos vivendo um tempo de adversidades, no qual somos surpreendidos a cada dia, a cada hora, a cada minuto.

Mas isso não pode ser motivo para recuarmos de nossos princípios e conceitos. O Brasil é muito maior do que seus males momentâneos.

Todos aqui somos pessoas vividas, experientes e vitoriosas em suas áreas de atuação. Já passamos por outras tormentas e saímos mais fortes.

Não tenho dúvidas de que também sairemos desse período revigorados e mais convictos do nosso potencial como nação.

Aproveito a ocasião para fazer um apelo ao nosso Governador. Que senhor continue entusiasmado para trazer mais desenvolvimento para o Ceará, contribuindo para fortalecer a nossa indústria, força motriz de uma economia vigorosa, dínamo do crescimento sustentável. Nós contamos com você.

Sejam bem vindos, recebam o meu abraço e aproveitem a festa.

BETO STUDART

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