[REVISTA DA FIEC] Edson Queiroz Neto - "O valor da experiência só se aprende com o tempo"
A ausência do avô, referência maior dos Queiroz, todavia, não impediu ao neto a convivência familiar cheia de simbologias e respeito à memória de Edson Queiroz. “As famílias da minha mãe e do meu pai eram muito grandes. Da minha avó, seis filhos; e do meu avô, 10”. No total, eram 33 primos e as relações dominicais constantes, com eles e tios.
Já aos sábados, diz Edson Neto, a lembrança das manhãs com o pai em casa, no jardim, na piscina, mas essencialmente caseira. A rotina de casa manteve-se até a mudança para o exterior, aos 13 anos. A transferência para Genebra, na Suiça, fez com que essa relação fosse transformada literalmente. Se no começo, quando criança, a mãe era mais presente, pois o pai tinha que assumir funções estratégicas nas empresas, no exterior, os dois se revezavam neste acompanhamento.
Em Genebra, o primeiro grande salto em termos de crescimento pessoal para o adolescente Edson Neto. “No exterior, eu tive que ficar só. Foram três anos em colégio interno, mas uma experiência riquíssima. Para se ter ideia, as salas eram limitadas a 22 ou 23 alunos de 19 nacionalidades diferentes. Essa riqueza cultural me ensinou muito”.
A ida para o exterior foi uma escolha dos pais para que Edson Neto passasse a conhecer mais o mundo desde cedo. O contraste com a vida que levava no Brasil não poderia ser diferente. “O primeiro ano foi de adaptação”, ressalta. Depois, com a chegada de um primo, os dois foram para um colégio internato, apesar de a mãe dele e a minha estarem morando em Genebra.
Depois de um ano, a mãe e irmã voltaram para o Brasil e um ano e meio após, foi a vez do primo também retornar. Edson Neto, então, passou a ficar só novamente. Desta vez, porém, o tempo de adaptação já havia sido superado e as amizades e conhecimentos adquiridos o levaram a não sentir tanto a falta dos parentes com os quais conviveu na infância.
Até o retorno para o Brasil, o adolescente Edson Neto confessa que não possuía uma dimensão precisa do que representava o conglomerado de empresas que compunham o grupo Edson Queiroz. “Sabia que eram
algumas empresas, mas essa dimensão exata fugia da minha compreensão mais clara”, afirma.
A curiosidade, no entanto, sempre foi uma característica do jovem Edson Neto, que logo na volta ao país começou a se interessar pelas coisas do grupo. “Eu sempre fui muito curioso. Pela minha mãe, eu seguiria mecatrônica, porque vivia desmontando as coisas. Dizem que meu avô era um pouco assim. Ele tinha um laboratório de fotografia e vivia mexendo nas coisas por lá”, destaca.
A veia curiosa que poderia indicar o caminho para a área da mecatrônica, todavia, não se confirmou. “Meu pai queria que eu cursasse a faculdade de Direito. Mas acabei fazendo o curso de Administração. Foi um meio termo, acho que fui político. Depois acabei cursando Direito também”, destaca.
O tempo mostrou que a escolha se fez acertada por Edson Neto. “A Administração me conquistou pela capacidade de poder aliar o que é muito abstrato com o que é concreto. Mas eu só fui ter a certeza da escolha certa ao longo do curso. Vi com o tempo que isso seria complementar ao que eu pretendia para minha vida”, diz.
O aprendizado adquirido no curso de Administração na Unifor ofereceu a Edson Neto a capacidade de aliar o abstrato ao concreto. Mas a entrada nas empresas do grupo representou outra forma de compreender a realidade da vida. “Construí minha carreira nas empresas começando como trainee. Todos os membros da família que entraram no grupo entraram como trainee. Era um direcionamento”.
O primeiro posto se deu na área de compras e suprimentos. “Não fui eu que escolhi, mas foi uma experiência maravilhosa”. Como ele mesmo gosta de dizer, “minha função era uma espécie de curinga. Eu era um tira-férias. Quando estava me adaptando, ai saía para outra função”. A partir dessa experiência, Edson Neto vivenciou vários momentos das fábricas, desde o funcionamento a adaptações. “E foi aí que caiu a ficha. Vi como o grupo era grande”.
Foi aí também, na prática, que Edson Neto sentiu que a diferença por ser filho do chanceler Airton Queiroz se media por uma cobrança maior. Cobrança que já havia sentido ainda mesmo quando estudante na Unifor. “Para você ter uma ideia, uma professora me reprovou duas vezes na mesma cadeira. E ela tinha razão para fazer isso”.
Hoje, diz ele, esses momentos foram importantes para que descobrisse que na sua trajetória não haveria espaço para privilégios. “Nem na Unifor e nem nas empresas. Meus pais me cobravam e me repreenderam, tiraram o carro. Então essas punições educativas eu tive como qualquer jovem de uma família que preza pela disciplina e a formação do caráter”.
Nesse sentido, menciona a avó, Yolanda Queiroz, por possuir um jeito peculiar de lidar com esse tipo de coisa. “Ela era tinha um modo bem especial de cobrar as coisas. “Lembro bem, que uma vez, eu fiz uma apresentação bonita, power point, certo de que estava abafando na apresentação, e ao final ela me deu um beijo e disse: meu filho, vamos aguardar os resultados”.
Após o começo na área de compras, o passo seguinte foi o departamento de auditória. “Foi o meu mestrado. Ali eu comecei a fazer auditoria em todos os processos do grupo. Foi um período difícil, pois passava 30 dias viajando, voltava, havia 10 dias para montar um relatório, e depois passava mais 45 dias pelas unidades da empresa no país.
Durante três anos, Edson Neto conheceu por meio do departamento de auditoria, todos os processos de gestão que compõem o conglomerado de empresas do grupo, vindo a ser o gerente deste setor. Até que em 2004, assumiu a superintendência administrativa da Nacional Gás Butano, com apenas 28 anos de idade.
A nova missão não refreou a extensa agenda de viagens, pois eram mais de 20 unidades sob a sua administração espalhadas pelo país. “Foi também um período muito difícil, mas de forte aprendizagem pessoal e profissional. Eu tinha ao mesmo tempo que aliar a imaturidade e a ousadia de questionar as coisas de uma empresa de sucesso”.
A junção da ousadia e o pouco tempo de experiência deixaram como lição a compreensão de que “a realidade não é muitas vezes aquilo que está a nossa frente. Aprendi a não ser tão intempestivo nas coisas, deixando que aconteçam algumas vezes a seu tempo. Meu pai me ajudou muito nesse período e agora percebo que ele não me dava as respostas, mas toques para eu perceber os detalhes. Era um pouco do que a minha avô tentava me passar também”.
Sobre esse momento de sua vida, Edson remonta ao pai, que lhe dizia sempre: “Respeite os cabelos brancos. E agora eu entendo que o valor da experiência a gente só aprende com o tempo”. É nesse sentido, que admite ser a solidão um dos principais riscos à boa gestão. “Você só sabe o valor da solidão de estar à frente de uma empresa quando não há ninguém para lhe confrontar”.
Com relação a esta condição, Edson Neto destaca que “tomar uma decisão é sempre uma experiência solitária. E esse é o problema, porque quando você está só na tomada de decisão, é aquela história de precisar combinar antes com os adversários”. Foi neste momento, como gestor, que ele se viu pela primeira vez exposto ao mercado, já que antes a experiência tinha sido toda interna.
Mas Edson não se fez de rogado. “Pude me conhecer melhor, quase um jogo de xadrez de mercado”. Na solidão das decisões, o pai quase sempre era o porto seguro. “Eu recorria ao doutor Airton, ao chefe. E ele foi sempre muito cauteloso. Não dizia o que fazer, mas ponderava as ideias. Era uma visão de gestão, sem comandar a empresa. Indicava balizamentos, mas não dizia o que devia ser feito. E aquilo me dava confiança. Era uma forma de me preparar para a vida, porque quando você dá a resposta pronta, resolve-se problema mais imediato, mas não prepara para os grandes desafios”.
Edson é o sexto neto de quinze de Yolanda Queiroz. Dela, a orientação sempre foi mais de moral do que de gestão. “Era mais ou menos querendo me dizer que eu era o verdadeiro responsável”. Dessa relação mais fora da empresa, impossível não ter como não ser influenciado pelo ambiente de casa. “Não tenho tanto os gostos refinados de meus pais. Mas a influência que eu tive deles, na minha vida pessoal, é que aprendi a me dedicar a certas coisas simples da vida.
Do pai, guarda os conselhos de ser presente em casa, ficar mais com os filhos, com a esposa. “Isso me fez entender que temos que ter a importância do que fazemos aqui como reflexo nas pessoas. A arte de viver é a busca do equilíbrio entre os extremos. Ter a dimensão do lado profissional e o da família. O que vai ficar de mim é a minha família e o trabalho é um tijolo que você vai deixando. E eu entendo a família quase como uma religião”.
É essa percepção holística de Edson, pai de três filhos, o mais novo de um ano e meio, e o mais velho de 10 anos, que lhe permite se doar para além das questões profissionais. “Eu e minha esposa nos completamos dedicando parte do nosso tempo a ações sociais. Apesar disso, procuro ser o mais presente possível com os filhos. Sou daqueles que acompanho na escola. Procuro estar sempre com eles nos finais de semana”.
No que diz respeito ao futuro, Edson Neto destaca que o seu caminho será garantir a continuidade da história da família e do grupo empresarial. “Eu nunca pensei em não trabalhar no grupo. Entendo que me foi dada uma condição nessa vida, que foi ter nascido nessa família e entendo isso como missão e pretendo cumpri-la, porque ao fazer isso, sei que também estou contribuindo para a melhoria da sociedade”.
Atualmente, Edson Neto é o diretor de Administração-Estruturação do grupo Edson Queiroz e é superintendente do Sistema Verdes Mares. Em 2017, foi nomeado Chanceler da Universidade de Fortaleza (Unifor).
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