Encontro Estadual de Mineração: painel com presidentes de sindicatos destaca contribuição da mineração cearense para o desenvolvimento regional
Durante o primeiro dia de 5º Encontro Estadual de Mineração e 1º Seminário de Minerais Estratégicos do Ceará, nesta quinta-feira (11/09), na Casa da Indústria, lideranças de sindicatos ligados ao setor mineral participaram de painel sobre "A Mineração Cearense no Desenvolvimento Regional". Participaram do debate Carlos Rubens Alencar, diretor financeiro adjunto da FIEC e presidente do Sindicato das Indústrias de Mármores, Granitos e Similares do Estado do Ceará (SIMAGRAN); Sérvulo José Moreira da Rocha, presidente do Sindicato das Indústrias Cerâmicas do Ceará (SINDCERÂMICA); Abdias Veras Filho, presidente do Sindicato das Indústrias de Extração e Beneficiamento de Rochas para Britagem no Estado do Ceará (SINDIBRITA); e Camila Fragoso, presidente do Sindicato das Indústrias de Águas Minerais, Cervejas e Bebidas em Geral do Estado do Ceará (SINDBEBIDAS).
Os dirigentes ressaltaram o papel estratégico da mineração e de seus segmentos associados para a economia cearense, destacando a geração de empregos, a arrecadação de tributos e o potencial de integração com diversas cadeias industriais, como construção civil, bebidas e insumos para obras de infraestrutura. Também discutiram desafios atuais, como a modernização tecnológica, a ampliação de investimentos em pesquisa geológica e a adoção de práticas cada vez mais sustentáveis.
Carlos Rubens enfatizou a importância do diálogo entre os setores produtivos e o poder público. Para ele, a representação sindical fortalece a comunicação institucional e gera oportunidades de desenvolvimento. “A união dos sindicatos, integrada à estrutura da federação, fortalece o associativismo e permite que as entidades apresentem seus projetos e resultados em eventos como este”, afirmou.
O presidente do SIMAGRAN também destacou a relevância das apresentações realizadas. “O Abdias, do SINDIBRITA, trouxe uma palestra de destaque; a Camila Fragoso, do SINDBEBIDAS, abordou inovação, saúde e conformidade legal no setor de água mineral; o Sérvulo apresentou avanços no segmento cerâmico; e eu complementei com informações sobre o setor de rochas ornamentais, ressaltando sua posição de liderança na mineração cearense”, disse.
O 5º Encontro Estadual de Mineração e o 1º Seminário de Minerais Estratégicos do Ceará são realizados em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC) e contam com apoio dos sindicatos ligados à FIEC — SIMAGRAN, SINDIMINERAIS, SINDIBRITA, SINDCERÂMICA, SINDBEBIDAS, SINDSAL e SINDIVERDE. A iniciativa reúne especialistas, empresários, gestores públicos e pesquisadores para debater inovação, sustentabilidade e os caminhos futuros da mineração. Também apoiam institucionalmente entidades e empresas como Datamine, CETEM, MCTI, Ceará Gold, Projeto Santa Quitéria, Lamppim, APGCE, Atlas Copco e Chaves S.A.
Temas abordados
Abdias Veras abriu a rodada de apresentações ressaltando a importância dos agregados — areia e brita —, os minerais mais consumidos do mundo depois da água e responsáveis por dois terços da produção mineral global. Ele fez um retrospecto histórico da exploração de brita no Ceará, iniciada em 1870, no Morro da Monguba, para a construção da ferrovia Fortaleza-Baturité. Hoje, Caucaia concentra a maior produção do estado.
Segundo o dirigente, o setor emprega diretamente 1.900 pessoas e indiretamente outras 9.500, beneficiando mais de 11 mil famílias, além de gerar R$ 3,6 milhões anuais em impostos. “A mineração de agregados é o alicerce do progresso cearense, com responsabilidade ambiental, geração de empregos e contribuição tributária. A brita é um indicativo de qualidade de vida”, afirmou.
Ele também destacou o compromisso do segmento com a sustentabilidade: 85% dos resíduos são reaproveitados — chegando a quase 100% em algumas unidades. Muitas empresas já utilizam energia solar e sistemas de reciclagem de água. Apesar do potencial de crescimento estimado em 108% até 2030, impulsionado por investimentos em infraestrutura, o setor ainda enfrenta entraves como a burocracia do licenciamento ambiental, conflitos territoriais com áreas urbanas e a perda de jazidas devido à legislação ambiental.
Na sequência, Camila Fragoso destacou a relevância da água mineral, classificada como um mineral essencial à vida. Ela explicou que a água mineral natural resulta da extração de um minério enriquecido em contato com rochas, o que lhe confere propriedades terapêuticas.
“Para ser considerada mineral, a água precisa apresentar ações medicamentosas, trazendo cálcio, potássio, magnésio e flúor. Não nos hidratamos apenas pelo líquido, mas também repomos sais minerais”, afirmou a presidente do SINDBEBIDAS.
Camila lembrou que a água mineral não pode receber aditivos nem passar por tratamento industrial, sendo naturalmente filtrada pela natureza. O processo de produção exige estudos geológicos, liberação da ANM, análises laboratoriais e captação em fontes ou poços que chegam a 140 metros de profundidade.
Ela também apontou desafios como a concorrência desleal e a falta de informação do consumidor sobre a diferença entre água mineral natural e outras águas. Muitos acabam comprando de envasadores sem alvará sanitário, o que prejudica a saúde pública e a indústria formal. Além disso, as fontes estão geralmente em áreas de preservação ambiental e de difícil acesso, encarecendo a operação.
Para combater a informalidade, foi implantado no Ceará o selo fiscal para água mineral e água adicionada de sais, que exige alvará sanitário e trabalhadores registrados. A medida elevou a arrecadação do setor, que chegou a quase R$ 70 milhões em ICMS em 2024, com expectativa de alta em 2025. Ainda assim, entre 2018 e 2023, o número de indústrias recuou de 33 para 21, reflexo da concorrência irregular e da desinformação do consumidor.
Em seguida, Sérvulo Moreira Rocha abordou a importância do setor cerâmico, que reúne mais de 400 unidades em quase 100 municípios — o equivalente a 60% do território cearense. Por depender da proximidade com jazidas de argila, a produção é fortemente regionalizada.
“Assim como o trigo é para o pão, a argila é para a cerâmica. Se o transporte for longo, o processo deixa de ser viável. Por isso, a produção se concentra junto às jazidas, gerando renda em áreas menos desenvolvidas”, explicou o presidente do SINDCERÂMICA.
Segundo ele, o setor emprega mão de obra local, muitas vezes sem qualificação formal, e integra toda a cadeia — da extração ao beneficiamento. O sindicato também fomenta parcerias com instituições de ensino e pesquisa. Um exemplo é o estudo realizado com o CETEM e o SIMAGRAN, que incorporou resíduos de granito descartados por marmorarias à massa cerâmica, resultando em produto de alto desempenho. Hoje, empresas como a Cerbras já utilizam o insumo em fábricas de porcelanato em Caucaia e Sobral.
Encerrando as apresentações, Carlos Rubens ressaltou o protagonismo do Ceará na produção de rochas ornamentais e na inovação de blocos cerâmicos. Ele destacou o reconhecimento internacional conquistado pelo estado com base em investimentos em caracterização tecnológica, liderança em normas da ABNT e participação em grupos da ISO. “As rochas mais desejadas do mundo para pisos e revestimentos são extraídas no Ceará”, afirmou, lembrando ainda a criatividade local que gerou até blocos cerâmicos vazados com desenhos de flores.
Para o futuro, Rubens defendeu a importância da compreensão pelo Estado de ter uma politica de desenvolvimento que incorpore a mineração como um setor portador de futuro. E também alertou que grandes projetos — como os de hidrogênio verde — dependem de recursos minerais. “Mesmo não sendo produzidos no Ceará, insumos essenciais como os usados em eletrolisadoras já estão comprometidos mundialmente até 2030. É urgente pensar em políticas estratégicas para o setor”, reforçou.
Mais da programação
O seminário contou ainda com apresentações sobre minerais estratégicos. Tercyo Rinaldo Gonçalves Pinéo, geólogo do Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM), abordou potencialidades e desafios; e Elenice Maria Schons Silva, professora da UFCAT, tratou de rotas de concentração de minerais portadores de nióbio.
Na sequência, foi realizada mesa-redonda sobre infraestrutura, tecnologia e inovação na cadeia produtiva, com participação de Ricardo Eudes Ribeiro Parahyba (ANM/CE), Francisco Valdir Silveira (SGB/CPRM), Cristiano Brandão (Galvani Fertilizantes), Stuart Castro (Deputado Estadual do Ceará) e Tássia de Melo Arraes (MCTI), mediada pela professora Tiany Guedes Costa (UFC).
A programação segue nesta sexta-feira (12/09), manhã e tarde, no mesmo local.