PEC dos gastos e as reformas necessárias

O texto base da Proposta de Emenda Constitucional 241 foi aprovado na comissão especial criada na Câmara dos Deputados, ficando para a próxima semana a decisão final sobre o assunto. Por essa Proposta, os gastos públicos não podem crescer em um ano mais do que a inflação do ano anterior, ou seja, não pode haver o chamado crescimento real desses gastos. O objetivo essencial é limitar as despesas, para que, havendo aumento de receita, o déficit do governo seja continuamente reduzido. A redução no rombo das contas públicas é necessária, pois reside aí justamente o motivo da atual e severa crise econômica brasileira.

É importante lembrar que o desequilíbrio nas contas do governo teve como consequência um aumento vertiginoso da dívida pública, tão expressivo que colocou o País como destino de alto risco para os investimentos internacionais. Portanto, se a raiz de nossa crise é fiscal, um forte ajuste nessa área é imprescindível. Afinal, precisamos superar essa fase de profunda retração da atividade econômica e de alto desemprego. Por isso, a regra imposta pela PEC 241 é tão rígida: o governo deverá passar os próximos 20 anos sem permitir crescimento real de suas despesas. Essa restrição poderá ser reavaliada – provavelmente a cada 9 anos -, mas só ficará mais flexível se o quadro econômico melhorar consideravelmente.

Naturalmente, a PEC não será capaz de fazer com que o Brasil volte a ter um crescimento econômico compatível com seu tamanho de mercado. Para essa finalidade, será importante conduzir as reformas trabalhista, tributária e da previdência, além de estimular fatores de competitividade como o capital humano, o ambiente de negócios, a absorção tecnológica e inovação. A Proposta que limita os gastos visa, na realidade, corrigir as distorções criadas pelo uso indevido do recurso público. Porém, há pelo menos duas importantes contribuições além dessa linha principal.

Primeiramente, em termos de curto prazo, a PEC deverá ajudar para redução da taxa de juros, ao modificar um cenário que vem ocorrendo há algum tempo no Brasil: o excesso de gastos do governo pressionando a inflação, obrigando o Banco Central a fixar juros muito altos para conter o aumento dos preços. Outro aspecto favorável, e que também interessa de perto o setor produtivo, é que, com a PEC, o governo não precisará recorrer a aumentos de impostos para reequilibrar suas contas, pois esse controle se daria pela eficiente gestão do gasto público. Dessa forma, com juros menores e sem a pressão nos custos de produção pelo aumento de carga tributária, o investimento privado seria novamente estimulado, pavimentando o caminho para a retomada da economia brasileira.

Confira as edições anteriores da Análise Econômica Semanal:

30/09 - O Brasil e o ranking de competitividade econômica

23/09 - Avanços e riscos de um novo modelo de ensino médio

16/09 - O primeiro pacote de concessões

09/09 - O IDEB e os impactos na economia

19/08 - Dívida dos Estados e a necessidade de superar as ineficiências institucionais

05/08 - A queda da inflação e a revisão dos juros

29/07 - Déficit nas contas públicas: solução passa por investimentos e exportações

22/07 - Mudança na SELIC terá que vir acompanhada de medidas fiscais

15/07 - Precisamos aproveitar o cenário favorável

08/07 - Respeito às restrições do orçamento é imprescindível para alcançar meta fiscal

01/07 - O elemento central para a retomada da econonomia

24/06O "Brexit" como mais um desafio para a agenda internacional brasileira

17/06 - Sinais de confiança na retomada da economia

10/06 - Foco no cumprimento da meta de inflação

03/06 - No Caminho da austeridade

27/05 - Primeiras medidas evitam agravamento do quadro fiscal

20/05 -  Controle das contas públicas e a eficiente gestão do gasto

13/05 - Competitividade, chave para retomada do crescimento

06/05 -  A premissa da eficiência do gasto público

29/04 - O equilíbrio que se faz necessário nesse momento

22/04 - Os desafios do pós-Dilma

15/04 - Próximos dias darão o tom sobre as incertezas

08/04 - Um governo novo ou um "novo governo?

01/04 - FUTURO: Uma construção coletiva

24/03 - Não há saída sem a recuperação da confiança

18/03 - Destaques econômicos em segundo plano

11/03 - Os humores da política

04/03 - Efeitos da Lava Jato na economia

26/02 - Até que enfim, um sopro de positividade

19/02 - Programação Orçamentária e Financeira para 2016: cortes de gastos de R$ 24 bilhões

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