O "Brexit" como mais um desafio para a agenda internacional brasileira

O "Brexit" como mais um desafio para a agenda internacional brasileira

O Reino Unido, em votação histórica, decidiu deixar a União Europeia, o bloco político e econômico que hoje reúne 28 países. Apesar de o processo ainda precisar passar pelo Parlamento, é pouquíssimo provável que essa ação seja revertida. Nessa direção, a ruptura – o chamado Brexit, fusão das palavras “britânica” e “saída” em inglês – será negociada nos próximos dois anos.

O mercado financeiro mundial reagiu negativamente a essa decisão dos britânicos. As bolsas na Ásia-Pacífico, por exemplo, tiveram um dia de expressivas retrações - Tóquio (–7,22%), Hong Kong (-4,67%) e Seul (-4,09%). A libra, por sua vez, teve alta desvalorização frente ao dólar – na Ásia, essa queda foi a maior dos últimos 31 anos. Esse comportamento do mercado é causado pelas fortes incertezas sobre os efeitos econômicos globais dessa ruptura. Nessa direção, algumas observações podem ser feitas.

Em primeiro lugar, há dúvidas sobre a organização da economia britânica, e como esta sofrerá com uma eventual perda de confiança no gerenciamento de suas contas públicas. Em segundo, como a estrutura da União Europeia está baseada nas economias da Alemanha, França e Reino Unido, é natural que se pairem dúvidas sobre o futuro do bloco – os argumentos em prol da saída destacam justamente que o Reino Unido contribui muito mais do que recebe da UE. Ademais, é provável que haja uma onda separatista, em uma espécie de “efeito-dominó”, e países como, por exemplo, a Escócia, que discute há muitos anos sua independência, podem também optar pela saída do bloco.

Os efeitos sobre o Brasil, por sua vez, incluem uma provável maior liberdade de negociação com os britânicos, com boas possibilidades dos entraves à exportação de produtos brasileiros pela UE serem eliminados em uma relação bilateral simples. Por outro lado, o Brexit certamente irá provocar distúrbios externos, afetando os negócios na Europa e, especificamente, na China, nossa importante parceira comercial, que possui forte relação com o Reino Unido e que, ainda por cima, está passando por um processo de desaceleração econômica.

Ressalte-se ainda que a decisão dos britânicos deverá retardar ainda mais os acertos comerciais entre a União Europeia e o Mercosul, afinal, a prioridade agora para o bloco europeu é mesmo resolver seu forte problema interno. Naturalmente, essa instabilidade global não nos é favorável, especialmente pelo nosso atual quadro de recessão e tentativa de retomada dos investimentos. Trata-se, portanto, de mais um desafio para a agenda internacional brasileira.

Confira as edições anteriores da Análise Econômica Semanal:

17/06 - Sinais de confiança na retomada da economia

10/06 - Foco no cumprimento da meta de inflação

03/06 - No Caminho da austeridade

27/05 - Primeiras medidas evitam agravamento do quadro fiscal

20/05 -  Controle das contas públicas e a eficiente gestão do gasto

13/05 - Competitividade, chave para retomada do crescimento

06/05 -  A premissa da eficiência do gasto público

29/04 - O equilíbrio que se faz necessário nesse momento

22/04 - Os desafios do pós-Dilma

15/04 - Próximos dias darão o tom sobre as incertezas

08/04 - Um governo novo ou um "novo governo?

01/04 - FUTURO: Uma construção coletiva

24/03 - Não há saída sem a recuperação da confiança

18/03 - Destaques econômicos em segundo plano

11/03 - Os humores da política

04/03 - Efeitos da Lava Jato na economia

26/02 - Até que enfim, um sopro de positividade

19/02 - Programação Orçamentária e Financeira para 2016: cortes de gastos de R$ 24 bilhões

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