Discurso do presidente da FIEC, Beto Studart, durante encontro da presidente Dilma Rousseff com empresários cearenses nesta sexta-feira (28/8)

Exma. Senhora Presidente Dilma Rousseff,

Exmo. Sr. Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Amigo Armando Monteiro,

Exmo. Sr. Ministro do Planejamento Nelson Barbosa,

Exma. Sra. Ministra Kátia Abreu,

Exmo. Sr. Governador do Estado do Ceará, amigo Camilo Santana,

Amigos empresários...

Estamos muito satisfeitos em fazer parte desse momento importante do nosso Estado, quando o governador Camilo Santana anfitriona a Presidente Dilma Rousseff e sua comitiva, e reúne tantas pessoas de diferentes setores da economia, de diferentes pensamentos, em um grande evento cujo título é tão simbólico quanto esperançoso. Este "Dialoga Ceará" diz muito de nós, cearenses, sempre abertos, prontos a receber, animados em construir laços, em interagir, em unir para crescer.

Porém, devo dizer que essa satisfação com a qual nos encontramos nesta tarde, está longe de ser o sentimento do nosso cotidiano, porque o cenário que nós, do setor produtivo brasileiro, enfrentamos, não nos permite maiores lampejos de euforia.

Mas é com um enorme senso de responsabilidade que enalteço, em nome da Federação das Indústrias do Estado do Ceará – FIEC e dos industriais do nosso Estado, a oportunidade de nos fazer ouvir pela Presidente Dilma Rousseff e alguns de seus mais importantes ministros.

Graças à capacidade aglutinadora, ao espírito público e à visão coletiva do nosso governador, e também ao empenho do Ministro Armando Monteiro, esse momento se fez possível. Deste encontro, não seria honesto dizer que esperamos obter respostas para todos os problemas que se avolumam sobre nós. Mas é nosso dever registrar, de modo franco, de peito aberto, o descontentamento diante do quadro econômico nacional. É nossa missão trazer à tona aquilo que enxergamos como equívocos que devem ser corrigidos, e cobrar, direta e energicamente, uma tomada de posição imediata e assertiva para salvar nosso país e para aventar uma retomada do crescimento, ainda que num prazo não tão breve.

De modo geral, nós, industriais, nos vangloriamos de sermos visionários, somos tidos como otimistas, mas, no dia a dia, estamos vendo esta essência ser arrancada de nós. Mais especificamente nos últimos meses, tem sido doloroso empreender no Brasil, tem sido torturante produzir, tem sido impossível manter a confiança de que sairemos inteiros destas dificuldades.

 Vimos acumular queda na produção industrial brasileira em torno de -6,5% nos últimos seis meses, e de -8% no Ceará, numa consequência direta da terrível redução da demanda nacional e também por força de problemas estruturais da economia, que reduzem drasticamente a competitividade dos produtos nacionais, em inúmeros setores da nossa indústria.

No que se refere ao emprego, além dos números propriamente ditos, nos assombra a velocidade com que tem acontecido as perdas dos postos de trabalho, denotando quanto essa crise pode alongar-se. Apenas neste ano, no Brasil, foram quase 400mil demissões, num reflexo da ociosidade da produção e das incertezas econômicas.

No nosso Estado, foram suprimidas 35mil vagas na Indústria, o que representa cerca de 10% de um universo já restrito de 350mil empregos no nosso setor. Se esses números não são ainda maiores, é porque parte do empresariado conseguiu minimizar demissões com alguns artifícios, como a utilização de férias coletivas e o uso de banco de horas. Mas esse lastro já está sendo consumido em mais e mais empresas, e, portanto, o drama do desemprego pode ser ainda mais profundo.

Na construção civil, por exemplo, setor dos mais fortes, entre os maiores empregadores,  especialmente no nosso Estado, os sucessivos atrasos dos pagamentos referentes ao Projeto Minha Casa Minha Vida, chegando a R$ 160 milhões, impactam irremediavelmente sobre as construtoras. Caso não seja feita a devida regularização, estimamos que haja, já na próxima semana, uma leva de 4mil novas demissões que se somarão a outras 5mil já realizadas por este segmento econômico, apenas no Ceará.

No setor metal-mecânico, o cerco também está apertando, fazendo com que entre em forte desaceleração. Outros setores importantíssimos, como couro, calçados, confecções e alimentos também sentem fortemente o golpe da recessão e engrossam as fileiras dos setores em declínio.
 
Presidente Dilma, como é de conhecimento, por mais de 70 anos, o Nordeste tem mantido o PIB per capita médio inferior a 50% do PIB per capita brasileiro. Este é um desempenho muito aquém do potencial da nossa região, e não podemos aceitar continuar nesse patamar, porque nós podemos muito mais, podemos gerar riqueza para nossa sociedade, temos muito mais a oferecer para o Brasil.

Perceba, Presidente Dilma Rousseff, é um sofrimento analisar o passado recente, é angustiante viver o presente, mas o pior tem sido o desalento ao olhar para frente. Afinal, como podemos ser otimistas, se nos vemos obrigados a cortar empregos, enquanto o Governo se arrasta nos ajustes da máquina pública e nos traz de volta a malfadada CPMF que dispensa comentários?

 Respostas retóricas não nos bastam. Otimismo não recupera-se com o verbo. Precisamos de ação, de urgência, de foco, de verdade! Estamos aqui, abertos ao diálogo, mas palavras não nos convencem. São as atitudes efetivas que poderão nos reerguer.

Atitudes corajosas como uma reforma significativa na máquina pública, hoje reconhecidamente ineficiente, não demitindo apenas 1.000 pessoas, como divulgado, que é um montante irrelevante, mas fazendo um estudo profundo da real necessidade de corte para tornar o Estado eficiente. O superávit não vem pela ampliação de impostos, seria catastrófico, e sim por uma grande racionalização da máquina pública evitando desperdícios.
 
A verdade é que, efetivamente, o Governo Federal ainda não apresentou as saídas adequadas para esse momento agudo da economia. Para corroborar, tivemos hoje a confirmação da recessão, que sentíamos na própria pele há tempos e que nos devasta.

Para não dizer que só há desesperança, Presidente, ressalto o prenúncio da chegada das águas do Rio São Francisco ao Canal da Transposição, num feito histórico que trará a segurança do abastecimento de água para a população e para atividades produtivas de vários estados do Nordeste e, em particular, para o nosso Ceará.

 Ainda que o volume liberado seja muito pequeno em relação à disponibilidade, vislumbrar que as obras se completem até o próximo ano, é um acalanto para nossa população. Mas é preciso que os prazos se cumpram, porque os efeitos da estiagem no nosso sertão já são sentidos e são verdadeiramente cruéis.

Outra obra da maior importância para o Nordeste é a Transnordestina, que vai permitir maior competitividade na produção agrícola e mineral da região, numa transformação positiva da nossa logística. A viabilização de sua continuidade e a sua conclusão significam uma grande abertura de oportunidades econômicas para regiões semi-áridas antes sem perspectiva. Também pelo ritmo atual das obras, é imperativo que o Governo Federal assegure sua continuidade.

Presidente, não permita que se instale a indústria de recuperação judicial, RJ, entre os empresários do nosso Estado, na eminência de acontecer, e colabore, por favor, com o governador Camilo Santana para que ele possa dar continuidade aos seus projetos estruturantes, fundamentais para o nosso desenvolvimento, saindo do marasmo atual.

Por fim, Presidente Dilma, meus amigos, ainda que encobertos por toda essa névoa de desencantamento e sob a sensação de navegarmos num barco sem leme, nós somos todos brasileiros e, como sabemos, não desistimos nunca.

É por isso que estamos aqui reunidos hoje, desejando fortemente que Deus ilumine a todos, e a senhora em particular, para que, enfim, possa ser encontrado o caminho para dias melhores.

Muito obrigado.

BETO STUDART

Presidente da Federação da Indústrias do Estado do Ceará- FIEC

(85) 3421.5916 / Av. Barão de Studart, 1980, Aldeota - Fortaleza-CE
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