Artigo: Custos e competitividade na indústria - Uma nova visão sobre a mão de obra direta

Por Danielle Porto

Diante de um mercado desafiador, decisões rápidas e assertivas são fundamentais para o sucesso dos negócios. Pensar “fora da caixinha” nunca foi um termo tão apropriado no quesito custos em função da necessidade de alinhamento com o quesito competitividade.

Mão de obra direta costuma ser um custo relevante nas indústrias, e tradicionalmente é considerada como custo variável direto, pois varia conforme cada unidade produzida. Esse conceito é amplamente aceito pelo método de custeio tradicional, chamado custeio por absorção, aceito pelo fisco e adotado pela contabilidade.

Porém, as ineficiências geradas pela mão de obra direta no processo de fabricação, por este método, são incluídas no custo de produção do período, o que pode comprometer a competitividade da empresa. Muitas vezes existe uma grande distância entre o que foi apontado na ficha técnica do produto e o que ocorre no chão de fábrica, por isso é necessário que o PCP (planejamento e controle de produção) seja eficiente e eficaz no sentido de reduzir as ineficiências, aumentando produtividade.

Não afirmo aqui que o método de custeio por absorção não tenha seu valor, logicamente é importante conhecer o custo de fabricação contemplando todos os gastos da fábrica, sejam eles diretos ou indiretos, estudiosos como o autor Eliseu Martins demonstram a importância deste método de forma brilhante. Porém, a visão apresentada pelo método de absorção não traz clareza na tomada de decisão, principalmente, pelo rateio dos custos indiretos, que muitas vezes beneficiam determinado produto em detrimento de outro. Os custos têm naturezas diferentes, e unir custos de natureza fixa e variável dentro de um produto não nos permite, por exemplo, uma análise clara de cenários futuros, este é um dos motivos pelos quais não adotamos, a nível gerencial, o método de custeio por absorção.

Na visão de custos voltada à competitividade, adotamos o método de custeio direto ou variável, e nele consideramos mão de obra direta como custo fixo, ou seja, um custo estrutural do negócio e não desta ou daquela unidade de produto, até porque, independentemente de quantidade produzida, haverá o custo incorrido e este terá que ser cumprido ao final do período.

Outra justificativa é o surgimento da Indústria 4.0, que engloba tecnologias para automação e troca de dados, utilizando conceitos de Internet das Coisas, Big Data e Computação na nuvem, neste cenário, o volume de produção estará mais dependente de máquinas do que de pessoas, o que consolida o papel estrutural e fixo do custo da mão de obra direta nas fábricas.

Esta visão é inovadora e completamente voltada à tomada de decisão como foco na competitividade, pois a margem de contribuição de um produto será formada pelo valor da receita líquida menos custos variáveis (matéria prima e insumos) e despesas variáveis, e o que restar terá que cobrir os custos fixos diretos (mão de obra direta) e fixos indiretos (gastos gerais de fabricação), bem como as despesas fixas do negócio, gerando lucro ao final.

Neste aspecto, considerar que a definição do preço de um produto dependerá de diversos fatores como: custos, posicionamento da marca, mercado, concorrentes, valor percebido pelo cliente, ciclo de vida, dentre outros, nos faz perceber que cada produto “contribui” para formar o lucro de maneiras diferentes, alguns com maiores margens e menores volumes, outros com menores margens mas com larga escala, porém, no final do período, a melhor combinação do mix de produção e vendas, aliado à produtividade e eficiência da fábrica farão com que a indústria seja competitiva e rentável.

Em nosso entendimento, custos deve estar completamente alinhado à competitividade, saber quanto custa produzir, planejar e controlar o processo produtivo de forma eficiente e eficaz nunca será algo obsoleto, e apesar de custos não ser o único fator na decisão de preços, este sempre será fundamental para a maximização dos resultados de um negócio.

Artigo de Danielle Porto
Consultora do Instituto Euvaldo Lodi (IEL Ceará)
Consultoria nas áreas de Custos e Competitividade.
Diretora Vogal do IBEF Ceará

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