Artigo: Sobre as Narrativas de Sustentabilidade

Há alguns dias me deparo com as repercussões do relatório produzido pela Fundação Minderoo, intitulado Plastic Waste Makers Index, que mapeou os produtores de resinas plásticas e concluiu que vinte empresas são responsáveis pela produção mundial de mais de cinquenta por cento do plástico descartável.

Outra notícia muito recente foi que a empresa Tesla Motors, fabricante dos mais famosos carros elétricos do mundo, sinônimo de Inovação e Sustentabilidade, deixou de receber o Bitcoin na venda de seus produtos. A explicação oficial foi que a operação dessa criptomoeda gera grande quantidade de emissões de carbono, e por isso não seria sustentável.

Nesse ponto, gostaria de apresentar dois termos. O primeiro é Sofisma, que segundo o dicionário online Michaellis, trata-se de um argumento ou raciocínio deliberadamente enganoso, com aparência de verdadeiro, com o objetivo de enganar alguém; evasiva, falácia, torcedura. O segundo é Dicotomia, que segundo o dicionário Priberam, trata-se da divisão de um conceito em dois outros que abrangem toda a sua extensão; conceitos esses normalmente antagônicos, a exemplo: claro e escuro, bom e mal, etc.

Dito isso, posso afirmar que estamos diante de dois Sofismas. No tocante ao Relatório produzido pela Minderoo, sua investigação foi precisa em apontar as fontes da matéria prima. A racionalização dos dados obtidos, no entanto, foi enganosa e perigosa, na medida em que responsabilizou apenas às petrolíferas na questão dos plásticos descartados de forma incorreta, e excluiu toda a responsabilidade do Indivíduo. Não é meu objetivo enumerar as vantagens e serventias dos Plásticos, mas sua utilização e descarte é uma ação humana, e tem que ser percebida como tal.

No caso da Tesla, o discurso de Sustentabilidade é facilmente desmontado quando observamos, por exemplo, que uma das suas autointituladas Megafabrica fica na China que, por sua vez, tem como base de sua matriz energética o carvão mineral. Ora, quanto de emissão de carbono é necessária para produção de cada veículo que não causa emissão? É sustentável a produção usando carvão, mas não é a utilização uma moeda digital como forma de pagamento?

Numa visão apenas focada no descarte dos materiais, sejam eles descartáveis ou não, a solução necessariamente terá que passar pela Reciclagem, que deverá ser uma das principais práticas adotadas numa Economia Circular eficiente. O plástico é uma matéria prima que, como qualquer outra, tem um uso eficiente e comprovado; mas, não podemos nos ater apenas ao Uso, o que está provocando enormes danos ambientais – não só com o plástico, mas com todos os resíduos e rejeitos, de todos o materiais – é falta de uma cadeia de Pós Uso.

Sei que não é fácil, nem conveniente, mas temos que abandonar a falsa narrativa dicotômica entre o Sustentável e o Poluente, e aprender de uma vez por todas que  apenas através da Educação Ambiental do indivíduo e da adoção de Macropolíticas governamentais que poderemos enfrentar essa crise sanitária em que vivemos, de forma a não apenas evitar, mas também mitigar seus efeitos ao meio ambiente.

Bruno Bertrand, Diretor Técnico do Sindiverde.

(85) 3421.5916 / Av. Barão de Studart, 1980, Aldeota - Fortaleza-CE
© Todos os direitos reservados ao NUMA