Um ano de governo Temer: o que preocupa e o que tranquiliza em termos econômicos


 

Michel Temer se tornou presidente há exatamente um ano, no dia 12 de maio de 2016, em razão do afastamento de Dilma Rousseff. Neste momento, em termos de avaliação econômica, pode-se afirmar que seu governo deverá ficar marcado pela condução do final de uma das maiores crises econômicas da história do país, pela limitação, em termos reais, das despesas públicas e, se aprovados pelo Congresso, por importantes legados institucionais como as reformas da previdência e trabalhista. Por outro lado, a recuperação da economia deverá ser muito lenta, em virtude das persistentes dificuldades no mercado de trabalho e no acesso ao crédito e pelo cenário externo de menor dinamismo. Entretanto, a mais expressiva fonte de preocupação seguirá sendo a deterioração das contas do setor público.

Nessa direção, especificamente sobre o desempenho da economia neste primeiro ano de governo Temer, os maiores destaques positivos foram o controle da inflação, a redução dos juros de referência e o menor risco de se investir no Brasil:

  • Inflação: em razão da menor atividade econômica, sofreu uma diminuição vertiginosa, passando de 9,27% em abril de 2016, para 4,08% um ano depois, com projeção de 4,01% para o final deste ano e 4,39% para 2018. Ou seja, cumpriremos as metas de inflação deste e do próximo ano, o que será fundamental para que os juros permaneçam em queda.
     
  • Juros de Referência (Taxa SELIC): permaneceram em impressionantes 14,25% ao ano, de julho de 2015 até outubro de 2016, mas, a partir daí, sofreram diversos cortes, até que atingissem o nível atual, de 11,25%. Em termos de projeções, mercado aposta em Selic igual a 8,50% para este ano e entre 8,5% e 9,0% em 2018. A redução dos juros é uma das condições necessárias para o retorno dos investimentos.
     
  • Risco aos Investimentos: o chamado risco-Brasil, adicional pago pelo país em relação aos juros americanos, que chegou a 533 pontos em setembro de 2015, quando perdemos o selo de bom pagador da agência internacional Standard & Poor’s, atualmente apresenta o menor nível desde 30 de janeiro de 2015: 205 pontos, isto é, apenas 2,05 pontos percentuais acima dos juros dos EUA. Como consequência, tem-se o aumento de investimentos estrangeiros, os quais passarão de US$ 78,9 bilhões em 2016 para US$ 85,0 bilhões em 2017 e US$ 95,0 bilhões em 2018.

Por outro lado, em termos das perspectivas para o próximo ano de governo Temer, alguns fatores permanecerão limitando o crescimento da economia, e a situação das contas do setor público seguirá sendo determinante para o sucesso dessa retomada:

  • Baixo crescimento em 2017: as condições ainda não são favoráveis no mercado de trabalho (a taxa de desemprego deve aumentar de 11,5% ao ano em 2016 para 13,1% em 2017) e no acesso ao crédito, e isso dificultará uma retomada mais expressiva do consumo das famílias. Outra barreira é a queda na participação das exportações, em virtude do menor crescimento da economia mundial.
     
  • Deterioração Fiscal: projeções feitas a partir das condições atuais das contas públicas, apontam que o pagamento de juros será próximo de 6,7% do PIB em 2017 e 6,0% em 2018, fazendo com que tenhamos déficit nominal de -9,5% do PIB em 2017 e -8,5% em 2018. Em resumo, a situação fiscal do governo seguirá gravíssima.

Diante dessas perspectivas, são imprescindíveis as aprovações pelo Congresso das reformas encaminhadas por Temer, notadamente a da Previdência. Sem elas, ficarão comprometidos os investimentos e a prestação de serviços pelo governo, além de elevar a incerteza sobre a solvência fiscal, isto é, a capacidade do país de pagar suas dívidas, o que praticamente inviabilizaria a execução de investimentos privados, determinando um cenário de estagnação econômica.

Portanto, se o primeiro ano de governo Temer forneceu claras razões econômicas para se acreditar em uma retomada, mesmo que lenta e gradual, por outro, o crescimento da renda nacional seguirá dependendo, de fato, das decisões no campo político.

Confira as edições anteriores da Análise Econômica Semanal:

28/04 - Para não aprofundar recessão e desemprego

20/04 - Reformas trabalhista e tributária: para elevar a produtividade

13/04 - Corte nos juros e reforma trabalhista: avanços em tempos de tormenta política

31/03 - O orçamento mais rígido do mundo

24/03 - Mais eficiência e menos tributos: como resolver o rombo de R$ 58,2 bilhões

17/03 - Desafio: cumprir a meta fiscal sem aumento de impostos

10/03 - Retomada, mesmo que lenta e gradual: motivos para acreditar

03/03 - Os números e a realidade da Previdência

24/02 - Superávit das contas públicas em janeiro e a disposição para atingir a meta fiscal

17/02 - A retomada da confiança

10/02 - Monitorando os avanços

03/02 - Medidas microeconômicas do Banco Central melhoram ambiente de negócios

27/01 - Sinais positivos

20/01 - O potencial de crescimento e os seus riscos

13/01 - As boas notícias e os ajustes necessários

07/01 - A retomada virá em 2017

16/12 - Melhoria do ambiente de negócios

09/12 - Pressupostos da recuperação da economia

02/12 - A volta da instabilidade política

25/11 - Crise política: persistente pedra no caminho de nossa recuperação econômica

18/11 - Crise é mais profunda do que se imaginava

11/11 - Endividamento: freio à retomada do crescimento

04/11 - O risco Trump

28/10 - Conter gastos públicos é necessário para a retomada econômica

21/10 - Por que os juros não caíram mais?

14/10 - Repatriação e investimentos: reforços no caixa

07/10 - PEC dos gastos e as reformas necessárias

30/09 - O Brasil e o ranking de competitividade econômica

23/09 - Avanços e riscos de um novo modelo de ensino médio

16/09 - O primeiro pacote de concessões

09/09 - O IDEB e os impactos na economia

18/08 - Dívida dos Estados e a necessidade de superar as ineficiências institucionais

05/08 - A queda da inflação e a revisão dos juros

29/07 - Déficit nas contas públicas: solução passa por investimentos e exportações

22/07 - Mudança na SELIC terá que vir acompanhada de medidas fiscais

15/07 - Precisamos aproveitar o cenário favorável

08/07 - Respeito às restrições do orçamento é imprescindível para alcançar meta fiscal

01/07 - O elemento central para a retomada da econonomia

24/06 - O "Brexit" como mais um desafio para a agenda internacional brasileira

17/06 - Sinais de confiança na retomada da economia

10/06 - Foco no cumprimento da meta de inflação

03/06 - No Caminho da austeridade

27/05 - Primeiras medidas evitam agravamento do quadro fiscal

20/05 - Controle das contas públicas e a eficiente gestão do gasto

13/05 - Competitividade, chave para retomada do crescimento

06/05 -  A premissa da eficiência do gasto público

29/04 - O equilíbrio que se faz necessário nesse momento

22/04 - Os desafios do pós-Dilma

15/04 - Próximos dias darão o tom sobre as incertezas

08/04 - Um governo novo ou um "novo governo?

01/04 - FUTURO: Uma construção coletiva

24/03 - Não há saída sem a recuperação da confiança

18/03 - Destaques econômicos em segundo plano

11/03 - Os humores da política

04/03 - Efeitos da Lava Jato na economia

26/02 - Até que enfim, um sopro de positividade

19/02 - Programação Orçamentária e Financeira para 2016: cortes de gastos de R$ 24 bilhões

05/5 - Desempenho setorial instável: etapa anterior à retomada econômica

(85) 3421.5916 / Av. Barão de Studart, 1980, Aldeota - Fortaleza-CE
© Todos os direitos reservados ao NUMA