Crise é mais profunda do que se imaginava

No próximo dia 30 o IBGE divulgará o PIB do 3º trimestre deste ano. As perspectivas de mercado apontam para uma queda em torno de 1%. Caso isso se confirme, o crescimento da nossa economia em 2017 deverá ficar abaixo de 1%, ou seja, teremos mais um ano muito difícil. E isso ocorrerá mesmo com a previsão de um crescimento de 13% a 14% da safra de grãos.

As razões para tanto são a herança da gestão federal anterior – crise mais profunda do que se esperava – e o descontrole das finanças dos estados, também mais grave do que se conhecia, e acentuado pela expressiva redução de arrecadação dos dois últimos anos, pela elevação dos gastos com pessoal e pelos desvios provocados pela corrupção – a prisão do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, reflete exatamente esse quadro.

Em termos de contas públicas, o restante deste ano deverá ser pior do que se vinha projetando. A expectativa de déficit do governo central (Tesouro, Previdência e Banco Central) para novembro passou de R$ 22,7 bilhões para R$ 33 bilhões, enquanto que para dezembro, de R$ 25,8 bilhões para R$ 34 bilhões. Para 2017, o déficit deverá ser de R$ 139 bilhões (algo como 2,04% do PIB). O resultado das contas do governo só não é mais grave por causa da entrada dos recursos do programa de regularização de ativos no exterior, a chamada repatriação. Em outubro, o governo arrecadou R$ 46,8 bilhões com esse programa, do qual parte será dividido com estados e municípios.

Relativamente ao cenário internacional, a eleição de Donald Trump para presidência dos EUA deverá se constituir em um novo complicador, afinal o plano de gastos prometido pelo republicano trará mais riscos a países emergentes como o Brasil, por elevar a taxa de juros americana e valorizar o dólar, estimulando a migração de investimentos para o mercado mais poderoso.

Diante das incertezas mundiais, de um cenário de baixo crescimento para 2017 e de um ajuste fiscal que só será efetivo daqui a dois anos, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou relatório nesta semana em que recomenda para o Brasil o aumento de impostos (no primeiro momento, CIDE, sobre combustíveis, PIS/COFINS e IOF para novos empréstimos).

Ademais, para contenção de despesas, o Fundo indica que estados adotem a mesma regra da PEC 241. A resposta do governo brasileiro para essas recomendações foi a de que está descartada a elevação de tributos, bem como de que não há condições satisfatórias para um esforço fiscal maior do que o já proposto.

Dessa forma, o governo segue convicto sobre os dois caminhos para a retomada de nossa economia, ambos sem aumento de carga tributária. Um, pelo controle das despesas públicas. É esperada a aprovação no Congresso, em segundo turno, da PEC 241, bem como o envio da reforma da Previdência. O outro, pela redução dos juros. A diminuição da SELIC, que se iniciou em outubro, deverá continuar nos próximos meses, por causa da trajetória descendente da inflação, influenciando positivamente a decisão de investimentos e potencializando, inclusive, a solução para o endividamento das empresas.

Portanto, com uma conjuntura atual repleta de incerteza em termos globais, com baixa arrecadação e preocupante volume de despesas, a retomada poderá demorar mais do que desejamos, e certamente dependerá do sucesso em termos do ajuste fiscal e da redução dos juros.

Confira as edições anteriores da Análise Econômica Semanal:

11/4 - Endividamento: freio à retomada do crescimento

4/11 - O risco Trump

28/10 - Conter gastos públicos é necessário para a retomada econômica

21/10 - Por que os juros não caíram mais?

14/10 - Repatriação e investimentos: reforços no caixa

7/10PEC dos gastos e as reformas necessárias

30/09 - O Brasil e o ranking de competitividade econômica

23/09 - Avanços e riscos de um novo modelo de ensino médio

16/09 - O primeiro pacote de concessões

09/09 - O IDEB e os impactos na economia

19/08 - Dívida dos Estados e a necessidade de superar as ineficiências institucionais

05/08 - A queda da inflação e a revisão dos juros

29/07 - Déficit nas contas públicas: solução passa por investimentos e exportações

22/07 - Mudança na SELIC terá que vir acompanhada de medidas fiscais

15/07 - Precisamos aproveitar o cenário favorável

08/07 - Respeito às restrições do orçamento é imprescindível para alcançar meta fiscal

01/07 - O elemento central para a retomada da econonomia

24/06O "Brexit" como mais um desafio para a agenda internacional brasileira

17/06 - Sinais de confiança na retomada da economia

10/06 - Foco no cumprimento da meta de inflação

03/06 - No Caminho da austeridade

27/05 - Primeiras medidas evitam agravamento do quadro fiscal

20/05 -  Controle das contas públicas e a eficiente gestão do gasto

13/05 - Competitividade, chave para retomada do crescimento

06/05 -  A premissa da eficiência do gasto público

29/04 - O equilíbrio que se faz necessário nesse momento

22/04 - Os desafios do pós-Dilma

15/04 - Próximos dias darão o tom sobre as incertezas

08/04 - Um governo novo ou um "novo governo?

01/04 - FUTURO: Uma construção coletiva

24/03 - Não há saída sem a recuperação da confiança

18/03 - Destaques econômicos em segundo plano

11/03 - Os humores da política

04/03 - Efeitos da Lava Jato na economia

26/02 - Até que enfim, um sopro de positividade

19/02 - Programação Orçamentária e Financeira para 2016: cortes de gastos de R$ 24 bilhões

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