[Discurso] Jorge Parente Frota Júnior

DISCURSO DO PRESIDENTE DA FIEC, JORGE PARENTE, NA HOMENAGEM A CELSO FURTADO, POR OCASIÃO DA SOLENIDADE DE ENTREGA DA MEDALHA DO MÉRITO INDUSTRIAL.
RIO DE JANEIRO, 21.11. 2001.

Meus Senhores,
Nascido no sertão nordestino, conhecedor, portanto, desde os seus estudos primários feitos em escola pública, das dificuldades centenárias de um povo sofrido, o Prof. CELSO FURTADO, nosso homenageado, ao chegar ao Rio de Janeiro para ingressar no curso superior, deparou-se de logo com as flagrantes diferenças existentes entre o seu povo nordestino e uma classe rica dotada de outro padrão social, econômico e cultural.
No convívio amiudado que passou a ter com a elite cultural brasileira, pôde desenvolver sua extraordinária aptidão para a cultura, o que viria a lhe proporcionar posição de destaque no cenário acadêmico internacional, consolidada pelo brilhantismo do seu primeiro doutorado obtido na conceituada Universidade francesa de Sorbone.
Com esse cabedal de conhecimentos, aprofundou seus estudos na interpretação dos questionamentos sobre as dificuldades brasileiras, principalmente quanto à gritante desigualdade inter-regional.
Participou, como profundo conhecedor das mazelas sociais nordestinas e como renomado desenvolvimentista, da primeira instituição então recentemente criada com foco para os estudos econômicos da América Latina - a CEPAL, onde desenvolveu abalizadas análises e importantes pesquisas sobre as disparidades existentes entre os 3º e 1º mundos.
Entendia, já nesses tempos, que somente uma solução estruturalista, que passou a perseguir com todo denodo, em contraposição com a linha monetarista defendida pelos homens do governo, poderia reduzir essas tamanhas dificuldades, diminuindo o vergonhoso fosso inter-regional.
Com esse propósito, pretendeu infundir no país uma linha de ações voltadas para o planejamento, tendo participado, com muito relevo, da criação do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico, o então BNDE, organismo que desempenhou papel fundamental na instituição de linhas de crédito destinadas a promover o desenvolvimento do país.
Foi no permeio dessas ações, e perfeitamente sintonizado com as idéias estruturalistas do Governo Juscelino Kubitscheck, que o Prof. CELSO FURTADO planejou o arcabouço da SUDENE, alimentando as expectativas do povo nordestino, quanto à solução definitiva desse injusto quadro social, ansioso por que fossem amenizadas as suas crescentes desigualdades entre as regiões brasileiras.
Nessa linha, além de sua importante e decisiva ação para o surgimento da SUDENE, emprestou sua vasta bagagem científica ao Governo João Goulart, no Ministério do Planejamento, onde quis prosseguir na implantação de estruturas sólidas para a construção de um novo Nordeste, sem merecer, no entanto, a devida ressonância, tolhido que se sentiu pelas elites econômicas da própria região e ante os propósitos de uma cultura diversa relativamente desenvolvida do sul do país. Como o ex-presidente norte americano Dwight Eisenhower, também tinha a consciência de que "Planos não são nada. Planejamento é tudo".
A partir daí, direcionou sua atenção novamente para os objetivos da SUDENE, onde vislumbrava, através de ações de médio e longo prazos, construir uma economia mais sólida, com base empresarial moderna e desenvolvimentista. Instituiu-se, a seguir, o sistema de incentivos fiscais, apontado como a grande solução para a combalida atividade industrial da região, o qual se tornou, então, responsável pela implantação e consolidação de um importante parque fabril no Nordeste.
Com efeito, se nos debruçarmos numa análise objetiva e responsável da atuação da SUDENE, nos seus 42 anos de funcionamento, visualizando apenas os seus contornos e efeitos na economia do nosso Estado do Ceará, concluiremos ter sido ela a promotora da criação de um vigoroso parque fabril, onde se destaca o importante pólo têxtil, moderno e competitivo, inclusive em termos internacionais, assumindo hoje a expressiva segunda posição do país. E também de muitas outras empresas, honradamente nascidas à conta dos incentivos fiscais e do arrojo dos seus titulares, principalmente nos setores metal-mecânico e coureiro - calçadista.
A SUDENE conseguiu iniciar, em bases que se prenunciavam sólidas, a reversão dessas tremendas desigualdades regionais, não fosse a inesperada, brusca e trágica mudança, imposta pelo Governo, à revelia dos interesses regionais, mandando extinguir a instituição. Nesses últimos seis meses de expectativa pelo que virá em sua substituição, encontra-se o sistema totalmente estagnado, sem liberação de recursos para os projetos aprovados que, assim, acumulam prejuízos e dificuldades e tornam impossível a previsão orçamentária das empresas, agravando ainda mais a situação que já se percebia, a partir do meado da década de noventa, de agudeza das dificuldades sempre conviventes com o nosso povo.
A FIEC tem consciência do relevante papel que desempenha no cenário das atividades econômicas do Estado. Como lídima representante do segmento industrial cearense, mobilizou, muito recentemente, entidades empresariais e técnicos de reconhecida competência e conhecimento da SUDENE, contando com o indispensável apoio da bancada parlamentar do Estado, para oferecer estudos, análises e sugestões, visando a formulação de uma nova política de desenvolvimento regional.
Para tanto não lhe faltou o suporte proporcionado pelo Dr. Wagner Bittencourt, designado pelo Governo para tratar da transição entre as duas entidades, SUDENE e ADENE. A FIEC, ao formular o seu projeto, encaminhado a autoridades governamentais, inclusive ao Relator da matéria no Congresso Nacional, Deputado Pinheiro Landim, da bancada cearense, pretendeu assentar, em bases racionais, a reestruturação de um órgão capaz de reconduzir, em sua plenitude, as aspirações que permanecem válidas e inteiramente atualizadas, sempre almejadas e ansiadas, desde mais de quatro décadas, pelo nosso ilustre homenageado, Professor CELSO FURTADO.
A comenda com que, neste instante, a FIEC tem a honra de distingui-lo, benemerente Ministro Prof. CELSO FURTADO, a MEDALHA DO MÉRITO INDUSTRIAL, traduz, com muita significação, o reconhecimento da classe industrial cearense, e por que não dizer de todo o povo do Ceará, de toda a região nordestina, pelas profundas mudanças que sua inteligência e inestimável ação introduziram no seio da estrutura de nossa economia.
É a gratidão de um segmento sócio-econômico do nosso Estado, que ainda almeja a reversão da sensibilidade dos homens do Governo, estes formando na linha monetarista do Ministério da Fazenda, para um conjunto de ações voltado para o crescimento uniforme do país, com a eliminação de bolsões indesejáveis de desigualdades, que tantas ameaças causam a todos nós nordestinos.
Senhor Ministro Celso Furtado, a sua vida, a sua cultura, as suas obras, as suas ações em prol do desenvolvimento do Brasil, não engrandecem somente a região nordestina. Ilustram, valorizam e envaidecem a todos nós brasileiros.
Obrigado.

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