[Discurso] Jorge Parente Frota Júnior

SITUAÇÃO ATUAL E ESTRATÉGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO DO CEARÁ

Já constitui uma tradição este encontro anual entre os Oficiais Estagiários do Curso de Altos Estudos Militares da ECEME e a nossa Federação das Indústrias do Estado do Ceará. A FIEC participa do painel com especial satisfação.

Antes de desenvolver o tema que me foi confiado, peço ao Senhores Oficiais que observem uma peculiaridade do nosso Estado. No encadeamento dos temas que compõem o painel, destaca-se um elemento não declarado, mas evidente, que é o estreito entrosamento nas relações entre o setor privado e o setor público, no contexto sócio-econômico do Ceará. No momento atual, dificilmente se encontrará algo semelhante nos demais Estados.

Não significa dizer que as idéias defendidas pelos dois setores coincidam sempre. Muitas vezes nós nos posicionamos com diferentes perspectivas. Contudo, é próprio do processo dialógico debater temas que no início se caracterizam como divergentes, mas que mediante uma discussão aberta consegue-se alcançar uma síntese convergente, ou, ao menos, conciliatória. Entre nós este exercício vem sendo praticado por mais de uma década e seus resultados evidenciam-se no desempenho econômico do Estado e em seus reflexos na sociedade.

O que acabo de referir me faz lembrar o painel com as turmas da ECEME de 1999 e 2.000, conduzido nesse mesmo clima de diálogo aberto.

Hoje, estamos aqui reunidos para abordar, como ponto focal da exposição da FIEC, o tema “Situação Atual e Estratégias para o Desenvolvimento do Estado do Ceará “.

No exame do tema, o primeiro momento comporta rever os principais indicadores do cenário presente do Estado. Em seguida, refletir sobre suas relações com o cenário brasileiro. Por último, situar o Ceará no cenário da economia globalizada.

Após os depoimentos dos expositores que integram este painel, debateremos as idéias externadas. Entendo que deveremos estabelecer uma comunicação em mão dupla, ou seja, que não haja apenas perguntas, mas também sugestões. Os Senhores têm um conhecimento privilegiado da realidade brasileira, de modo que acolheremos com vivo interesse as sugestões que tenham a nos oferecer.

1. Uma nova estratégia de gestão publica, inspirada no setor privado

A estratégia de mudanças no Ceará não decorreu de um impulso imediato. Tem um período de maturação de mais de 20 anos. Sua implementação, como política de governo, ocupa um tempo mais breve, de 14 anos.

As primeiras idéias de se introduzir novos parâmetros na gestão do Estado, visando, ao mesmo tempo, imprimir novo impulso na expansão de sua economia, teve início na década de 70 quando a FIEC promoveu a revitalização do Centro Industrial do Ceará. O CIC passou a nuclear segmentos do empresariado jovem, interessados na vida associativa. Tornou-se, então, um fórum privilegiado de estudos e discussões dos problemas estaduais e nacionais. As análises não se restringiram apenas à ótica empresarial. Foram enriquecidas com as contribuições oferecidas por outras representações da sociedade civil.

O exercício dialético levou ao reconhecimento da necessidade inadiável de se iniciar uma frente de mobilização, defendendo a moralização do poder público, simultaneamente, à defesa de se imprimir maior objetividade nas intervenções do Estado na economia. Recorde-se que na década de 70, como na de 80, a inflação registrava índices inquietantemente elevados.

Elegeu-se por missão promover o desenvolvimento da economia, com justiça social. Como vetores diretivos do processo de mudança, priorizou-se garantir a eficiência nos processos produtivos e o controle inflacionário.

Em decorrência do debate aberto da realidade que se configurava na época, e das propostas que apresentavam para mudá-la, novas lideranças, sem compromissos com a vertente política do passado, surgiram e obtiveram reconhecimento. A maturação desse processo dialético repercutiu no cenário estadual.

A ruptura no campo político-institucional veio a ocorrer no ano de 1987. Tasso Jereissati, ex-presidente do CIC, foi então eleito Governador. O grupo de jovens empresários e técnicos que debatiam idéias no Centro passou a integrar a equipe de governo. As propostas transformaram-se em projetos e sua execução teve início.

A eleição daquele ano baliza o início de um novo período na história do Ceará. As concepções inovadoras do grupo de jovens empresários, técnicos e representantes da sociedade organizada, vieram a tornar-se compromissos de bem gerir o setor público do Estado. Teve início, assim, um novo período de expansão da economia cearense, que registra uma seqüência ininterrupta por quatro Administrações Estaduais.

O CIC do presente mantém fidelidade aos seus objetivos, exercitando o diálogo com todos os estratos sociais do Ceará e com o Governo Estadual. Não obstante, preserva sua independência como instituição que representa um segmento da sociedade civil. Está aberto ao intercâmbio de idéias, não apenas dentro dos limites do Estado, mas além de suas fronteiras, na perspectiva da globalização, que assinala o momento presente da história.

2. Parâmetros da estratégia de mudanças no Ceará

A forma sadia de conduzir o setor público, com base nos princípios que moldam a gestão do setor privado, constitui a chave para entender o cenário atual do Ceará. Como já afirmado, trata-se de uma ocorrência que vem tendo continuidade por quatro administrações sucessivas do Estado, sem que se observe o mesmo nas demais Unidades da Federação. Por isso, vem despertando o interesse de analistas nacionais e internacionais.

A característica mais marcante desse contexto sócio-econômico é a forma consistente de aliar os investimentos do setor privado aos investimentos do setor público, em bases negociadas caso a caso. Por outras palavras, a negociação individual vem sendo o procedimento posto em prática para ajustar as demandas específicas dos empresários à programação da infra-estrutura física e social, sob a responsabilidade da administração do Estado.

O Estado não atua isoladamente. A FIEC desenvolve programas de formação e de especialização de pessoal qualificado, conforme as demandas das empresas. Esse procedimento não se restringe ao setor industrial. Nos demais setores da economia as entidades representativas do empresariado desenvolvem atividades semelhantes.

Na ótica de se induzir o desenvolvimento sustentável, é posta em prática a política de distribuir espacialmente as novas unidades produtivas, em acordo com a visão de se promover a desconcentração da economia, favorecendo uma distribuição mais eqüitativa da renda. Em síntese, mediante a negociação dos investimentos, privados e públicos, visa-se alcançar, simultaneamente, os objetivos de soerguer a economia estadual e de elevar a qualidade de vida do povo cearense.

3. A tática decorrente da estratégia, visando o desenvolvimento sustentável

O ajuste estrutural nas finanças públicas, realizado a partir de 1987, vem funcionando como fonte endógena de desenvolvimento. Seus resultados mais visíveis se configuram na recuperação da poupança pública e na conseqüente retomada da capacidade de investimento do Governo Estadual, com recursos próprios.

A credibilidade da Administração Estadual, está intimamente associada à referida restruturação financeira e gerencial realizada no setor público. De um lado, ela permitiu ampliar o poder de intervenção do Estado no fomento à atividade econômica. Do outro, possibilitou o acesso à poupança externa. O setor privado logo percebeu a nova conjuntura e vem correspondendo aos estímulos criados. Em conseqüência, a economia cearense, já por mais de uma década, vem crescendo acima da média nacional e regional.
 

Tabela 1

CEARÁ E BRASIL

PRODUTO INTERNO BRUTO - PIB

1988 – 2000

Preços constantes 1995=100

 

  • Anos

    Valor Total

    R$ bilhões

    Relação

     

    Ceará

    Brasil

    CE/BR %

    1988

    9,7

    480,8

    2,01

    1989

    10,4

    496,2

    2,09

    1990

    10,5

    474,3

    2,20

    1991

    10,8

    475,3

    2,23

    1992

    10,9

    471,5

    2,30

    1993

    11,4

    490,8

    2,32

    1994

    12,1

    518,8

    2,33

    1995

    12,8

    540,0

    2,36

    1996

    19,1

    749,1

    2,54

    1997

    18,7

    866,1

    2,15

    1998

    20,8

    901,9

    2,30

    1999 *

    20,0

    960,8

    2,08

    2000 *

    22,7

    1.089,6

    2,08

Fonte: IPLANCE

* Valores estimados

É interessante notar na Tabela 1 que, em razão de os índices de crescimento do Ceará terem apresentado valores superiores ao crescimento observado no Brasil, isto fez com que o PIB Estadual passasse de 2,01% do PIB Brasileiro em 1988 para 2,30% em 1998.

No início de 1999, após o choque da desvalorização cambial, a previsão dos analistas era de que poderia ocorrer uma queda no PIB, combinada com uma inflação pouco acima de 10%. Entretanto, graças a uma política de austeridade fiscal e monetária, os governos lograram superar a esperada crise. Embora ainda não se disponha dos valores oficiais de 1999 e 2000, sondagens preliminares realizadas pelo IPLANCE – Instituto de Planejamento do Estado do Ceará indicam resultados positivos, mesmo com a redução nos índices estimados

TABELA 2

CEARÁ E BRASIL

EVOLUÇÃO DA TAXA DE CRESCIMENTO DO PIB TRIMESTRAL

1999 - 2000

DISCRIMINAÇÃO

1999.IV

2000.I

2000.II

2000.III

2000.IV

CEARÁ

Agropecuária

Indústria

Serviços

PIB ( valor adicionado a preços básicos)

 

BRASIL

 

Agropecuária

Indústria

Serviços

PIB ( valor adicionado a preços básicos)

 

5,02

4,16

2,81

3,44

 

 

 

4,03

3,39

4,05

3,86

 

-2,40

4,67

2,22

3,05

 

 

 

6,97

5,49

3,41

4,32

 

7,76

9,30

4,78

6,79

 

 

 

7,59

5,10

3,62

4,44

 

15,26

8,01

4,13

6,41

 

 

 

3,89

4,66

4,45

4,53

 

5,76

-0,11

3,30

2,10

 

 

 

-7,32

4,85

4,62

3,42

FONTES: IBGE/DECNA e IPLANCE/Célula de Contas Regionais.

Em relação a idêntico período de ano anterior, o Produto Interno Bruto – PIB cearense referente ao quarto trimestre de 2.000, avaliado pelo crescimento do valor adicionado a preços básicos, cresceu em 2,10%. O mesmo indicador para o Brasil revelou uma elevação de 3,42%.

Analisando os setores, destaca-se, no mesmo período, o comportamento da agropecuária e dos serviços que registraram aumentos de 5,76% e 3,30%, respectivamente. Por outro lado, a indústria revelou um ligeiro recuo de 0,11%, no quarto trimestre de 2000, interrompendo uma trajetória de crescimento observado durante os três primeiros trimestres do ano.

TABELA 3

CEARÁ

COMPOSIÇÃO DO PIB SETORIAL 2000

  • SETORES

    %

    Agropecuária

    Indústria

    Serviços

    9,47

    47,80

    42,73

Fonte: IPLANCE / Célula de Contas Regionais

O desempenho econômico cearense, ao longo do ano, foi influenciado pelo comportamento da indústria (transformação e construção civil), que contribuiu com 47,80% do crescimento acumulado, em 2000, do PIB estadual no período considerado, cabendo aos serviços a segunda posição com 42,73%, vindo por último a agropecuária, com contribuição de apenas 9,47%.

TABELA 4

CEARÁ TAXAS DE CRESCIMENTO DO PIB TRIMESTRAL EM RELAÇÃO AO MESMO PERÍODO DO ANO ANTERIOR, EM PERCENTUAL. – 1999 / 2000

Setores

1999.I

1999.II

1999.III

1999.IV

1999 (Acum)

2000.I

2000.II

2000.III

2000.IV

2000 (Acum)

AGROPECUÁRIA

INDÚSTRIA Extrativa Mineral Transformação Construção Serviços de indústria e utilidade Pública

SERVIÇOS Comércio Alojamento/Alimentação Transporte Administração pública

TOTAL DO PIB

-2,73

2,29 –3,82 4,39 0,74 7,67

2,47 -0,99 2,24 3,80 2,16

2,17

28,91

-2,75 1,13 –2,01 –3,74 0,71

1,71 –0,61 0,84 –10,09 2,16

1,78

11,26

-3,13 –0,72 –1,94 –4,75 3,99

1,32 –0,94 2,00 –13,48 2,16

0,15

5,02

4,16 -8,87 12,83 –0,96 7,43

2,81 –0,78 5,00 8,17 2,16

3,44

12,50

0,14 –3,15 3,24 –2,19 4,96

2,09 –0,83 2,56 –3,07 2,16

1,89

-2,40

4,67 0,16 12,13 0,67 2,44

2,22 2,30 8,02 –16,95 2,16

3,05

7,76

9,30 –5,29 12,00 8,65 4,50

4,78 3,18 11,41 23,01 2,16

6,79

15,26

8,01 –27,53 11,39 7,76 0,78

4,13 3,75 12,63 0,80 2,16

6,41

5,76

-0,11 0,01 2,69 –1,67 –2,98

3,30 4,50 8,61 –1,31 2,16

2,10

7,94

5,31 -8,07 9,26 3,69 1,02

3,61 3,49 10,13 0,53 2,16

4,55

Fonte : IPLANCE / Célula de Contas Regionais.

Vale ressaltar o desempenho da indústria da construção, que em 1999, havia registrado uma retração, conseguiu, em 2000, reverter a tendência negativa, apresentando um crescimento acumulado de 3,69%, pouco acima do índice obtido pela construção em nível nacional (2,14%). O desempenho da indústria de transformação cearense com acréscimo acumulado de 9,26% no ano de 2.000, decorreu, em parte, do esforço desenvolvido pelo Governo do Estado, através do programa de atração de novos investimentos, sobretudo , nos últimos cinco anos.

No que se refere ao segmento de eletricidade, gás e água, foi registrado, pelo IPLANCE, aumento de 4,96% em 2000 sobre 1999, destacando-se os acréscimos na produção de energia elétrica da indústria, de 5%. Esse segmento de utilidade pública, também nos últimos meses apresentou desaceleração em suas atividades decorrente do baixo nível nos reservatórios das hidroelétricas.

Quanto à agropecuária, as boas condições climáticas de 2000 revitalizaram as atividades agrícola e animal, fechando o ano com um crescimento de 7,94% em relação ano de 1999, com uma expansão de 9,08% para a lavouras e 5,98% para produção animal.

O setor de serviço, que responde por 42,73% do PIB estadual, registrou no ano passado uma expansão de 3,61%, superior ao desempenho apresentado em 1999, quando obteve um crescimento de 2,09%. Analisando isoladamente o item comércio, depois de experimentar uma evolução negativa em 1999 (-0,83%), conseguiu uma recuperação em 2000, acusando um crescimento de 3,49%.

 1999  2.000

Para a formação do indicador industrial, as maiores contribuições foram provenientes das indústrias: metalúrgica, têxtil, calçados, de material elétrico, comunicações e castanha de caju. O crescimento permanece associado ao início de funcionamento de novas unidades de produção, que somando-se às já em operação impulsionam nos seus efeitos “ex-post” o crescimento do setor terciário.

Ao empreender a política de atração de novos investimentos, o Governo do Ceará obteve aporte superior a US$ 5,0 bilhões em recursos privados, desde 1990 ao presente. Na distribuição dos investimentos, destacam-se as unidades dos gêneros metalúrgico e metal-mecânico, calçados, têxtil, vestuário e artefatos de tecido, produtos alimentares, químico e produtos de matéria plástica.

Como conseqüência do esforço realizado, hoje o Ceará se destaca no cenário nacional como o segundo pólo na área têxtil e terceiro em calçados e moagem de trigo. Dentre os setores tradicionais, mantêm-se em destaque castanha de caju e cera de carnaúba. Já é evidente que os setores calçadista e têxtil tendem a superar, em valor da produção e exportações, o de castanha de caju. O setor pesqueiro tem experimentado grandes oscilações. A frota encontra-se em acelerado processo de sucateamento. Por outro lado, ganha impulso a criação de camarões de água salgada em cativeiro, aproveitando-se terrenos anteriormente ocupados com a exploração de salinas.

A análise até aqui realizada segue os grandes vetores de ação definidos no Plano de Desenvolvimento Sustentável do Ceará. Nele, a participação da sociedade se concretiza mediante a criação de diversos conselhos, de abrangência estadual, regional e local. Os conselhos foram inspirados na experiência bem sucedida do Pacto de Cooperação, atualmente desdobrado em mais de uma dúzia de Fóruns setoriais. Tendo sido criados no início da execução do Plano de Desenvolvimento Sustentável, já se verifica que, com o exercício da participação os referidos conselhos vem se consolidando como instâncias adicionais de representação da sociedade.

4. Infra-estrutura e desenvolvimento
Diferentemente do que ocorre em outras Unidades da Federação e considerando as dimensões da sua economia, o Ceará registra posição satisfatória em termos de sua infra-estrutura física, sendo os níveis de risco bem menores quanto ao futuro.

Relativamente a energia elétrica, além do suprimento proveniente da CHESF, a nova linha proveniente de Tucuruí, assegurará o atendimento da demanda por mais de uma década. Não obstante, tendo em vista o crescimento rápido da demanda de energia pelas indústrias, somando a esta o consumo doméstico e público urbano, entraram recentemente em funcionamento os três primeiros parques eólicos do Estado, e encontra-se em projeto uma usina termoelétrica aproveitando gás natural do Rio Grande do Norte.

Com respeito a água para consumo agrícola, industrial e urbano, o projeto de transposição de bacias, já aprovado, equacionará o suprimento. Está delineado em um grande projeto com financiamento do Banco Mundial. Nele, a unidade central do sistema é o açude Castanhão. Este, entretanto, depende de recursos orçamentários da União. O Estado vem cumprindo criteriosamente a sua parte. A barragem encontra-se em adiantada etapa de construção.

Quanto ao transporte marítimo, o sistema portuário cearense compreende dois portos. O primeiro, no Mucuripe, é um porto comercial que movimenta cargas limpas, com sensível redução dos custos operacionais, tendo em vista o seu processo de privatização. O segundo integra o Complexo Industrial e Portuário do Pecém, destinando-se à movimentação de combustíveis, minérios e produtos siderúrgicos. Também dependem de verbas orçamentárias Federais.

Relativamente ao transporte aéreo, o novo Aeroporto Internacional Pinto Martins, inaugurado, há cerca de três anos, é o quarto do Brasil em termos de modernidade dos seus sistemas operacionais. Destina-se ao transporte de passageiros, como também de carga.

A malha rodoviária estadual dispõe de recursos externos contratados, suficientes para recuperar 1.800 km. Contrastando com a preservação da malha estadual, a malha federal encontra-se em condições precárias, com trechos quase que intransitáveis, até mesmo no espaço da Região Metropolitana de Fortaleza.

Com a privatização da malha Nordeste, admite-se que o transporte ferroviário venha a oferecer condições melhores quanto à observância dos prazos contratuais dos deslocamentos e quanto às tarifas aplicadas aos diferentes tipos de cargas. Entretanto, os investimentos destinados à recuperação da malha estão sendo realizados em ritmo lento.

O grande desafio está na infra-estrutura social. Ela ainda apresenta indicadores preocupantes. Em razão desse quadro, o Estado realiza amplo esforço nas áreas da educação, saúde e desenvolvimento comunitário, obtendo melhor desempenho de ano para ano.

5. Comércio internacional – NAFTA, MERCOSUL, União Européia e Países Árabes

No tocante às exportações, o Ceará ocupa em relação ao Brasil posição equivalente à do País em relação às transações globais, ou seja, em torno de 1%. Entre 1995 e 1999 o Estado manteve suas vendas para o exterior na estreita faixa de flutuação entre US$ 350,0 e 370,0 milhões. Houve uma expansão na ordem de 33%, em 2000, em relação ao ano de 1999. A estimativa de crescimento, para 2001 está na ordem de 7% podendo chagar a US$530,0 milhões.

Tabela 5

CEARÁ

PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS

1999/2001

                          PRODUTO

VALOR US$ mil FOB / 1999

Part.

%

VALOR US$ mil FOB / 2000

Part.

%

VALOR US$ mil FOB / 2001

Part.

%

Castanha de caju

115.786

31,19

137.479

27,77

59.591

16,80

Calçados em couro natural

37.141

10,01

43.139

8,71

48.151

13,57

Lagosta

29.638

7,98

35.433

7,16

22.085

6,22

Tecidos

28.737

7,74

42.682

8,62

43.082

12,14

Calçados de borracha

22.118

5,96

34.395

6,95

25.261

7,12

Ceras Vegetais

20.155

5,43

19.561

3,95

12.566

3,54

Couros

18.692

5,04

4.511

0,91

38.389

10,82

Fios

11.025

2,97

42.682

8,62

-

-

Consumo de Bordo

6.236

1,68

9.661

1,95

-

-

Camarões

6.229

1,68

20.382

4,12

21.878

6,17

Demais produtos

75.449

20,30

105.173

21,24

83.780

23,62

Total Exportado pelo Estado

371.206

100,00

495.098

100,00

354.783 (*)

100,00

(*) Período de Janeiro a agosto de 2001.

Fonte: SECEX - FIEC / Centro Internacional de Negócios

Ao longo do tempo, as exportações cearenses revelam uma composição muito dinâmica. Um exame atento da tabela 6 põe em evidência como a pauta dos produtos exportados vem se alterando entre 1996 e 2000 e identifica produtos que estão ganhando posição relativa, enquanto que outros passam para posições menores, em indicadores comparativos.

Tabela 6

CEARÁ COMPOSIÇÃO RELATIVA DA PAUTA DE EXPORTAÇÕES PARTICIPAÇÃO EM PERCENTUAL (%) 1996-2001

PRODUTO

1996

1997

1998

1999

2000

2001

Castanha de Caju

39,42

39,29

34,95

31,19

27,77

16,80

Lagosta

11,06

10,67

9,09

7,98

7,16

6,22

Tecidos

10,58

9.52

10,94

7,74

8,62

12,14

Cera vegetal

9,92

9,40

7,94

5,43

3,95

3,54

Leite integral

2,46

0,00

0,00

0,00

0,00

0,00

Fios de algodão

1,75

2,47

1,98

2,97

1,81

0,00

Calçados de Borracha

0,78

4,38

5,52

5,96

5,75

6,15

Ferro – silício

1,66

1,33

0,92

0,94

...

...

Couro Bovino

1,57

0,43

0,49

5,04

0,91

-

Calçados em couro natural

1,16

4,34

9,23

10,01

8,71

13,57

Sucos e extratos vegetais

0,95

1,75

1,93

1,40

1,39

1,10

Outros calçados de borracha

0,33

0,75

1,88

1,63

1,20

0,97

Combustível para embarcação

1,67

1,26

0,56

1,68

-

...

Fonte: SECEX - FIEC/Centro Internacional de Negócios

Indicadores para 2001, de janeiro a agosto.

Ate agosto de 2001, as exportações apresentaram um crescimento nunca antes observado, registrando o valor de US$ 354,7 milhões. Torna-se admissível, assim, prever que até dezembro o total exportado alcançará US$ 530,0 milhões ou mais, correspondendo a um crescimento superior a 7% sobre 2000, bem acima, portanto, da média brasileira. Merece exame a Tabela 7.

Tabela 7

CEARÁ PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS Janeiro - agosto / 2001

PRODUTO

VALOR US$ mil FOB

PARTICIPAÇÃO (%)

Castanha de Caju

59.591

16,80

Couros de Bovinos/Eqüídeos

38.389

10,82

Tecidos

43.082

12,14

Calçados de Couro Natural

48.151

13,57

Calçados de Borracha

25.261

7,12

Lagostas

22.085

6,22

Ceras Vegetais

12.566

3,54

Camarões Congelados

21.878

6,17

Fios de fibra de poliester com algodão

-

 

Fio de algodão cru

-

 

Demais Produtos

83.780

23,62

 

Fonte: SECEX - FIEC / Centro Internacional de Negócios

Total Exportado pelo Estado

354.783

100,00

Uma vez mais, a maturação dos novos projetos industriais em operação e a modernização de unidades produtoras preexistentes respondem pelo expressivo incremento de nossas exportações. As mudanças mais evidentes aplicam-se a calçados e têxteis, que tendem a superar, nos próximos anos, a liderança tradicional da castanha de caju.

A FIEC ousou estabelecer a meta de US$ 1,0 bilhão de exportações do Ceará até 2002, patamar este já admitido pela APEX, a maior agência promotora das exportações brasileiras. Trata-se de uma meta ambiciosa, porém exeqüível. Até o ano de 2007 a meta é alcançar US$ 2,0 bilhões.

Por países de destino, a variação é pequena. Estados Unidos, Argentina, Itália, Canadá, Países Baixos (Holanda), Chile, Espanha, Paraguai, Portugal e Reino Unido representam 80,26% das exportações cearenses. Por blocos econômicos, a ordem de precedência nas exportações cearenses está direcionada em 53,60% para o NAFTA, seguindo-se o MERCOSUL com 12,02% e a União Européia com 17,47%. Todos os demais países perfazem os restantes 16,91%.

No momento presente, o Estado se prepara para conquistar novos mercados. Uma abertura para os Países Árabes é o passo imediato que se está dando. Esses países, detêm uma balança comercial confortável, em razão das exportações de petróleo, e importam US$ 140,0 bilhões por ano. Os Estados Unidos e a Alemanha são os dois principais exportadores para essa área, altamente demandadora de produtos de consumo final. O Ceará se esforça por identificar nichos no mercado árabe, visando o aumento das vendas externas dos seus produtos.

No ano passado, a Federação realizou um evento em conjunto com a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, debatendo o tema “Como Exportar para os Países Árabes”. Como decorrência do evento, um representante seu, do Centro Internacional de Negócios, integrou a Missão Empresarial Brasileira que manteve contatos na Arábia Saudita, Kwait e Emirados Árabes Unidos. Sem dúvida, as exportações cearenses crescerão nos mercados daqueles países e países vizinhos.

Quanto às importações do Ceará, elas totalizaram, em 2000, US$717,7 milhões, o que representa 1,45 vezes do valor total exportado. Preponderam matérias primas e equipamentos para as novas unidades industriais, ou expansão das existentes. Quanto à origem destacam-se: a Venezuela (21,33%), a Argentina (21,32%), os Estados Unidos (8,26%), o Taiwan (3,64%), a Letônia (3,60%), a Alemanha (3,42%), a Itália (3,38%), o Paraguai (2,58), o Uzbequistão (2,41%) e a China (2,08), perfazendo 72,01%. Os demais países representam 27,99%.

Com a maturação dos investimentos realizados em novas unidades produtivas, o Estado reverterá esse quadro, tornando-se superavitário nas suas relações de comércio internacional.

6. Algumas conclusões

Numa visão realista do cenário interno, o Ceará ainda não se situa entre os Estados desenvolvidos do Brasil. Contudo, caminha aceleradamente para patamares mais elevados no quadro comparativo das Unidades da Federação.

Na mesma perspectiva realista, o cenário delineado não se compõe apenas de elementos positivos. O quadro de pobreza representa o elemento mais preocupante. Vem servindo, não obstante, de estímulo para que o Governo, o empresariado e as lideranças da sociedade civil prossigam no esforço de promover o desenvolvimento sustentável. A sustentabilidade do desenvolvimento é reconhecidamente necessária. Nesse sentido, os ganhos alcançados são visíveis nos pólos industriais emergentes.

Embora sejam ainda incipientes as políticas públicas, no sentido de remover as barreiras impeditivas da competitividade em nível global, o empresariado cearense vem realizando investimentos na introdução de inovações tecnológicas, na adoção de novos modelos gerenciais e na criação de uma cultura da qualidade assegurada. Vem ganhando expressão, também, a adoção de uma cultura exportadora. Trata-se, evidentemente, de elementos indispensáveis para garantir posições competitivas nos mercados globalizados.

As exigências decorrentes das inovações tecnológicas,impõem uma crescente seletividade para a absorção e aproveitamento da mão-de-obra. É esse um dos maiores desafios que estão sendo enfrentados. Por conseguinte, torna-se cada vez mais necessária a realização de programas abrangentes de escolarização e de capacitação de recursos humanos.

O ensino profissionalizante de qualidade tende a assumir importância fundamental, como meio de qualificar a população para as funções complexas impostas pelos avanços tecnológicos e pela qualidade e competitividade requerida nos já referidos mercados globalizados. No Sistema FIEC, o SESI – Serviço Social da Indústria, o SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, o IEL – Instituto Euvaldo Lodi, o COMPI – Centro de Competitividade Industrial o CIN – Centro Internacional de Negócios, e o INDI – Instituto de Desenvolvimento Industrial do Ceará, cada qual nas suas áreas específicas de atuação, oferecem suporte ao empresariado da indústria.

No que diz respeito à superação da pobreza, o empresariado cearense tem a clara percepção de que somente o trabalho, a produção dele resultante, e a conseqüente geração de riqueza, possibilitarão transpor as limitações atuais.

Concluindo, importa ter presente que a realidade cearense não se desvincula da realidade brasileira. A conjuntura de inflação baixa é um parâmetro positivo, valendo reconhecer o mérito do Plano Real. No entanto, ele é insuficiente para oferecer a qualidade de vida que a sociedade almeja e tem direito. É injustificável que as Reformas Constitucionais estejam sendo postergadas, em prejuízo de toda a sociedade.

Senhores integrantes do Corpo de Instrutores e Estagiários da ECEME:

Reitero as palavras iniciais, de que é uma honra e satisfação participar deste painel. Estarei ao dispor para dialogar acerca das questões apresentadas, assim como de outras que possam ser formuladas e que eu possa responder. Não obstante, com o mesmo vivo interesse estarei atento para ouvir sugestões.

Encerrando, expresso, em nome da Diretoria e colaboradores do Sistema FIEC, os melhores votos de que a permanência dos Senhores entre nós seja, ao mesmo tempo, proveitosa e agradável.

Muito obrigado.

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