[Discurso] José Flávio Leite Costa Lima

Pronunciamento do Presidente da FIEC, Dr. José Flávio Costa Lima, na Universidade Federal do Ceará por ocasião da abertura do encontro de investidores em comemoração Jubileu de Prata da UFC.

Fortaleza, 19 de junho de 1980

 

Senhoras e Senhores,

Dentro dos postulados de economia de mercado, são os empresários os interlocutores naturais dos programas de desenvolvimento econômico, cuja responsabilidade, ninguém contesta, não só de realizar o plano global e integrado como de controlar sua execução, incumbe ao estado.

Resultante de profundas mutações do comportamento humano, o desenvolvimento flui da íntima correlação com as pesquisas desenvolvidas no seio das universidades.

Daí, as motivações da UFC para incluir esse painel sobre investimentos nas comemorações de seu jubileu de prata que marcam com especial relevância o papel que ela tenha cumprido ao longo de sua ação.

Honrados pelo convite, sentimo-nos, portanto, muito à vontade para abrir esta sessão em nome da Federação das Indústrias do Ceará.

Os dias atuais caracteriza-se pela crescente integração entre o teórico, que investiga, e o dirigente da empresa, situado na vanguarda da “Praxis”, no momento não menos relevante da conversão das idéias e das leis científicas em bens, obras e serviços úteis a coletividade.

Reconhecemos a forte dependência da disponibilidade de recursos humanos, para o êxito de qualquer processo de desenvolvimento, assim como sabemos que, a longo prazo de uma coletividade, o investimento de mais seguro retorno e aquele feito com a educação.

A Universidade pois compõe e integra o corpo social, como um dos seus elementos fundamentais, não sendo a ninguém lícito pretender desconhecer, no Ceará, as profundas mutações ocorridas com o advento e crescimento de nossa Universidade Federal.

Partidários da livre iniciativa, que o projeto nacional tem como válida, compreendemos que ela é o mais eficaz instrumento para o desenvolvimento do Brasil. Por isso, há de estar o empresário, consciente de seu papel como agente dinâmico que é do processo, em estreita ligação com o técnico. E a Universidade critica, e diz o renomado filósofo e professor Miguem Reale, “exatamente por ser crítica, isto é, por ter a independência que nasce da autoconsciência do saber positivo, não se arreceia do diálogo e dos contatos com as estruturas empresariais, sabendo receber destas os estímulos, as sugestões e os problemas, como partes integrantes e vivas que elas são da sociedade democrática, plural em sua estrutura e aberta em seus meios de atualização dos valores humanos”.

Planos não tem faltado ao nordeste. Os últimos governos, a nível estadual e federal tem exibido enfaticamente, o propósito desenvolvimentista através de projetos custosamente elaborados.

Mas, o que se depreende do índice de crescimento de nossa economia é que o resultado não tem correspondido à expectativa, que a ação não corresponde a declaração, ou que os meios não se compatibilizam com os fins...

Gunnar Myrdal registra como conseqüência do próprio subdesenvolvimento e distorção a que estão sujeitos os projetos pelo desengajamento dos escalões de execução da administração.

Ainda mais, diz o autorizado economista: “outros desvios surgem com a promoção pessoal que resulta em chocante desperdício com obras de fachada, e em subsídios a custosos investimentos improdutivos”...

Todos sabemos que desenvolvimento é sacrifício dificilmente obtido sem ajuda de fora.

 

Não desejamos perder-nos na análise dos planos governamentais na área da SUDENE, fugimos de considerações sobre promessas e projetos, tão, prometidos quão adiados...

 

Emergências inflacionárias e energéticas, que não são nossas, surgem como pretexto para o adiamento dos reclamados tratamentos diferenciados a que temos direito, reduzindo-se também, desregradamente porque subtraídos a uma região dependente e reflexa, conquanto auto-suficiente em divisas, petróleo, etc., os recursos do FINOR, sob a suspicaz alegação do custo benefício em comparação com investimentos aplicados no sul do país.

Tal alegação poderia parecer mais apropriada pelo investidor privado do sul, que aliás, aqui ainda não apareceu.

É verdade que o governador Virgílio Távora tem desenvolvido extraordinária ação para atrair esses investidores, dentro do programa incentivado de relocalização de indústrias, ao mesmo tempo que anuncia o polo metalúrgico estatal.

Através da SIC Seplan, e Bandece, sua ação é objetiva e realista.

Por isso, queremos enfatizar nosso apoio à ação do nosso governador no plano do Desenvolvimento Econômico porém, com a dignidade de propósitos de cidadãos cônscios dos seus deveres de liderança, queremos, os empresários cearenses, advertiu que é urgente a coragem de nos opormos – governantes e governados – à falácia das promessas federais sem compromisso, ao mesmo tempo em que devemos cerrar fileiras, a nível estadual, contra a promoção do paternalismo administrativo, em benefício de uma política verdadeiramente desenvolvimentista.

“Bons planos reclamam, para sua execução, bons governos”, dizem os economistas. É que a industrialização por si só não opera milagres.

Há um conjunto de métodos e processos que exigem reformulação por parte de todos, principalmente da pública administração. O problema, de resto, tem sido exaustivamente versado por quantos estudam a teoria econômica do subdesenvolvimento.

Em “O drama da Ásia” Gunnar Myrdal nos ensina:

“Quando se deve começar de base extremamente modesta, nem mesmo um grande empurrão no surto industrial poderá nas décadas futuras fornecer diretamente novos empregos, senão a uma fração muito diminuta da força de trabalho. É preciso frisar este ponto, e destarte destacar a expectativa inteiramente irrealista, ainda mantida por tantos, de que a rápida transformação da estrutura ocupacional ocorrerá tão logo seja lançado o programa de industrialização”.

Não significa, dizemos nós, que não reconheçamos que a industrialização continua a ser o setor estratégico principal, qualquer que seja a filosofia econômica adotada. Mas, a propósito, não podemos perder de vista que Pernambuco e Bahia, com siderúrgicas e um parque fabril bastante diversificado, exibam, concomitantemente, assustadores bolsões de miséria...

Os industriais cearenses,sabemos que estamos mobilizados para o desenvolvimento, no qual temos investido todos os nossos esforços e patrimônio.

Sabemos, também que além dos deletérios afeitos da explosão demográfica (verdadeira, neoplasia social), pesam sobre os ombros de todas as lideranças os sérios problemas da inflação, do endividamento interno, do balanço de pagamentos e as graves tensões sociais latentes, função das desigualdades impossíveis.

Sentimos a universidade, também a braços com os problemas dos excedentes, do ensino gratuito, do diplomado sem emprego, do currículo, estes problemas como aqueles igualmente compartilhados por todos os que tem a mínima parcela de liderança. Esta é portanto, nossa hora da verdade...

Aos que me sucederão neste painel, cabe-lhes demorar-se sobre programas e projetos das agências de desenvolvimento.

Teremos preferido olhar o verso da medalha, é que o conhecimento crítico dos problemas em toda a sua profundidade ajuda a sua superação, pois o verso da medalha mostra-nos travestidos de desenvolvimentistas, praticando, classes dirigentes e dominantes, sobretudo aquelas, um comportamento, um assistencialismo cartorialista, inibidor, e frustrante das iniciativas...

Por reconhecermos nos interlocutores a mesma dignidade de propósitos de estarmos imbuídos, acreditamo-nos livres dos riscos das suscetibilidades personalísticas.

Fique-nos a lição do saudoso economista, o Pe. Lebret-Expert dos problemas dos países subdesenvolvidos.

“Sob a orientação de políticos esclarecidos e melhor “utilizando a poupança dos seus cidadãos, a maioria das “regiões ou países subdesenvolvidos poderia sair do “subdesenvolvimento sem praticamente recorrerem à ajuda externa”.

Muito Obrigado.

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