[Discurso] José Flávio Leite Costa Lima

CONFERÊNCIA DO PRESIDENTE DA FIEC, DR. JOSÉ FLÁVIO COSTA LIMA, NA SEMANA DA QUÍMICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ.

Fortaleza, 31 de outubro de 1979

 

Exposição sobre o Pólo Metal-Mecânico do Ceará

 

  1. Introdução

 

Como Presidente da Federação das Indústrias do Estados do Ceará, mas principalmente, como empresário, quero aproveitar esta oportunidade para manter um diálogo profícuo com professores e alunos que integram este Departamento.

Este diálogo se inscreve numa linha de ação que temos procurado desenvolver em conjunto.

Já quando Secretário de Indústria e Comércio impulsionei a criação do NUTEC que utiliza e, ao mesmo tempo estimula constantamente, trabalhos científicos desta Universidade.

Também através do IEL, temos buscado intensificar o intercâmbio Universidade-Empresa objetivando aumentar a eficácia do sistema universitário e elevar o nível tecnológico e gerencial das empresas. Mais recentemente, através do Grupo de Trabalho FIEC/Núcleo de Fontes Não Convencionais de Energia debatemos o problema energético nacional e, reunindo esforços, propomos a criação do Centro Nacional de Biomassas, no Ceará.

Com estes fatos quero evidenciar alguns dos serviços que as áreas empresarial e universitária podem, quando articuladas, prestar na solidão dos problemas comuns.

A idéia dos senhores, de incluir o estudo do Polo Metal-Mecânico nesta “Semana da Química” traduz a consciência, que têm, de que a Universidade não pode estar dissociada dos problemas da comunidade e de suas consequentes soluções.

O interesse em conhecer e discutir aspectos essenciais da Política Econômica, consubstanciada no III Polo Industrial do Nordeste, é um atestado, que os senhores dão, de compromisso com a realidade.

Na verdade, esta realidade percebida no seu conjunto, reclama mudanças. Senão, vejamos:

  1. O Incipiente Desenvolvimento Regional e Estadual

Com uma renda per capita em torno de US$ 300, representando 29% da do país e 83 da do NE, o Ceará à semelhança da Região, vê acentuarem-se as disparidades interestaduais e interregionais de níveis de desenvolvimento. Já no período 1948/56 registrava-se que a renda per capita do nordestino, com relação ao habitante do centro sul, desceu de 37% para 32%. Tomando um período mais longo (1959/77), vê-se que este parâmetro, dimensionado para a Região, declinou de 45% para 35% da média nacional.

Considerado o 3º centro industrial do Nordeste, seu valor de transformação industrial apresenta, no entanto, um percentual de participação de apenas 10,6% com tendência declinante, visto que, em 1970, participava com 12,6%. Esta perda de posição é também confirmada quando se analisa os recursos financeiros oriundos dos incentivos fiscais; neste caso, constata-se que o Ceará se coloca em 6º lugar no Nordeste, detendo apenas 9,9 % do valor global liberado.

Em termos de ritmo de crescimento da economia como um todo, estima-se que em 1978, comparativamente a 1977, a economia cearense cresceu de 5,4%, contra as taxas de 6,9% para o Nordeste e de 6% para o Brasil.

Sabemos que, nos casos do Nordeste e do Ceará, muito contribuiu a política de incentivos fiscais e financeiros dos artigos 34/18 e, posteriormente do FINOR. Tal política vem se efetivando não somente através da implantação de novas unidades fabris, mas de relativa mudança na estrutura industrial.

Todavia, a redução ocorrida a partir de 1970 à já limitada disponibilidade de recursos para investimentos, aliada a existência de pontos de estrangulamento na adoção dessa política, têm acarretado prejuízos responsáveis, em parte, pela frágil expressão do parque industrial regional e local.

A ação combinada de outras políticas regionais e daquelas nacionais, embora proporcione entrada visível de recursos na região, devido ao vazamento de renda, têm provocado efeitos limitados. No período de 60/75, a contabilização de fluxos de recursos, operados através do setor público quanto ao Nordeste, revela que foi negativo o saldo global líquido dos movimentos de capital operados com referência às fronteiras nordestinas.

Por outro lado, a urbanização no Ceará que, em 1960, correspondia a 33,7% da população total, evoluiu para 40% em 1970, estimando-se que atinja 44,9% em 1980, e 52% no ano 2000.

Como a base econômica urbana, já incipiente, não tem sido capaz de absorver a oferta crescente de mão-de-obra, tem-se verificado um aumento do subemprego e desemprego, da marginalidade social e da concentração de renda.

Essas estatísticas, somadas a outros indicadores sociais e econômicos, atestam que os instrumentos utilizados na consecução do objetivo, o nacional e, há muito perseguido, de criar condições para o desenvolvimento auto-sustentado do Nordeste, foram insuficientes ou compensados por outros mecanismos inibidores do processo.

Este caráter insuficiente ou mesmo compensatório, próprio à política econômica para o Nordeste, decorre da acentuada concentração econômica e de poder no Centro-Sul.

Num país de fortes disparidades interregionais de renda, a oportunidade de desenvolvimento das regiões pobres não virá certamente do livre jogo das forças de mercado, nem tão pouco do modelo econômico vigente.

Se o subdesenvolvimento já é por si só um fenômeno social complexo, o subdesenvolvimento regional o é mais ainda. Os efeitos profanadores e espontâneos do desenvolvimento, sobre as áreas periféricas (neste caso está o Nordeste, com relação ao Centro-Sul) emanados do centro industrial, forte, não encontra respaldo na história, a não ser em condições bem específicas.

Daí porque está se criando um consenso de que o problema nordestino é basicamente, um problema de decisão ao nível de política de governo, pois achamos que temos toda nossa parcela de promessa e de palavra, que creio contribuem, obviamente um substituto para a ação efetiva a que temos direito.

3- Perfil da Indústria Metal-Mecânica no Ceará

Para melhor verificar a importância do Polo Metal-Mecânica incluído no II PLAMEG, tentarei, de forma sumária, traçar o perfil industrial destes setores, procurando comparar o Ceará com os dois Estados mais industrializados do Nordeste – Bahia e Pernambuco.

No período de 50/70, a indústria metalúrgica aumentou 8,5 vezes o número de seus estabelecimentos, enquanto que Pernambuco teve um acréscimo de 4,6 e a Bahia de 12,8 vezes.

A indústria mecânica no mesmo período cresceu 6 vezes no Ceará, e 36,8 vezes em Pernambuco (a Bahia não dispunha de dados no início da série).

Em 1970, o Ceará participava com 18% do total nordestino de estabelecimentos metalúrgicos, contra 23% de Pernambuco e 19% da Bahia.

Naquele mesmo ano estes percentuais para o setor mecânico eram, respectivamente, 13,4%, 27,6% e 21,6% para o Ceará, Pernambuco e Bahia.

Quanto ao valor da transformação industrial, no ano sob análise, a participação do Ceará, Pernambuco e Bahia no total regional tendo a seguinte composição: Setor Metalúrgico, 21%, 39% e 27% respectivamente; setor mecânico, 8%, 34% e 48%.

Do ponto de vista de dimensão, verifica-se, que ambos os setores industriais, a maior freqüência é de estabelecimentos que empregam até 9 pessoas.

Com base no Cadastro Industrial do Ceará/1979, constata-se que o Estado dispõe de 144 indústrias metalúrgicas das quais as 10 maiores ocupam, em conjunto, um volume de mão-de-obra da ordem de 4.200 empregados.

O Cadastro também registra, a existência no Ceará de 34 indústrias mecânicas, predominantemente de pequeno e médio porte destacando-se 10 empresas fabricantes de máquinas e equipamentos para o setor agrícola e 9 para o setor industrial.

Computando-se o setor de material de transporte no gênero metal-mecânico, destaca-se mais uma vez o Ceará, face a sua vocação para a construção e reparo de embarcações e de caldeiras, máquinas, turbinas e motores marítimos, ramos consumidor de chapas e demais produtos metalúrgicos. O mesmo ocorre se incluir o ramo de material elétrico e de comunicações; neste, o Ceará apresenta importantes empresas produtoras de rádio receptores, subestações e quadros de comando, transformadores, medidores e outros produtos.

4- Concepção do Pólo Metal-Mecânico

O III Pólo Industrial do Nordeste reconhecido como política do governo através da Exposição de Motivos 259/78 contempla como prioritário o Pólo Meta-mecânico. Respondendo a uma vocação econômica do Estado, este Pólo tem uma função de elo na cadeia de investimentos do Nordeste, na medida em que se constitui num complexo de alto poder germinativo, ao lado do Pólo Petroquímico de Camaçari, do Complexo Cloroquímico de Alagoas, do Complexo Industrial Portuário de Suape, do complexo Químico-Metal-Mecânico do Rio Grande do Norte e de outros.

Concebido para se efetivar através de um esforço conjugado dos setores público e privado ele conta com um impulso exógeno representado pela participação significativa do Governo Federal.

Mais uma vez fica reconhecido, por parte da União que o take-off do desenvolvimento regional via industrialização, não pode dispensar de seu aposte substancial. É claro que tal iniciativa, embora fundamental à economia do Nordeste e, principalmente do Ceará; não necessariamente reduzirá os desequilíbrios regionais, porquanto distorções próprias ao modelo econômico brasileiro podem, mais uma vez, frustrar a consecução deste objetivo.

Entretanto, a consolidação do parque industrial cearense e a expansão de novas atividades econômicas com geração de renda e emprego e objetivos a serem certamente atingidos se a implementação deste programa se verificar conforme planejado.

5- Programação do Pólo Metal-Mecânico

A programação do Pólo Metal-Mecânico, elaborada a partir das potencialidades que o Estado apresenta no Setor, parte da seleção dos ramos metal-mecânicos considerados nos estudos ora em realização pelo BNB e SUDENE, como compromissos do ponto de vista tecnológico e de competitividade.

Assim é que a ampliação do parque metal-mecânico para atendimento, de início, da demanda regional, ora abastecida, em parte no Centro-Sul, contempla os seguintes ramos:

  • Fundição de ferro

  • Forjaria

  • Trefilaria

  • Fundição de não ferrosos

  • Parafusos e porcas

  • Cutelaria

  • Ferramentas agrícolas

  • Ferramentas manuais

  • Máquinas operatrizes – de cavaco

  • Máquinas operatrizes – de deformação

  • Máquinas têxteis

  • Bombas e compressores

  • Redutores e engrenagens

  • Rolamentos equipamentos industriais de processo

  • Estruturas metálicas

  • Máquinas e implementos agrícolas

 

A implantação do Pólo Metal-Mecânico dar-se-á através da execução dos projetos industriais a seguir especificados:

1- USINA DE LAMINAÇÃO DE AÇOS PLANOS

Este empreendimento integra o Plano Mestre de Siderurgia e seu início está previsto para 1984. A Companhia Siderúrgica do Ceará (COSICE) se encarregará da implantação do projeto, contando para tanto com a participação dos órgãos federais – SIDERBRÁS e CONSIDER.

a) Meta

Produção de 500.000 toneladas de bobinas e chapas finas a frio e folhas de embalagem, com instalação prevista em 3 etapas.

b) Inversões

US$ 400 milhões. O financiamento será feito de acordo com os esquemas financeiros adotados pelo governo federal na implantação de empreendimentos siderúrgicos.

c) nº de empregos

Cerca de 1.300 pessoas das quais 30 % seriam especializadas.

d) Matéria-prima

Bobinas de aço laminadas a quente, trazidas de empresas siderúrgicas do Centro-Sul.

e) Fontes de financiamento

Os recursos necessários à implantação e funcionamento do projeto seriam carreados juntos às seguintes fontes: Governo Estadual, Empresário Privado, EMBRAMEC, SIDERBRÁS, FINOR, Fornecedores e Bancos de Desenvolvimento.

Além da Usina de Laminação estão previstos outros projetos industriais, destacando-se dentre estes os seguintes:

 

2- FUNDIÇÃO DE FERRO CINZENTO, MALEÁVEL E/OU NODULAR

 

a) Meta

Produção de 6.000 t/ano, a partir de 1981, de produtos de ferro fundido, cinzento, maleável e/ou nodular.

b) Inversões

O investimento unitário estimado é de US$ 6 milhões.

c) nº de empregos

Cerca de 388 pessoas

d) Matéria-prima

Uma das composições de matéria-prima poderá ser 6.317 t. de aço e 1.117 t. de ferro gusa.

e) Fontes de financiamento

Recursos próprios do empresário, com participação do FINOR, EMBRAMEC e Governo do Estado sob forma de capital social e com financiamento de longo prazo dos bancos de desenvolvimento.

3- PRODUÇÃO DE ARAMES

a) Meta

60.000 t. de arame em 1985

b) Inversões

CR$ 161 milhões.

c) nº de empregos

568 pessoas.

d) matéria-prima

O consumo de fio máquina seria da ordem de 60.653 t., enquanto o de zinco seria de 1.470 t.

e) Fontes de financiamento

As mesmas do projeto anterior.

 

4- FERRAMENTAS AGRÍCOLAS

 

a) Meta

3.500 t. de ferramentas agrícolas em 1981

b) Inversões

CR$ 40 milhões.

c) nº de empregos

90 pessoas

d) matéria-prima

O consumo de tarugo de aço 1045 é de 3850 t. por ano.

e) Fontes de financiamento

As mesmas do projeto anterior.

 

5- FERRAMENTAS MANUAIS

 

a) Meta

1.200 t. de ferramentas manuais em 1981.

b) Inversões

CR$ 80 milhões

c) nº de empregos

379 pessoas

d) matéria-prima

O consumo de aço terá a seguinte composição:

Aço carbono - BTC – 35 t/ano

Aço carbono – MTC – 870t/ano

Aço carbono – ATC – 265 t/ano

Aço carbono – B liga – 90 t/ano

e) Fontes de financiamento

As mesmas do projeto anterior

 

6- MÁQUINAS OPERATRIZES (CAVACO)

 

  1. Meta

1970 t. de máquinas operatrizes (arranco de cavaco) em 1982.

b) Inversões

CR$ 67,6 milhões

  1. nº de empregos

358 pessoas

d) matéria-prima

fundidos de ferro e aço e peças prontas numa quantidade em torno de 2.000 t/ano

e) fontes de financiamento

As mesmas do projeto anterior.

7- BOMBAS

  1. Meta

1500 t. por ano de bombas de pequeno e médio porte para uso agrícola e doméstico.

b) Inversões

CR$ 2,5 milhões.

c) nº de empregos

189 pessoas.

d) matéria-prima

O consumo de ferro gusa e coque previsto é de, respectivamente, 2.000 t e 1.800 t.

e) Fontes de financiamento

As mesmas do projeto anterior.

 

8- FERRO GUSA

 

a) Meta

1.800 t/ano de ferro gusa para fundição.

b) Inversões

CR$ 50 milhões.

c) nº de empregos

68 pessoas.

d) matéria-prima

O minério necessário ao nível de produção programada é de 36.000 t/ano.

e) fontes de financiamento

As mesmas do projeto anterior.

 

Além destas oportunidades, os estudos estão indicando, em caráter preliminar, novos empreendimentos industriais para produção de estruturas metálicas, equipamento para produção de álcool e outros.

Dadas estas informações que espero, tenham contribuído para um melhor conhecimento do setor metal-mecânico cearense, coloco-me à disposição dos senhores para dirimir dúvidas ou analisar questões que porventura possam existir,

 

 

 

 

 

 

FLUXOGRAMA GERAL DE PRODUÇÃO

  • USINA DE ALIMENTAÇÃO –

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte : III Pólo Industrial do Nordeste – “Justificativa da Implantação de uma Usina de Laminação de Aços Planos no Ceará”, janeiro /79.

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