[Discurso] José Flávio Leite Costa Lima

Discurso proferido pelo presidente da Fiec, Dr. José Flávio Costa Lima, na solenidade de transmissão do cargo de secretário de indústria e comércio do Estado do Ceará, no salão nobre da associação comercial do ceará.

Fortaleza, 16 de março de 1979.

As organizações militares têm, de um certo modo, uma maneira prática para as solenidades desta natureza, na qual os que saem e os que entram limitam-se a dizer: um transfiro o comando, o outro, recebo o comando da unidade tal.

Conquanto isso resultasse numa vantagem para os atuais circunstantes, penso que não me seria lícito sair assim, como se na realidade estivéssemos presas do ordenamento preestabelecido nos regulamentos e nas funções propriamente militares.

Vivemos momento de realidade democrática que, embora “relativa”, deseja aperfeiçoar-se, em função dos anseios do povo brasileiro. Assim, essa passagem de comando resulta do salutar princípio de renovação implícito na democracia e em todo o Brasil ressoa o eco daqueles que saem, proclamando sua “tranqüilidade de consciência com o dever cumprido”, e daqueles que entram, proclamando a “consciência das graves responsabilidades que recebem”.

Eis-nos diante de proclamações contrastantes! Pois se todos os deveres vêm sendo cumpridos neste país, desde que se transmitem cargos, as responsabilidades daqueles que assumem, na realidade, não deveriam ser assim tão graves como são...

De fato, estamos vivendo momentos de extrema fragilidade social, resultante dos certamente sérios problemas políticos, econômicos e sociais que envolvem a Nação brasileira como um todo, e, particularmente, o Nordeste e o Ceará, onde os índices de miséria e pobreza são verdadeiramente assombrosos. A promoção publicitária convidou-nos ao aplauso do “soi dissant” milagre econômico do Brasil e da potência emergente...

De repente, enfrentamo-nos com um endividamento externo de cerca de 40 bilhões de dólares, com um endividamento interno em cruzeiros, correspondente àquela importância e com a inflação que aí está.

Grande é a nossa pobreza tecnológica, grande é a carência dos recursos humanos disponíveis para o trabalho e para o progresso. Não falemos no baixo desfrute da nossa pecuária, na insignificante produtividade da nossa agricultura, na penosa carência tecnológica da nossa indústria, nem da sua inferior posição frente ao capital estrangeiro que, às nossas custas, invade setores já ocupados por empresas nacionais, incapazes de competirem com concorrentes privilegiados, inclusive, pelo poder público. Daí a nossa perplexidade!

Por outro lado, o relatório recente do BNB aos governadores que ora iniciam seus mandatos na região é muito preocupante, por denunciar os tremendos déficits regionais e os sérios esforços que devem ser feitos para superação desses problemas e para a introdução, na região, do desenvolvimento auto sustentado. Onde estará o erro, se cada um cumpriu o seu dever?

Longe do derrotismo da inelutabilidade da pobreza brasileira, anima-me a certeza de que, se trabalharmos objetivamente, dentro dos ensinamentos básicos da teoria econômica, aplicando tecnicamente poupanças escassas, conseguiremos tirar proveito dos grandes recursos naturais à nossa disposição, porém, à espera do homem que ainda não temos e do cidadão consciente que não temos sabido ser.

Por isso, não me permito dizer que saio com a consciência tranqüila do dever cumprido, pois entendo que não deixo a liça e que meu dever de cidadão e de líder não se esgotou nas tarefas certamente cumpridas à frente da SIC, quando a aparelhamos efetivamente com instrumentos capazes de acionar o programa de trabalho em prol do desenvolvimento econômico planejado.

O PLAMEG II, na parte relativa ao setor secundário, dá-me a certeza e a gratificação de que agi objetivamente à frente da Pasta, instrumentando-a com organismos como o NUTEC e a CDI, que terão, no plano do Governo Virgílio Távora, excepcional importância no acionamento da nossa preparação para o progresso. Naturalmente que a SIC se fortalecerá com as responsabilidades da coordenação do III Polo de Industrialização, para o qual esperamos não faltem as prometidas verbas, como é constante na resposta que a União tem dado aos nossos tremendos problemas estruturais, sobejamente estudados, amplamente conhecidos, devidamente diagnosticados e permanentemente adiados.

Devo agradecer a valiosa colaboração de Ariosto Holanda e seus companheiros do NUTEC, de Marinho de Andrade e Itamar e dos que ajudaram na CDI. Sei que continuarão à frente desses organismos, sinal de que fiz boa escolha. Não caberia, aqui, analisar os tropeços financeiros impeditivos da pronta ação daqueles órgãos ao tempo da sua criação. Basta agora, que se ressalte que o PLAMEG II os tem como prioritários.

Estava eu certo, portanto. Os agradecimentos, também à Dra. Amparo, que me permitiu uma melhor avaliação dos problemas econômicos do Ceará; à Dra. Rosélia, dinâmica responsável pela Junta de Planejamento; ao Dr. Odílio, que estudou e planejou os abrangentes problemas do turismo e do artesanato; ao Dr. Eduardo, eficiente Chefe de Gabinete; à Dra. Alzanita e à professora Laura, que no artesanato e na seção de preparação de mão de obra desenvolveram magníficos trabalhos; ao Dr. José de Freitas, que, no SINE, possibilitou o conhecimento completo do problema do emprego no Ceará.

Enfim, do mais categorizado ao mais humilde funcionário, os meus agradecimentos pela colaboração emprestada e pelo carinho que me demonstraram na última sexta-feira.

Aos meus companheiros da empresa cearense que me estimularam ao longo do período e em cujo nome exerci o cargo, a certeza de que não os decepcionei.

Longe de sermos aqueles incompetentes que apenas querem privatizar os lucros e socializar os prejuízos, como, pretendendo invalidar o sistema da livre empresa, querem os burocratas sectários, temos, os empresários, consciência dos nossos deveres econômicos, sociais e políticos, nos quais se incluí a compreensão da função social do capital.

Quando a burocracia erra, foi a conjuntura; quando o empresário, em função dos erros do intervencionismo se atrasa, é a incompetência...

Se, ao transferir o cargo, considero que apenas muda minha perspectiva como empresário e cidadão (ontem no Legislativo Federal e sempre nas entidades de classe), acho que o secretário que hoje assume – Dr. Firmo de Castro, também apenas muda de perspectiva na sua permanente e dinâmica ação em benefício dos problemas econômicos regionais e do Ceará, no BANDECE, no BNB, na CODEC, no magistério e na Superintendência Adjunta da SUDENE, sinal de que é profundo conhecedor da missão que terá a cumprir.

Diz-se que administrar é escolher.

Parabenizo o Governador Virgílio Távora pela escolha que fez para a Secretaria da Indústria e Comércio.

Ontem, no seu discurso, sua Excelência proclamava que queria o concurso de todos.

Posso garantir que o empresariado – consciente das suas próprias responsabilidades, sabendo que há uma relação de mútua causalidade entre a ação desenvolvimentista do Governo e a sua ação, sabendo que é justamente na industrialização que se baseia a estratégia do desenvolvimento, sabendo que é do crescimento e da multiplicação da empresa que, numa economia aberta, se amplia a oferta de empregos, com o que se assegura o futuro das novas gerações, posso garantir que o Governo Virgílio Távora e o seu Secretário da Indústria e do Comércio terão a mais ampla colaboração dos empresários, a cujo serviços se encontram as entidades de classe que representamos.

Dr. FIRMO, por conhecê-lo, antecipo os meus parabéns pela obra que, certamente realizará à frente desta Secretaria, hoje, um importante órgão do programa de desenvolvimento econômico do Governo Virgílio Távora, no qual todo o povo cearense deposita as maiores esperanças.

O empresariado está mobilizado. É só comandar. Muito Obrigado.

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