[Discurso] José Flávio Leite Costa Lima

PRONUNCIAMENTO DO PRESIDENTE DA FIEC, DR. JOSÉ FLÁVIO COSTA LIMA, QUANDO DA POSSE DE DIRETORIA DO CIC PRESIDIDA POR BENEDITO CLAYTON VERAS ALCÂNTARA.
Fortaleza, 08 de março de 1978.

Meus caros empresários,

Se me fosse permitido fugir das normas protocolares de saudação aos mandatos que ora se inauguram com a renovação do Centro Industrial do Ceará, eu me permitiria ceder à tentação de falar-vos sobre o papel do empresário na moderna sociedade brasileira e no regime de mercado, dentro do modelo neo-capitalista que pretendemos vestir.

Qual a prioridade que enfrentamos neste contexto subdesenvolvido, inflacionário, no qual os grandes problemas estruturais da estatização, da dependência tecnológica, da desnacionalização da nossa economia estão reclamando urgente revisão?

Temas políticos marcam, pari-passu, os horizontes das nossas responsabilidades, recaindo sobre nós outros, do Nordeste, com remarcado imperativo, pois a região reclama maior ativismo para frear os recuos no plano de ação governamental, que visa a corrigir as desigualdades regionais.

Tão íntimos são os laços filosóficos e históricos que ligam a economia de mercado e o pensamento político, a livre iniciativa e a participação, que, para nenhum de nós, conscientemente, seria lícita a omissão.

Os tempos modernos são tempos complexos!

Estão a democracia e o capitalismo inexoravelmente condenados, como solenemente declarou Schumpeter, na primeira metade do século?

Os fatos negam o vaticínio.

O que vemos é o capitalismo vigorosamente cortejado no plano prático, apesar de atacado frontalmente todos os dias, no plano ideológico.

Aí estão todos os países socialistas a apelar para a ajuda tecnológica e para os investimentos dos “agonizantes” países ocidentais.

E se aplicarmos às economias socialistas, ou apenas às meras intervenções do Estado nas economias liberais, a mesma severidade crítica com que são apreciados os resultados da livre empresa pelos seus opositores, constataremos que é, exatamente, o regime fechado, o sistema centralizador que está passando por maiores dificuldades.

Jean François Revel coloca o problema muito bem quando, apoiado naqueles que chama de “novos economistas” da França e dos Estados Unidos, conclui que “as iniqüidades da sociedade contemporânea são a conseqüência não do funcionamento do mercado, mas do seu não funcionamento”.

“A sociedade sofre não de mercado excessivo, mas de Estado em excesso”. Segundo Henry Lepage (citado por Revel), as dificuldades das sociedades ocidentais revelam menos a falência da economia de mercado que a falência dos mecanismos políticos. Não se diga desnecessário limitar os inconvenientes do mercado; o que importa é procurar corrigi-lo pela análise das opções coletivas, do capital humano, cuja moldura é o neo-capitalismo. Pois acreditamos que o aperfeiçoamento constante do homem só encontrou uma forma clara de institucionalizar-se – o sistema democrático.

Como empresários, representamos uma comunidade da qual participam trabalho, técnica e capital.

Nas entidades, nosso papel, pois, é o de representar a soma desses interesses, transmitindo, no contexto socioeconômico, suas reivindicações legítimas.

Por isto fostes convocados meus caros empresários, que hoje tomais posse do Centro Industrial do Ceará.

O processo de transformação das empresas em modernas sociedades anônimas, onde os problemas do DEVER e HAVER se desdobram numa complexidade abrangente, que vão da mercadização à administração por objetivos, das opções que os incentivos induzem à abertura dos capitais, das relações humanas, às finalidades sociais do capital, impôs essa moderna geração de executivos em que vos integrais.

Por isso mesmo vossa presença era reclamada. Estou certo de que vindes com ânimo forte e espírito aberto para o palco das entidades cearenses, trazendo para o Centro Industrial do Ceará o valor das vossas crenças, a força da vossa confiança no trabalho, para que possamos, construindo a sociedade solidária e justa que o Brasil quer ser, responder ao desafio das desigualdades impossíveis. Os tempos modernos são tempos complexos. Suas soluções não serão encontradas nem no escapismo, nem no simplismo dos que apenas reclamam.

Vamos participar.

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