[Discurso] Luiz Esteves Neto

Exposição do Presidente da FIEC, Dr. Luiz Esteves Neto, para os alunos do Curso de Altos Estudos Militares (2º ano) da Escola de Comando e Estado Maior do Exército sobre a FIEC e sua atuação no contexto Econômico - Político e social no Estado do Ceará.

Fortaleza, 21 de outubro de 1991.

O PERFIL ATUAL DA INDÚSTRIA CEARENSE E PERSPECTIVAS FIITURAS

Falar do perfil atual da indústria cearense nos proporciona dois sentimentos quase que conflitantes: alegria e preocupação.

O sentimento de alegria reflete o fato de estar a indústria cearense vencendo com galhardia o espectro da recessão porquanto tem apresentado nos últimos quatro anos taxas de cresci mento bastante satisfatórias, mormente se comparadas as taxas de crescimento verificadas para as suas co-irmãs do Nordeste e do Brasil.

O sentimento de preocupação advém do fato de estar-mos atravessando uma fase bastante delicada da história política brasileira, cujos reflexos são imprevisíveis. E como o Ceará não poderá ser uma ilha de prosperidade face a catástrofes brasileiras, também. a indústria não poderá ser um setor em crescimento quando todo o sistema econômico nacional se vê na iminência de um “débâde”.

Assim, a indústria cearense vai bem obrigado, mas... até quando?

Analisemos, agora, alguns indicadores, que nos permitem gozar desta momentânea sensação de alegria.

Infelizmente, os dados estatísticos disponíveis para uma análise da situação do setor industrial cearense são bastante defasados e esparsos, mas com uma certa dose de boa vontade pode remos tirar algumas ilações das estatísticas conhecidas.

Entretanto, necessário se faz que situemos o setor industrial dentro do contexto maior da economia cearense e até do contexto nordestino para compreendermos melhor o porquê do atual  perfil deste setor econômico.

Para tanto apresentamos a Tabela 1 onde estão alinhadas as informações disponíveis sobre a indústria cearense.

De principio, chama a atenção o desempenho da indústria de transformação. Para todas as variáveis listadas (VTI, mão ­de-obra, potência instalada, consumo de energia elétrica e número de estabelecimentos) o desempenho do setor cearense foi superior àquele verificado para o setor nordestino.

Trabalhando entretanto, com valores absolutos , verificamos que a indústria de transformação cearense é ainda bastante diminuta face à indústria de transformação do Nordeste e do Brasil. De fato, o valor da transformação industrial no Ceará só representava, em 1985 (último ano de informação disponível) , 11,37% e 0,9% do VTI’ do Nordeste e do Brasil, respectivamente. Em 1980, esses percentuais eram 11,59% e 0,9%, respectivamente.

Isto significa dizer que uma indústria de transformação praticamente não mudou sua posição no primeiro lustro da “década perdida”, vis-à-vis suas congêneres do Nordeste e do Brasil.

Entretanto, quando analisarmos as informações sobre número de estabelecimentos industriais sediados no Estado, verificamos que tanto no contexto regional quanto no contexto nacional, o Ceará melhorou sua posição, fazendo de um percentual de 13,3% para 15,1% dentro da Região. Quando comparado com o Brasil como um todo a variação foi de 2,72% para 2,98%.

Assim, a quantidade de indústrias sofria uma diminuição tanto no Nordeste quanto no Brasil, na primeira metade da década passada. No Ceará, essa quantidade aumentou, não só em termos absolutos como em termos relativos.

Olhando agora para a indústria cearense como um todo, constatamos que em termos de geração de IPI, e para os dois  primeiros anos desta década, a  nossa indústria apresentou comportamento ascendente, passando de uma participação no IPI total nordestino de 10,06%, em 1990, para 11,50%, em 1991. Comparada com a performance brasileira, a geração de IPI no Ceará cresceu de 0,76% para 0,87%.

Entretanto, há de se notar que a indústria cearense parece ter diminuído sua capacidade de empregar mão-de-obra, haja vista a considerável redução no numero de pessoas ocupadas: de um emprego de 598.637 trabalhadores, em 1981, este segmento econômico empregou, apenas, 454.521 pessoas, apresentando uma redução de 24% em sua capacidade empregadora.

Que conclusões podemos tirar dessas informações? De princípios parece inconteste que a indústria cearense durante a chamada “década perdida” mostrou uma vitalidade que não se verificou quer no Nordeste, quer no Brasil. E essa vitalidade, quando analisada dentro da própria indústria, parece ter sido obtida por uma maior relação capital/trabalho (já que o numero de pessoas ocupa das apresentou uma sensível diminuição) e por uma, talvez, maior diversificação dos ramos industriais explorados (tendo em vista que o numero de estabelecimentos aumentou).

A par deste ajuste interno não podemos deixar de reconhecer que uma série de fatores benéficos contribuíram para esta performance da indústria cearense: a seriedade das ações do governo estadual a partir de meados da década passada e o arrefecimento nas catástrofes climáticas a partir de 1987.

É sintomática a magnitude da taxa acumulada de crescimento da economia cearense, ocorrida no quinquénio 1987/91: 18,46% contra 8,24% para o Nordeste. Isto significa uma taxa anual, média, 2,81%, quando no período 1960/87, esta taxa foi de, apenas, 1,2%.

Todo esse conjunto de fatores: adaptação da indústria à crise, a emergência de governos sérios e a benevolência de Deus só poderia resultar no que estamos vendo. Os dados da Tabela 2 refletem melhor os nossos argumentos.

Mas é gratificante vermos o crescimento da indústria e da economia cearenses não pelo seu crescimento em si, mas pelas consequências sociais de tal crescimento. E aqui temos dois indicadores que refletem a melhoria do bem—estar da população cearense: o crescimento do produto per capita(ver Tabela 2) e a diminuição continuada da taxa de mortalidade infantil, fato reconheci do até internacionalmente.

Os três fatores convergentes a que nos referimos podem ser melhor compreendidos após a apresentação dos dados contidos na Tabela 3. Embora centrado nos dados de 1990/91, não resta a menor dúvida que a melhor (embora diminuta) na agudeza  das estiagens muito contribuiu para a boa performance do setor agrícola no ano de 1991, por exemplo. - -        - - . -

Do lado da indústria o desempenho neste último ano foi expressivo, principalmente se tomarmos em consideração a estai nação do setor a nível nacional(0,0%) e seu declínio na Região Nordeste (—1,4%). No ano de 1991 a indústria cearense cresceu L6%, crescimento este quase duas vezes superior ao verificado em 1990 (2,9%) . E este crescimento foi devido quase que exclusivamente a indústria de transformação (especialmente os ramos de metalurgia, mecânica, material elétrico, material de transporte, refino de petróleo, têxtil, produtos alimentares e bebidas — que cresceram cada um a uma taxa média de 6,7%) , tendo em vista que, infelizmente, um outro importante ramo industrial, a construção civil, apresentou um crescimento bastante modesto(0,9%)

Finalmente, a emergência de governos sérios e volta dos para o bem—administrar da coisa pública teve como consequência, após quase um quinquénio de persistente e continuo ajuste fiscal, a manutenção em ordem das finanças estaduais, resgatando a capacidade de poupança do setor público no Estado. Para termos uma ideia de tal capacidade, é bastante conhecermos que em 1991 o volume de investimentos do Governo Estadual cresceu, em relação a 1990, 26,2% reais, consolidando um patamar de US$ 17 milhões/mês na rubricadas despesas de capital.

É este o perfil da indústria cearense: pequena, mas aguerrida; diminuta, mas crescente; acuada, mas inovadora.

E para 1992, quais as perspectivas?

Levando-se em consideração os indícios já levantados pelos órgãos de pesquisas estaduais, as perspectivas são de expansão da economia e da indústria cearenses acima das taxas espera das para o Nordeste e para o País. De fato, levando-se em consideração as taxas de incremento real dos investimentos do Governo Estadual e da Prefeitura de Fortaleza, as indicações técnicas da possível ocorrência de condições climáticas favoráveis, e o continuado crescimento das exportações do Ceará, não pode ser outra senão a perspectiva de repetência de taxas de crescimento superiores aquelas a serem obtidas pelo Nordeste e pelo Brasil.

Mas, atualmente, tudo depende de termos estabilidade política para trabalharmos e produzir.

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