Discurso proferido pelo presidente da FIEC, Dr. José Flávio Costa Lima, na solenidade de outorga da Medalha do Mérito Industrial ao empresário José Dias de Macêdo.
Fortaleza, 11 de outubro de 1979.
O segundo aniversário da atual administração da Federação das Indústrias do Ceará ocorreria em íntima reunião dos industriais cearenses, não devêssemos cumprir a entrega da comenda da entidade – MÉRITO INDUSTRIAL, ao nosso companheiro, empresário José Dias de Macêdo, por força de decisão do Conselho de Representantes.
Pelo carinho e orgulho com que preservamos a respeitabilidade de nossa comenda, pela projeção de nosso homenageado, teríamos de abrir nossas portas para esse congraçamento com os mais amplos segmentos de nossa sociedade. O simples enunciar de sua folha de trabalho e de seu “curriculum” o credencia à admiração de toda a comunidade nacional. Mas, acreditamos que, homem sem ambições, criado no temor de Deus, esta é a vitória maior de José Macedo: receber de seus pares, de companheiros empresários, o aplauso que exatamente, confere a sua luta o sentido construtivo que ela inegavelmente tem.
São 23 empresas e 3 associadas, muitas com âmbito nacional, a criar empregos, a gerar riquezas que servem mais ao todo social do que propriamente a sua pecúnia. Da sua atividade produtiva resulta uma valiosa contribuição para o esforço coletivo que esta região e esta nação esperam de seus filhos e, principalmente, de suas elites dominantes, para que possamos ser uma comunidade solidária e justa.
“É NECESSÁRIO SOBRETUDO TRABALHAR E POUPAR. O LAZER E AS FÉRIAS VIRÃO OPORTUNAMENTE”. Eis, numa frase sua, o retrato sintético do nosso homenageado que, realmente, desfila na passarela existencial no “clube do trabalho”.
E tudo que vem do trabalho é bom. Foi com os frutos do seu trabalho que se lançou ele a novos empreendimentos, enriquecendo mais a nossa terra do que a si mesmo. E continua a trabalhar sobriamente, organizadamente, sempre modesto, sempre humano, dando sobretudo, um substancial exemplo de correção, alicerçando tudo isso num lar organizado e tranqüilo, suporte básico de seus êxitos, êxitos que são estímulo e ajuda para os seus e orgulho para todos nós.
Pois os sucessos de Macedo desmentem os negativistas que, de caso pensado, querem dar-nos como economicamente inviáveis. Suas vitórias respondem ou falam por toda a região, e nisso está o sentido da outorga da mais alta honraria da nossa Federação ao empresário polimorfo, ao cidadão cônscio de suas responsabilidades cívicas, ao homem integral que é o nosso Macedo: industrial, comerciante, agricultor, pecuarista, representante, pater-familiae, político, trabalhador.
Aqui, quero saudar o Presidente da Confederação Nacional da Indústria – Dr. Domicio Velloso da Silveira, cuja primeira visita ao Ceará é recebida com grande satisfação e honra por quantos fazem a indústria cearense.
Suas diretrizes naquela superior entidade, nesse momento sério e difícil da nacionalidade, quando estão em jogo as próprias estruturas do projeto nacional, que quer a democracia social e econômica, suas diretrizes tem norteado nossa ação, pois, como ele, entendemos que as virtualidades da democracia neocapitalista, embasada na valorização do homem, sem prejuízo dos valores sociais, são melhores do que aquelas que pretendem servir à sociedade com primazia, para depois atingir ao homem. Essas têm ficado nas inexeqüíveis utopias de Morus, Campanela, Hobbes e Karl Marx.
Sua presença na CNI é um permanente convite à participação, que há muito deixou de ser meramente reivindicatória para transformar-se na sua mais ampla abrangência econômica, social e política.
Dentro desta dinâmica, objetiva e atual, a CNI liderou recente manifesto à nação “que reafirma a confiança do empresariado nacional no País, na vocação democrática de seu povo e no seu destino de desenvolvimento e progresso, comprometendo-se no esforço para eliminar a pobreza, distribuir os frutos do crescimento e aprimorar a qualidade de vida da população”.
Neste contexto, ilustre presidente Domicio Velloso, a Federação das Indústrias do Ceará está mobilizada. Ela é, hoje, uma entidade respeitada, atuante dinâmica e participativa, exatamente porque tem estado à frente dos mais amplos anseios de desenvolvimento regional e nacional.
Há dois anos, ao assumir a nova diretoria, proclamávamos solenemente: “QUEREMOS O DESENVOLVIMENTO HARMÔNICO DO BRASIL, QUEREMOS A DESCENTRALIZAÇÃO INDUSTRIAL E UMA JUSTA TRIBUTAÇÃO DAS OPERAÇÕES INTERESTADUAIS, QUEREMOS PROMESSAS COM COMPROMISSOS, QUEREMOS TRATAMENTO DIFERENCIAL NA POLÍTICA ECONÔMICO-FINANCEIRA, NOTADAMENTE NO COMBATE À INFLAÇÃO QUE, POR DEPENDENTES, NÃO PROVOCAMOS E QUE, POR ECONOMIA REFLEXA QUE SOMOS, IMPORTAMOS, QUEREMOS UMA ORGANIZAÇÃO POLÍTICA REALISTA, COMPATÍVEL COM AS NECESSIDADES E TRADIÇÕES NACIONAIS, QUE VALORIZE O CIDADÃO PELA PARTICIPAÇÃO NO PROCESSO, QUEREMOS A SEGURANÇA E UM PROJETO NACIONAL SOLIDÁRIO E JUSTO. COM ESSA PERSPECTIVA, ENTENDE A FEDERAÇÃO QUE ELA JAMAIS PODERIA TRAIR OS SUPERIORES INTERESSES DO POVO BRASILEIRO”.
Passaram os dias, mudaram governos estaduais e federal.
Os problemas então apontados emergem, agora, com marcada gravidade. Seria natural, portanto, que não tivesse dúvida em dar nossa irrestrita adesão ao Manifesto da CNI e de outras entidades, quando V. Sa. Nos antecipava, no Conselho, no Rio, a íntegra do documento a ser publicado.
O Ceará e o Nordeste estão preocupados.
Da postulação emocional inicial, saímos, os nordestinos, ao longo do tempo e na medida do conhecimento crítico, para uma definitiva tomada de consciência regional, que se consubstanciou, agora, no movimento POLÍTICO EMPRESARIAL DE DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE, com a participação das Associações Comerciais e Assembléias Legislativas da região. As Federações das Indústrias Nordestinas aderiram ao movimento. Achamos que já não há mais clima para procrastinações...
A teoria econômica mostra que, longe de sermos inelutavelmente pobres temos sido vítimas de sérios e tremendos erros de política econômica federal, deixando-nos entre outras distorções, em posição verdadeiramente colonial frente ao concentracionismo industrial do sul.
Na síndrome dos problemas que se desdobram sobre nosso país, sabe o nordeste que, ele mesmo, não é causa dessa inflação que ameaça as instituições, pois pouco são os gastos federais na região; sabe, ainda, que não temos, nós mesmos, problema energético pois temos largos excedentes de produção de petróleo; que temos saldo de divisas nas trocas externas e que o endividamento regional no exterior é insignificante; que não temos estouros financeiros, nem excessivamente ricos a cujo favor se tenha empobrecido nosso meio, inibindo a justa participação nos frutos da produção. A terapêutica para esses males do sul é, no Nordeste, inadequada, incompetente e perversa.
Já temos tido nossa parcela de promessa e de palavras.
Esperamos que a anunciada reunião da SUDENE, no próximo dia 18, quando o Presidente João Figueiredo vem trazer-nos os planos do seu governo para a região, contenha firmes compromissos.
Mas as decepções da região, que também são nossas, não têm abalado nossa determinação nem nosso ânimo.
Sabemos que o desenvolvimento, na sua concepção moderna, é essencialmente um processo de ganhos de produtividade.
Para suprir a deficiência de acumulação de capital convencional, devemos contar com investimentos capazes de promover modificações qualitativas nos fatores: recursos humanos e tecnologia. Daí o SENAI, o IEL (Universidade-empresa), o CAMPI.
Procura-se transferências indiretas que permitam melhoria no padrão de vida dos trabalhadores, temos o SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA. Mas a Federação não pode ser só isto. Qualquer que seja a filosofia adotada, a industrialização continua a ser o setor estratégico primordial no programa de desenvolvimento. Daí a responsabilidade que reconheço pesar sobre nossos ombros.
A indústria cearense acredita no plano de desenvolvimento do governo Virgílio Távora. O que já foi feito no BANDECE, na CDI, no NUTEC, na SIC mostra que sua Excia. é aquele mesmo senador profundamente identificado com os nossos problemas econômicos, de franco e aberto diálogo com o empresariado. Ao então senador, esta mesma Federação, em justo reconhecimento de seus serviços à indústria cearense, concedeu a Medalha do Mérito Industrial.
Acreditamos também no presidente da CNI, nosso ilustre visitante, de quem temos recebido inequívocas provas de solidariedade, permitindo-nos amplos recursos para o SESI, SENAI e CAMPI, de tal forma que o nosso programa tem sido executado com alta dinâmica. Assim, pensamos poder perseguir as ambiciosas metas de valorização e representatividade do setor industrial, inclusive dentro daquele necessário quadro de solidariedade com os industriários, longe do confronto ou do antagonismo entre as classes, que inibe o entendimento necessário ao desenvolvimento harmônico do todo social brasileiro.
Apraz-nos assinalar a presença do Dr. Cláudio Galeazzi, nosso companheiro da indústria paulista, que, distinguido pelo Sr. Presidente da República assumiu a Presidência do Conselho Nacional do SESI. Muito há a conquistar a entidade nos seus ambiciosos objetivos sociais. Todos ouvimos, como preâmbulo desta festa, a harmonia melódica da nossa orquestra de cordas do SESI.
São filhos de industriários! O contraponto, cujo eco ressoa em nossos corações e enleva nossa alma, sugere a harmonia social que está implícita na valorização desses moços, arrancados, quem sabe, pela ação social do SESI, dos descaminhos de uma sociedade ainda bastante imperfeita e injusta. Saiba o Dr. Galeazzi que queremos ajudá-lo no Conselho e que precisamos de sua ajuda e do seu apoio. NOSSO SESI QUER SER!
Com os nossos agradecimentos a todos, a Federação das Indústrias do Ceará sente-se honrada em pedir ao Dr. Domicio Velloso da Silveira que, em nosso nome, entregue ao nosso companheiro José Dias de Macedo a nossa Medalha.
Muito obrigado.