[Discurso] José Flávio Leite Costa Lima

PRONUNCIAMENTO DO PRESIDENTE DA FIEC, DR. JOSÉ FLÁVIO COSTA LIMA, POR OCASIÃO DA REUNIÃO PLENÁRIA DA ENTIDADE, REALIZADA NO AUDITÓRIO WALDIR DIOGO.

Fortaleza, 14 de fevereiro de 1979.

Vário e complexo é o panorama sócio-econômico brasileiro.

A crise que vivemos não é apenas conjuntural, superável a curto prazo. Ela tem uma profunda vinculação estrutural, a exigir longo e persistente ordenamento.

Nós outros, que compomos o segmento dinâmico do corpo social, protagonistas que somos do processo, precisamos de nos organizar, para respondermos melhor a esses complexos desafios.

O problema desdobra-se com marcante gravidade sobre as lideranças nordestinas, eis que são gritantes, aqui, os índices de pobreza.

Por isso mesmo, entendo que devemos avaliar e rever nossa posição frente aos centros de decisão nacional, de tal forma que nos sejam conferidas novas condições de representação e da participação regional naquelas decisões.

Por outro lado, as variações de cunho sócio-político que se registram com larga abrangência, no momento, conduzem-nos ao diálogo aberto com as classes trabalhadoras, em cujo movimento surgem, nacionalmente, novas e esclarecidas lideranças.

É verdade que essa posição tem sido corretamente assumida por empresários do sul do país, porém no Nordeste, e especialmente no Ceará, há como que uma concepção estacionária do processo. O palco natural da discussão e equacionamento do problema seria a entidade de classe. Mas, aqui, elas vivem pela ação quase apostolar de uma meia-dúzia, ignoradas pelo excessivo individualismo da maioria, que “pretende segurança, franquias e imunidades no seu; o conjunto, o social, soa-lhe falso”.

Acredito que todos receberam cópia de editorial do Jornal do Brasil, de 28 de maio de 76. Muito do que ali está dito já não espelha o perfil do empresariado do sul, de onde nos chegam, cada dia, notícias de intensa atividade participativa. Em Minas, S. Paulo, Rio Grande, Paraná e Rio eles se fazem ouvir, reúnem-se, discutem, reclamam, dialogam, exibindo um ativismo compatível com as sérias responsabilidades sociais dos tempos novos.

No Ceará, ouso dizer, o editorial atinge o alvo. É difícil a reunião. É incômodo vir à Federação, falta estacionamento, ninguém quer sacrifícios...

Os individualistas – socialmente míopes, estão satisfeitos ou não querem mudanças. Vêem apenas o crescimento material que o regime centralizado propiciou. Não enxergam a fragilidade social, a tensão latente nas fábricas, nos campos e na periferia, onde graçam o subemprego e o desemprego e onde, sem dúvida, a renda (que nem atinge 300 dólares per-capita ) ofende, humilha e avilta o ser humano, poluindo-lhe o contrato social.

Ainda o Jornal do Brasil de 12 de janeiro passado, publica:

Os futuros governadores do Nordeste tomaram conhecimento em reunião secreta com a SUDENE e o BNB, do que os aguarda a partir de março. O diagnóstico que lhes foi apresentado é preocupante: a situação da região é grave e, potencialmente, pode gerar maiores tensões político-sociais do que as do período de 62/63. Os técnicos reunidos com os governadores mostraram que a posição relativa da região não melhorou face ao Brasil desenvolvido”.

O assunto morreu, pouca ou nenhuma repercussão teve na imprensa local, que aceitou o esoterismo da reunião...

A verdade – no fundo do poço, seria proibida aos empresários e povo, como se não fossemos protagonistas dessa ópera do desenvolvimento regional, cuja partitura, ninguém sabe tocar. OU SEREMOS APENAS FIGURANTES EXTRAS, AOS QUAIS SOMENTE COMPETE O APLAUSO?

Não! Vivemos nossa hora de verdade! Já tivemos nossa parcela de promessas... Queremos ação efetiva com compromisso. Podemos, queremos e devemos participar ! E a entidade de classe é a via.

Fiz mostrar o sistema FIEC: SESI, SENAI, IEL, CAMPI.

Sabemos que o desenvolvimento na sua concepção moderna é, essencialmente, um processo de ganhos de produtividade. Para suprir a deficiência de acumulação de capital convencional, devemos contar com investimentos capazes de provocar modificações qualitativas nos fatores: recursos humanos e tecnologia. Daí o SENAI, o IEL, o CAMPI.

Há transferências indiretas que permitem melhora nos padrões de vida dos trabalhadores – temos o SESI.

Mas a Federação não pode ser só isto. Qualquer que seja a filosofia adotada, a industrialização continua a ser o setor estratégico principal no programa de desenvolvimento. Daí a responsabilidade que reconheço pesar sobre nossos ombros.

Por isso eu vos convoco.

Trouxe-vos um retrato de corpo inteiro, expresso numa entrevista concedida ao jornalista Edmundo Vitoriano.

Esta postura de hoje, aqui reiteradamente assumida, não é, portanto, a de um diletante que, por modismo, exibe as idéias do seu tempo.

O que está falindo não é a economia de mercado. O que está falindo são os mecanismos políticos, são as elites. Pois nossa pobreza nada tem de inelutável.

Assim, nossa participação deixa de ser meramente reivindicatória, para transformar-se num dever inerente à função do empresário, na sua mais ampla forma de participação: econômica, social, política.

Sabemos que o desenvolvimento não se faz sem sacrifícios e que só será atingido com o respeito das prioridades identificadas por um planejamento realista e objetivo.

É inútil ou infrutífero esperar bons resultados, se os esforços da área governamental e da área empresarial, porque complementares, não forem harmonicamente conjugados.

Vale dizer, precisamos, no contexto, de ESTADISTAS E EMPRESÁRIOS.

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