[Discurso] Luiz Esteves Neto

PALESTRA PROFERIDA PELO PRESIDENTE DA FIEC, Dr. LUIZ ESTEVES NETO, NA FACIC, POR OCASIÃO DO “DIA DO SOLDADO” NA TRANSCORRÊNCIA DA SEMANA DO EXÉRCITO.
Fortaleza, 20 de agosto de 1992.

DUQUE DE CAXIAS: EXEMPLO DE HONRADEZ E ESPÍRITO PUBLICO

Há homens que, por acumularem de forma rara, qualidades de espírito e talentos particulares, são designados pela história para praticarem os grandes feitos que marcam o processo de formação das nações a que pertencem. Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, figura, com destaque, nessa excelsa galeria de predestinados.

Dedicado desde muito cedo à vida militar - aos quinze anos já era alferes - o jovem aspirante ascende rapidamente na carreira, chegando a Tenente com 18 anos e, aos 22, a Capitão, resultado de uma passagem brilhante pela escola militar e demonstrações de bravura, já nas primeiras experiências no campo de batalha.

Em 1838, aos 32 anos e já Coronel, Luiz Alves de Lima e Silva é nomeado Governador da Província do Maranhão, cargo que exerceu com singular desenvoltura, demonstrando, pela primeira vez, em situações concretas, suas habilidades como administrador e político, qualidades que se somariam, de forma inseparável, ao seu inquestionável domínio da arte da guerra.

Ao lado da gloriosa carreira militar, Duque de Caxias, teve, assim, também, ativa vida política, ocupando vários cargos na administração dos negócios do Estado brasileiro.

Deputado pelo Maranhão, Vice-Presidente de São Paulo, Presidente do Rio Grande do Sul, Senador, ministro da Guerra, Primeiro Ministro. Com igual eficiência, Caxias ocupou, em diversas fases do império, todos esses postos, deixando sempre, por onde passou, a marca da competência, do espírito público e da probidade.

Não impediu essa ativa carreira política cumprisse Caxias, sempre com sucesso, as várias missões militares que lhe foram confiadas, a mais notável delas sendo a gloriosa vitória na guerra contra Oribe e Rosas, no Paraguai.

Internamente, aliando a perícia de soldado às sutilezas da negociação política,

Caxias estancou várias rebeliões separatistas, numa época da história brasileira em que eram freqüentes os levantes regionais, preservando, assim, a unidade nacional, hoje o maior patrimônio da nação brasileira.

Registra a história, com minúcias, a obra imperecível desse ilustre brasileiro, e ocioso seria aqui discorrer sobre os múltiplos aspectos de sua gloriosa carreira, como militar e esta dista. Melhor que exaltar as vitórias de Caxias, seja nos campos de batalha, seja na arena política, já por tantos exaltadas, é-nos mais útil, neste momento muito particular da história contemporânea do nosso país, evocar a honradez e o espírito público de Caxias como paradigmas de ação pessoal, fontes de inspiração política e motivos de alento e crença no futuro de nossa terra.


Dos últimos anos do império até os tempos atuais, muitas coisas mudaram nas artes da guerra e da política. O avanço tecnológico transformou os modernos conflitos militares em batalhas onde as vitórias são forjadas, não propriamente nas trincheiras, mas, antes, nos laboratórios, nas pranchetas e fábricas de equipamentos e armas cada vez mais sofisticadas. E, como base de tudo isso, nas escolas, desde o ensino primário até a universidade, onde se formam e se adestram os recursos humanos sem os quais país algum pode verdadeiramente participar, em igualdade de condições, no concerto das nações desenvolvidas.

No caso do nosso Brasil, alarga-se o fosso que nos separa das grandes nações, depois de promissora redução, nas décadas de 50 a 70, da distância que delas mantínhamos em termos de tecnologia e de produtividade industriais e até de renda "per capita" da população.

Desenvolvimento econômico-social e defesa nacional são conceitos qeminados, duas faces da mesma moeda, duas perspectivas do bem comum. As economias estruturalmente fortes, rapazes de gerar um fluxo de produção à altura, em qualidade e quantidade, das necessidades dos mercados domésticos e externos e capazes de manter níveis de emprego adequados possibilitam e até impõem, automaticamente, a modernização das forças armadas, como garantia da paz interna e do equilíbrio das relações externas.

Sabemos hoje que o progresso econômico, por sua vez, é um subproduto do bom funcionamento das instituições democráticas e do grau de participação da sociedade na determinação dos rumos do país.

Mas, no campo da política, pode-se dizer que o Brasil acompanhou a evolução das grandes nações do mundo e, apesar de alguns percalços ou desvios de rota, é hoje uma democracia sólida, com suas instituições em pleno funcionamento.

A promulgação da Constituição de 1988 foi uma demonstração de maturidade da nação brasileira. O processo constituinte pôs em debate, sem limitações, os mais variados aspectos da vida da nação, elaborando-se, afinal, um documento heterogêneo, mas representativo das aspirações e, talvez, das contradições da sociedade brasileira. A revisão constitucional, prevista no próprio texto aprovada inicialmente e marcada para 1993, há de por certo assegurar o aprimoramento da democracia e de eliminar alguns obstáculos que ainda perturbam a eficiência do poder público, como agente do bem estar coletivo.

Enfim, o Brasil de hoje é muito diferente do Brasil dos tempos em que Caxias triunfava nos campos de batalha. Numa coisa entretanto não mudou: a honradez, e competência e o espírito público ainda são os requisitos fundamentais que devem credenciar os homens para a responsabilidade de terem em suas mãos a gestão dos negócios do Estado e, em última instância, os destinos da nação.

Caxias, mais que um herói, cujos feitos devem ser sempre lembrados, representa uma referência ética e moral para as gerações, civis e militares, que lhe sucederam. Nesse sentido não é o Pacificador apenas personagem do passado longínquo da história pátria, mas sobrevive, e de forma sempre renovada, como figura exemplar de homem público, a estimular permanentemente o patriotismo e a consciência cívica da nação brasileira.

Neste momento, em que se comemora a semana do Exército, inspirada na data do aniversário de seu patrono, cujas qualidades dão oportunidade a tantas reflexões, queremos os empresários cearenses manifestar nosso desejo e, mais que isso, nossa fé, de que os princípios que balizaram a existência de Duque de Caxias hão de prevalecer na orientação dos cidadãos brasileiros a cujos cuidados o povo confia a qestão da coisa pública. Praza a Deus se desvelem, cada vez mais, quais novos Caxias, em gestos de grandeza e de amor pátrio capazes de alçar nosso país às culminâncias a que só as sociedades governadas por espíritos superiores podem aspirar.

 

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