[Discurso] José Flávio Leite Costa Lima

DISCURSO PROFERIDO PELO PRESIDENTE DA FIEC, DR. JOSÉ FLÁVIO COSTA LIMA NA SESSÃO SOLENE DE ENCERRAMENTO DAS FESTIVIDADES DO "DIA DA INDÚSTRIA", REALIZADA NO AUDITÓRIO DO CENTRO SOCIAL THOMAZ POMPEU DE SOUZA BRASIL – SESI /CE.

 

Fortaleza, 25 de maio de 1978.

Em todo o Brasil vivemos, os industriais, Dia de Festa.

No caso cearense, a data adquire conotação especial, pois, a convite nosso, honrou-nos o banco de desenvolvimento do Ceará em concordar que comemorássemos conjuntamente as duas efemérides, eis que tem o banco hoje sua data de 15 anos.

Ela marca também, sua extraordinária recuperação, mercê da alta capacidade técnica do seu atual presidente.

Em verdade, não se pode negar a participação do BANDECE na dinâmica do desenvolvimento que todos procuramos, situado o industrial, aqui, como o vetor do projeto estadual de crescimento, em função do qual se movem as forças sociais que o compõem.

Não se veja neste justo reconhecimento do desempenho do BANDECE, nossa chancela ao sistema financeiro vigente, cuja hipertrofia subjuga indústria e comércio, com flagrante prejuízo do capitalismo produtor que, em última análise gera a riqueza nacional.

Aqui caberia a pergunta, por que Dia da Indústria? E, ainda, que fazemos, que queremos nós – os industriais? Qual a dimensão do nosso papel no Estado democrático, neocapitalista?

Será que, no contexto, "entendemos apenas de sermos devedores inadimplentes do Banco do Brasil; como o proclamou, recentemente, boquirroto líder político.

De certo, o tema extravasaria das comemorações que esta festa sugere, não sendo este o momento para assuntos de tamanha abrangência.

“En passant", é bom que se reconheça que o empresariado brasileiro nunca faltou a nação.

O industrial, sempre presente com o seu patriotismo, é a mola mestra do projeto de desenvolvimento nacional, sem perder de vista que os objetivos dos executores da política econômica não se podem dissorciar dos objetivos do estado-nação, ao arrepio das nossas firmes e decididas tradições democráticas.

Por isso, integrados na nação, não podemos abstrair-nos do seu processo político e proclamamos que, no futebol ideológico, entre a esquerda e a direita, nossa posição é a de centro libero, afastada, contudo, daquela posição equidistante e estática que o conservadorismo imobilista suscita.

Aplaudimos as conclusões da Conferência da Ordem dos Advogados do Brasil, recentemente realizada em Curitiba, em termos de pensamento e de orientação filosófica da realidade brasileira.

Queremos a democracia social que entende o estado de direito como estado da justiça social, que reconhece a cada cidadão o direito de participar social e culturalmente dos bens comunitários, já no plano das decisões, já no acesso as formas de melhor distribuição das riquezas.

A liberdade e a responsabilidade são e devem ser complementares, como condição "sine qua non” das soluções que se procuram.

TRABALHO E JUSTIÇA SOCIAL – Pede-se nas paredes isto, todos queremos mas resultará em mera agitação, a postulação abstrata de fins, sem o equacionamento objetivo dos recursos existentes, do preparo técnico e do condicionamento de prazo e tempo.

Seria um sinal de maturidade que, nas nossas aparentes divergências, todos tivéssemos a coragem das nossas prurias convicções.

Frases soltas, entretanto, sem a problemática dos meios, servem mais aos sectários de outras ideologias que, privadamente, não se coadunam com a desejada valorização do homem.

Vejam como é fácil distorcer as festividades comemorativas de um aniversário, com temas extravagantes, senão impertinentes.

Mas, numa reunião de homens de indústria com a presença do governo, quando são tão prementes e agudos os problemas sócio-econômicos, eles nunca perdem oportunidade.

A industrialização continua a ser o setor estratégico principal, qualquer que seja a filosofia econômico-social adotada.

No caso cearense, por fatores múltiplos, o problema é de maior entendimento entre o estado e o setor.

O PROBLEMA DOS INCENTIVOS – as interpretações literais das leis fiscais alheias a realidade setorial, causam-nos sérias apreensões pelas repercussões danosas que resultarão.

Queremos parlamentar com um estado progressista, que deva saber que suas incessantes necessidades de novos recursos serão cobertas pela dinâmica do processo de crescimento induzido e provocado por uma política realista, liberta do imediatismo fiscal estiolante, porque estático.

Hoje é o Dia da Indústria.

Reverenciamos a memória de Mauá, de Delmiro Gouveia , Roberto Simonsen, Ermírio de Morais, Matarazzo, Carlito Pamplona, Diogo de Siqueira, Thomás Pompeu de Souza Brasil.

Aplaudimos aqueles da atual geração que, acreditando sobretudo em si próprios, enfrentam os óbices de uma região cheia de deficit para contribuírem decisivamente para o nosso crescimento econômico.

Com os nossos parabéns ao BANDECE e os cumprimentos a sua diretoria e ao eficiente corpo de funcionários, os agradecimentos dos industriais do Ceará pela honrosa presença dos que aqui vieram, comemorar conosco o nosso dia.

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