Discurso do Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará, Dr. Luiz Esteves Neto, por ocasião da festa do Dia da Indústria.
Fortaleza, 24 de maio de 1989.
Cada ano, a 25 de maio, em consonância com os industriais de todo o Brasil, esta Federação promove no Ceará as comemorações que assinalam o “Dia da Indústria”.
A constância da festividade já tornou o evento uma tradição.
Este ano não conseguimos fugir ao questionamento dessa realização quando, aparentemente, não existiriam motivos para a festa e alegria.
Pelo contrario, se justificaria inevitável sensação de inconformidade e insegurança.
Há alguns anos, a falta de uma política econômica confiável, consistente e exequível, mergulharam os setores produtivos do país em um permanente estado de inquietação onde se destacou a desordem econômica indutora das greves inconsequentes, enquanto deveriam e poderiam se afirmar em últimos recursos, racionais, responsáveis e conscientes.
A falta de legislação complementar e ordinária aos preceitos constitucionais vigentes, tem levado o poder executivo a se socorrer de medidas provisórias, na mais das vezes, não representativa do pensamento da sociedade e sem oferecer o encaminhamento mais conveniente e adequado para superação dos problemas.
Relativamente a nossa região o dualismo econômico de há muito referido entre o Norte-Nordeste e Centro-Sul, não tem sensibilizado os sucessivos administradores do poder central, que estão permitindo, inclusive, o fato mais grave cobrador de uma solução tanto mais difícil quanto custosa, qual seja o aprofundamento do hiato econômico intraregional.
Os fenômenos cíclicos, alternando períodos de escassez de chuvas como os que ora experimentamos, de enchentes em determinadas áreas, fomenta um fluxo migratório, geralmente em demanda as capitais dos estados fazendo crescer os problemas de marginalidade social, porquanto a crescente demanda de serviços urbanos pelos novos agregados não tem correspondência com a capacidade financeira das prefeituras em satisfazê-los.
Se, por outro lado, a migração transita em destino ao Centro-Sul, notadamente para a cidade de São Paulo, passa a se constituir em preocupação para os seus moradores em razão da sua situação de megalópole não mais suportar aumento populacional tão vertiginoso, produzindo reações radicais e injustas como ate a da criação de associação, objetivando inibir a presença de nordestinos; como se não tivesse sido a mão-de-obra .barata desses migrantes responsável, Também, pelo notável progresso daquela região.
Tais acontecimentos fazem parte de fatos históricos registrados ao longo dos anos enquanto a vontade política do governo federal, até aqui, muito pouco fez para reter as populações nordestinas nos seus meios, oferecendo-lhes condições verdadeiras para conviver com as adversidade climáticas a semelhança de tantos outros povos, em vez de, simplesmente, assisti-los nos momentos das suas agruras.
Eis o cenário para a comemoração.
Esforço da administração estadual em por ordem a casa deteriorada e mal arrumada onde se viu obrigado a atuar. acompanhamos a tentativa hercúlea, mas não desesperada, gigantesca mas não inexequível, de colocar as finanças e a economia a primeira pelo menos em razoável seriedade e a segunda em condições de garantir a absoluta necessidade de demarcar o nosso desenvolvimento.
Seria desleal não afirmar que a ansiedade popular já começa a se inquietar com a demora do cumprimento das metas econômicas do governo, seria, porém, injustiça não fazer aqui o elogio do realizado e o reconhecimento do alcance das metas financeiras conquistadas a duras penas, atropeladas pela instabilidade sócio-econômica que atinge o país.
País em perigo iminente de se perder na sua complexa potencialidade, evidentemente gerida cada vez mais com incompetência e, ate irresponsabilidade.
Incompetência e irresponsabilidade debitáveis a nós próprios cidadãos, empresários ou não, passivos e acomodados diante da petulância dos assaltantes desonestos dos poderes constituídos, dos assaltantes oportunistas das lideranças de qualquer nível social, dos assaltantes da paz, da tranquilidade e da ordem indispensáveis a construção e manutenção de uma nação forte e sobranceira.
Cada um pode dar sua contribuição tarefa de mudar esse quadro.
Ao decidirmos comemorar o Dia da Indústria pretendemos cumprir uma pequena parte de nossa tarefa.
Hoje pela manha, no distrito industrial de Maracanaú lançamos o marco
Da 2ª cozinha industrial do SESI no Ceará.
Dentro de aproximadamente um ano estaremos quase dobrando o atendimento de refeições por dia e a preços módicos num total de 25.000 diárias.
Isso e atender aos reclamos dos nossos colaboradores. e a pratica de política social programada e pragmática, dosada nos limites de nossa capacidade de ação, não prometida mas pacientemente estudada e planejada para não fugir a certeza de sua concretização.
Agora, nesta festiva noite do dia da indústria, aqui estamos cercados pela alegria de receber nossos amigos.
Queremos lhes dizer da nossa crença no hoje de olhos postos no futuro sem deixar de olhar o passado para dele bebermos sabedoria e ensinamento.
Brasileiro tem a tendência para relegar a história, como se ela não contivesse mais do que simples registros de acontecimentos de uma determinada época, mas, de suma importância como explicadora de situações presentes e capazes de se repetir no futuro, pelo descaso em não aproveitar aquele evento do passado como referencial as nossas ações.
Por isso e que a Federação das Indústrias do Estado do Ceará, aproveitando o acervo de conhecimentos acumulados pelo economista e historiador, prof. Geraldo da Silva Nobre, houve por bem solicitar a realização de um estudo sobre “o processo histórico da industrialização do Ceará”, construindo importantíssimo sinal na memória desse importante setor, por muito tempo esquecido.
Mencionado estudo, cujo lançamento temos a honra de proceder, encerra uma penetração minuciosa das atividades econômicas acontecidas e registradas em nosso estado, contemplando uma visão a partir do artesanato colonial ate os empreendimentos surgidos com o apoio dos incentivos fiscais atualmente empregados em favor do desenvolvimento do nordeste, e em particular, do Ceará.
Na primeira parte afirma a dependência da indústria cearense do binômio boi-algodão.
Embora as datas apontem o setor metalúrgico como pioneiro, com a instalação em 1855 da fundição cearense, ainda hoje em funcionamento, reconhece a vocação cearense para as atividades com o couro, fiação e tecelagem.
Daí o crescimento da agro-industrial e do artesanato industrial com destaque para as inúmeras atividades espargidas pelos mais distintos municípios cearense.
A cultura do algodão, cada vez mais intensificada, torna-se a causa da proliferação das usinas de beneficiamento de algodão, também industrializando o óleo e tendo o resíduo como subproduto empregado na alimentação dos rebanhos.
Na segunda parte, nominada “industrialismo e crise” evoca a importância
dos óleos vegetais, especialmente a oiticica, no processo de industrialização creditando a Carlito Pamplona e Franklin Chaves o pioneirismo.
E então que aparece o envolvimento de importantes personalidades com a industrialização cearense como Trajano de Medeiros, Pedro Philomeno Gomes, Antonio Pompeu de Sousa Brasil, Antônio Pinto, Nogueira Acioly e Antônio Diogo de Siqueira.
Na década de 50 renova-se a ação dos industriais cearenses em busca de soluções para os nossos problemas ate que a criação do BNB e da SUDENE estabelecem uma nova perspectiva para nossa economia.
Credita, por fim, ao governador Virgílio Távora, a partir de 1963, estabelecimento de uma ação governamental embasada em apoio e planejamento técnicos com a criação do TRIPÉ BEC, SUDEC e CODEC.
Na crônica das entidades empresariais representativas da indústria livro refere a criação do centro industrial cearense, em 1919, antecipando-se inclusive, ao estado de São Paulo, sendo Thomás Pompeu de Sousa Brasil (22), o seu primeiro presidente.
Como consequência do advento da consolidação das leis do trabalho CLI, em 19143, surgiu em 12 de maio de 1950 a Federação das Indústrias do estado do Ceará - FIEC, fruto do profícuo trabalho dos engenheiros Waldir Diogo de Siqueira, que foi seu primeiro presidente e Thomás Pompeu de Sousa Brasil Netto, seu 12 secretario, tendo como filiados sindicatos: da indústria de fiação e tecelagem em geral do estado do ceara, de alfaiataria e confecções de roupas para homens de fortaleza, da construção civil, da industria de calçados de fortaleza e da indústria de tipografia de fortaleza.
Até a presente data, enumera a administração da FIEC pelos seguintes empresários:
WALDIR DIOGO DE SIQUEIRA - 1950 A 1962
THOMÁS POMPEU DE SOUSA BRASIL NETTO - 1962 A 1967
JOSÉ RAIMUNDO GONDIM - 1967 A 1970
FRANCISCO JOSÉ ANDRADE SILVEIRA - 1970 A 1977 JOSÉ FLÁVIO LEITE COSTA LIMA - DE 1977 A 1986
E por fim, pela atual diretoria iniciada em 1986 e marcada por um trabalho de equipe empenhada na conclusão da casa da indústria, iniciada na gestão anterior, e na solução dinâmica dos problemas que afligem o setor industrial, tendo sugerido e tornado realidade junto aos demais presidentes de federações do norte e nordeste os encontros periódicos para avaliarem e proporem medidas de interesse das regiões e adoptando ainda, a nível interno da entidade, novo regimento contemplando a definição de uma estrutura mais agiu moderna e compatível com os objetivos pretendidos pela diretoria, além do plano de cargos e salários, recém implantado.
Tudo isso graças ao desempenho dos presidentes dos sindicatos e ao assessoramento de um corpo de técnicos e servidores do melhor escol forrados de inteligência e dedicação aos seus deveres.
Ao termino, admirando as funções desenvolvidas pela FIEC e seus órgãos subordinados, SESI, SENAI e IEL, na casa da indústria, enxerga esses setores, agindo racionais, dinâmicos e integrados, como um só corpo sólido e interessado no aperfeiçoamento dos seus objetivos e no cumprimento das metas resultantes em sucesso para a empresa e melhor assistência. qualificação e bem-estar para o trabalhador da indústria cearense.
Ao lado da federação o autor consagra o desempenho do centro industrial do ceara a partir de 1978/79 sob a gestão de Beni Clayton Veras, em 1980 de Amarílio Proença de Macedo, em 1981/82 do Dr. Tasso Ribeiro Jereissati, em 1983/814 de José Serio de Oliveira Machado, em 1985/86 de Francisco de Assis Machado Neto e a partir de 1987, sob o comando de Fernando Cirino Gurgel, sempre funcionando como fórum de debates para temas de interesse local, regional e nacional.
Pelo nosso reconhecimento desse apurado trabalho de pesquisa, neste momento, pedimos vénia a sua excelência, Dr. Tasso Ribeiro Jereissati, governador do estado, e para nos, mais que isso, empresário industrial, para, em nome da diretoria da federação das indústrias do estado do ceará, entregar ao prof. Geraldo da Silva Nobre, jornalista, historiador e economista, competente e íntegro colaborador do SESI e’ desta federação, o qual sempre ofereceu o brilho da sua inteligência e dedicação de inestimável reconhecimento as muitas missões que lhes foram confiadas, a placa alusiva a homenagem profissional como historiador consagrado.
Senhor Governador,
Senhores convidados,
Meus senhores e minhas senhoras:
Pela manhã, repetimos, no SESI de Maracanaú, reverenciamos o homem e trabalho.
Agora, homenageamos a ideia e a memória.
No início dessas palavras comprometemo-nos a justificar a opção feita pelo otimismo e pela crença no futuro.
Por que não crer nele, se esta empenhada toda a sociedade cearense em varias frentes de lutas ?
Quem entre nós não tem presente a campanha pela ZPE, pela refinaria, pela SIDNOR, pela interiorização do desenvolvimento, pelo apoio aos desabrigados e flagelados?
Quem entre nos não sabe que estamos lutando na batalha pela recuperação da produção agrícola, na cruzada contra a discriminação econômica desencadeada pelos cartórios e monopólios de alguns estados do Centro-Sul, no enfretar1ento dos malefícios causados pela inflação e na justa paga dos nossos assalariados, na vigília sagrada para defender a democracia plena e efetiva, na defesa contra os que se arregimentam e municiam para eliminar os incentivos capazes de levantar as regiões subdesenvolvidas?
Por que não crer no futuro se todos nos estamos ansiando pela recuperação do pais, conduzido pelas mãos limpas de um patriota decidido a cumprir sua tarefa sem condiciona-la a qualquer outro interesse?
Se temos plena convicção na conquista dessa aspiração senão hoje; senão no nosso amanha, mas, certamente, no amanha dos nossos filhos?
Sim, ousamos proclamar otimismo para o futuro, ao fazermos no dia da indústria a louvação da alma e do corpo, ao dizer de publico, com toda nossa força e com toda nossa esperança, que acreditamos no homem decidido a vencer pelo trabalho e pela dedicação a sua terra.