Retomada, mesmo que lenta e gradual: motivos para acreditar
A economia brasileira sofreu um desastre econômico em 2016, com consequências impactantes como os recordes de desemprego (12,1 milhões de pessoas) e de déficit nas contas públicas (R$ 170,5 bilhões), além da maior queda dos investimentos desde 1995 e de uma aguda crise fiscal de estados e municípios. Com a confirmação, nesta semana, pelo IBGE, da queda de 3,6% do PIB no ano passado, teremos um carregamento estatístico para 2017 – em outras palavras, aquilo que teremos que crescer, para que o PIB de 2017 fique zerado - de -1,1%, ou seja, a tentativa de trazer nossa economia de volta aos trilhos terá que conviver com essa herança negativa.
Porém, apesar dessa conjuntura desfavorável, são inúmeros os sinais de que a profunda recessão está sendo superada, e que já desponta um novo quadro, no qual a economia voltará a crescer, mesmo que de forma lenta e gradual. O aumento do consumo aparente (produção interna + importações – exportações) em novembro e dezembro do ano passado, e o crescimento da produção industrial (1,4%) após 34 quedas consecutivas, corroboram este cenário.
Nessa direção, podem ser citados outros motivos para se acreditar nessa retomada econômica:
Redução das incertezas, econômicas e políticas: se antes havia a sensação de desorganização da economia, agora, com a queda da inflação e dos juros, espera-se um retorno da normalidade e, consequentemente, aumento dos investimentos e do consumo (caiu 4,2% em 2016; espera-se que cresça 0,3% este ano). No campo político, observa-se que o governo Temer possui maioria no Congresso para aprovar os difíceis ajustes propostos, como a PEC que limita os gastos do governo. Assim, é maior a perspectiva de aprovação da reforma da previdência, considerada imprescindível para o ajuste fiscal.
Melhora dos antecedentes: o Indicador Antecedente Composto da Economia (IACE), da FGV, cujo objetivo é antecipar a direção da economia brasileira no curto prazo por meio da comparação dos ciclos econômicos do Brasil com os de outros 11 países, cresceu 2,8% de dezembro de 2016 para janeiro deste ano. Em expansão há 12 meses, teve uma única queda de novembro para dezembro.
Saque das contas inativas do FGTS e impacto sobre consumo: serão liberados R$ 43,6 bilhões, o que equivale a aproximadamente a massa salarial mensal do Brasil. Um gasto de 15% desse recurso em consumo provocará aumento de 0,3% no PIB. Vale lembrar que, pela ótica da demanda, o consumo é a parte mais significativa, representando 64% do PIB no Brasil.
Safra agrícola: a produção agrícola de 2016 foi a pior dos últimos 20 anos. Para 2017, ao contrário, espera-se uma safra recorde.
Queda da inflação e dos Juros: apesar do mercado ter projetado aumento de 0,44%, o IPCA neste mês de fevereiro cresceu apenas 0,33%, numa demonstração clara de que a inflação está sob controle. O preço dos alimentos teve seu menor aumento para o mês de fevereiro desde 1995. Nos últimos 12 meses, a inflação está em 4,75%, muito próxima da meta de 4,5% para este ano. A queda da inflação abre espaço para um corte profundo nos juros – SELIC, hoje em 12,25%, deve terminar o ano próxima de 9,0%.
Redução do Endividamento: embora ainda 55,6% das famílias brasileiras tenham algum tipo de dívida, esse índice está em queda há vários meses, sendo este o menor valor desde fevereiro de 2016. Certamente, a redução do endividamento será estimulada com juros menores; o mesmo ocorrerá com as empresas – 95% das dívidas das grandes empresas estão indexados à SELIC.
Aumento dos Investimentos: embora ainda não haja sinal claro de retomada dos investimentos, pelo menos dois fatores contribuem de forma positiva: o risco de se investir no Brasil caiu expressivos 43,63% nos últimos 12 meses, e o Real segue apreciado, facilitando a importação de bens de capital.
Confira as edições anteriores da Análise Econômica Semanal:
03/03 - Os números e a realidade da Previdência
24/02 - Superávit das contas públicas em janeiro e a disposição para atingir a meta fiscal
17/02 - A retomada da confiança
10/02 - Monitorando os avanços
03/02 - Medidas microeconômicas do Banco Central melhoram ambiente de negócios
27/01 - Sinais positivos
20/01 - O potencial de crescimento e os seus riscos
13/01 - As boas notícias e os ajustes necessários
07/01 - A retomada virá em 2017
16/12 - Melhoria do ambiente de negócios
09/12 - Pressupostos da recuperação da economia
02/12 - A volta da instabilidade política
25/11 - Crise política: persistente pedra no caminho de nossa recuperação econômica
18/11 - Crise é mais profunda do que se imaginava
11/11 - Endividamento: freio à retomada do crescimento
04/11 - O risco Trump
28/10 - Conter gastos públicos é necessário para a retomada econômica
21/10 - Por que os juros não caíram mais?
14/10 - Repatriação e investimentos: reforços no caixa
07/10 - PEC dos gastos e as reformas necessárias
30/09 - O Brasil e o ranking de competitividade econômica
23/09 - Avanços e riscos de um novo modelo de ensino médio
16/09 - O primeiro pacote de concessões
09/09 - O IDEB e os impactos na economia
18/08 - Dívida dos Estados e a necessidade de superar as ineficiências institucionais
05/08 - A queda da inflação e a revisão dos juros
29/07 - Déficit nas contas públicas: solução passa por investimentos e exportações
22/07 - Mudança na SELIC terá que vir acompanhada de medidas fiscais
15/07 - Precisamos aproveitar o cenário favorável
08/07 - Respeito às restrições do orçamento é imprescindível para alcançar meta fiscal
01/07 - O elemento central para a retomada da econonomia
24/06 - O "Brexit" como mais um desafio para a agenda internacional brasileira
17/06 - Sinais de confiança na retomada da economia
10/06 - Foco no cumprimento da meta de inflação
03/06 - No Caminho da austeridade
27/05 - Primeiras medidas evitam agravamento do quadro fiscal
20/05 - Controle das contas públicas e a eficiente gestão do gasto
13/05 - Competitividade, chave para retomada do crescimento
06/05 - A premissa da eficiência do gasto público
29/04 - O equilíbrio que se faz necessário nesse momento
22/04 - Os desafios do pós-Dilma
15/04 - Próximos dias darão o tom sobre as incertezas
08/04 - Um governo novo ou um "novo governo?
01/04 - FUTURO: Uma construção coletiva
24/03 - Não há saída sem a recuperação da confiança
18/03 - Destaques econômicos em segundo plano
11/03 - Os humores da política
04/03 - Efeitos da Lava Jato na economia
26/02 - Até que enfim, um sopro de positividade
19/02 - Programação Orçamentária e Financeira para 2016: cortes de gastos de R$ 24 bilhões