[Gestão] José Raimundo Gondim

Interinidade proveitosa

Tendo o Engenheiro Thomás Pompeu Netto assumido a presidência da Confederação Nacional da Indústria, sediada no Rio de Janeiro, coube ao Industrial José Raimundo Gondim ficar à frente da entidade regional, com a diretoria do SESI e a administração superior do SENAI, no Ceará, porém somente na condição de interinidade, pois não houve a renúncia do titular desses cargos, devido à legislação sindical e os estatutos e regulamentos serem omissos a respeito.

Com o recurso das facilidades das comunicações e das viagens freqüentes, o Engenheiro Thomás Pompeu Netto pode acumular, efetivamente, aquela presidência com a da Federação das Indústrias do Estado do Ceará, o que lhe assegurou a reeleição para essa última, na renovação dos mandatos dos diretores, de modo a ter no SESI Regional, como era seu propósito, urna espécie de laboratório de inovações, de acordo com as diretrizes da política de valorização do trabalhador da indústria e família.

Erraria quem supusesse, no entanto, que o presidente interino da entidade cearense restringiu a sua atuação à de um delegado, ou executor de ordens simplesmente, nele devendo-se reconhecer, ao contrário, uma colaboração eficiente para o êxito daquela política no Ceará, da qual se mostrou um entusiasta, com uma presença mercante em todas as atividades, esclarecendo intenções e encaminhando providências, de modo a proporcionar condições favoráveis à ação inovadora do então Presidente da CNI.

Tratado comumente Por Major José Raimundo Gondim, em alusão a uma carreira militar interrompida a fim de secundar o seu pai - Éfren Gondim - na gerência de um dos mais importantes estabelecimentos hoteleiros da capital cearense - o Palace Hotel -, por ele vendido, anos depois, para servir de sede atual da Associação Comercial do Ceará, o presidente interino da FIEC tinha os atributos necessários a uma proveitosa administração, a começar da firmeza de atitudes, do senso de responsabilidade e da disposição para o trabalho, desenvolvidos em sua primeira profissão. Pertencente a uma família admirada pelos dotes de inteligência e sensibilidade, desde estudante demonstrara que os havia herdado, sobressaindo-se dentre os seus colegas no Colégio São João, de fundação ainda recente, mas já conceituado como dos melhores de Fortaleza, freqüentado por jovens das classes mais favorecidas, em geral com residências novas na Aldeota, bairro logo incluído pelos visitantes na enumeração dos mais modernos e belos de quantos conheciam.

O decênio de 1931-1940 caracterizou-se em Fortaleza por uma tendência para o aprimoramento dos costumes, a preocupação com o conforto e a elegância e o clubismo, evidentemente um processo de elitização social, devido, em grande parte, ao ambiente familiar influenciado por senhoras, ou moças, que haviam freqüentado escolas e recebido aulas de boas maneiras no Rio de Janeiro ou, em alguns casos, na Europa, não se devendo minimizar, no entanto, o papel também desempenhado, nesse tocante, pelo Colégio da Imaculada Conceição, de Fortaleza.

Representante daquela geração, o Major José Raimundo Gondim aliava aos atributos já mencionados um raro cavalheirismo, como resultado de sua ligação com a hotelaria, acostumado a receber hóspedes famosos ou ricos, porém, ao mesmo tempo, se fazia notar pela falta de preconceitos, tratando a todos de maneira igualmente atenciosa.

Fora um dos responsáveis pelo desenvolvimento da indústria e exportação de óleos vegetais no Ceará, finda a Segunda Grande Guerra, e concorrera para a fundação do sindicato patronal desse ramo da indústria, cuja presidência estava exercendo, ao ser eleito, em 1962, 1º secretário da FIEC e um dos delegados representantes dessa junto à C.N.I.

Sua atuação na Secretaria da entidade regional (estadual) valeu-lhe, nos pleitos seguintes, a 1ª vice-presidência, por três mandatos sucessivos, até 1971, e, por último, a interinidade em referência, e, no Conselho de Representantes junto à Confederação, além de outras tantas reconduções, uma das vice-presidências, a comprovar o conceito que soube granjear de parte dos industriais de todo o Brasil. Sua atuação na diretoria da FIEC coincidiu com o período em que mais esforços houve, no Ceará, pela integração do Estado no processo de industrialização desencadeado pelo Governo Federal, através da SUDENE, pelo Governo Estadual (Governadores Virgílio Távora e Plácido Aderaldo Castelo) e pela Universidade Federal do Ceará (Reitor Antônio Martins Filho), tendo participado de numerosas reuniões e de entendimentos com as autoridades e com outras entidades a respeito, indormido na defesa dos interesses cearenses, não raro postergados, sob argumentos fúteis, capciosos e inverídicos principalmente, como o da falta de vocação para a indústria.

A propósito, programou a publicação de uma série de biografias de pioneiros da industrialização no Ceará , anunciada em artigo de colaboração que escreveu para a Caderno do Ceará, editado, àquele tempo, pelo jornal Ultima Hora, do Rio de Janeiro, e no qual, após lamentar o desconhecimento dos valores culturais e intelectuais cearenses, afirmou:

Resolvemos não permitir que tal aconteça com aqueles que, muito antes de nós, em condições adversas, sem estímulos e sem incentivos, fizeram indústria no Ceará. Eles acreditaram em nossa terra e em nossa gente quando não se acreditava no Brasil, em termos de nação industrial.

Com Antônio Diogo, iniciamos a galeria dos pioneiros que hoje tem continuidade com a biografia de Carlito Pamplona e prosseguirá com Thomás Pompeu de Souza Brasil, Ernesto Deocleciano de Albuquerque, Trajano Sabóia Viriato de Medeiros, Philomeno Gomes, Theófilo Gurgel e tantos outros que com excepcional visão do futuro, se anteciparam ao tempo transformando sua capacidade de trabalho e seu idealismo em instrumentos de progresso da terra comum.

Embora com o caráter de interinidade, a sua passagem pela FIEC e órgãos subordinados foi marcante, quando menos como um executor inteligente e entusiasta da política do então presidente, aliás também interino, da Confederação Nacional da Indústria, visando à integração da entidade estadual no esforço para superação do desnível regional, devendo-se-lhe muito do êxito do Primeiro Encontro de Investidores do Nordeste, realizado em Fortaleza em 21, 22 e 23 de junho de 1966 e a serviço do qual visitara, em princípios desse ano, vários Estados, para entendimentos com os empresários e suas entidades representativas, de modo especial com os de São Paulo (maio).

Além de vice-presidente da FIEC, exercia, então, idênticas funções na FUNDINOR- Fundação para o Desenvolvimento Industrial do Nordeste, órgão instituído pela Confederação Nacional da Indústria com o objetivo de influir nas decisões governamentais no sentido de assegurar investimentos em novas fábricas e na modernização das já existentes, como providências imprescindíveis a uma economia nordestina em condições de superar o atraso e a excessiva fragilidade às crises em geral.

A sua projeção no empresariado nacional explica o fato de ter sido ele o escolhido, no Encontro Nacional da Indústria, no Recife, para a saudação à SUDENE, no ensejo das comemorações do décimo aniversário da existência dessa, quando proferiu longo discurso, publicado, parcialmente, em Indústria & Produtividade, nº 21, de fevereiro de1970, e do qual consta a enfática declaração seguinte:

Em nome deste presente, do futuro que ele nos antecipa, é que eu ouso afirmar que ninguém mais vai capitalizar a miséria do Nordeste em proveito político. Porque nós não o permitiremos. Este País não assistirá, nunca mais, a uma reedição daquela tristemente famosa campanha "ajuda o teu irmão", porque nós recusaremos as esmolas. Porque nós desejamos colocar nas mãos de cada nordestino um instrumento útil de trabalho.

O industrial José Raimundo Gondim foi, sempre, um estudioso dos assuntos inerentes às suas atividades, particularmente os da indústria de óleos vegetais, na qual ingressara juntamente com o seu sogro, o empresário sobralense, já então estabelecido em Fortaleza, Frederico Ferreira da Ponte, e os filhos deste, José de Andrade Ponte (engenheiro-agrônomo) e Fernando Andrade Ponte (que também integrou a diretoria da FIEC). Sobre referida indústria, no Ceará, publicou trabalho, ressaltando os problemas que então a afetavam, notadamente o da capacidade ociosa, em uma abordagem de leitura agradável, pela mescla de considerações técnicas e a linguagem literária, a comprovar boa formação humanística, segundo se pode ver no Anuário do Ceará de 1972.

Consultado sobre se aceitaria a Prefeitura Municipal de Fortaleza, e admitindo a possibilidade de vir a exercer o cargo, dedicou-se ao estudo de todos os problemas da capital cearense, cujos destinos, no entanto, não lhe foi dado gerir, por implicações de natureza política, pois, apesar do grande relacionamento social, se mantivera afastado das competições dos partidos de governo e oposição.

Afastando-se da FIEC e da própria atividade industrial, depois de haver integrado a diretoria da MECESA - Metalgráfica Cearense S.A., passou a colaborar com o empresário Édson Queiroz na concretização da idéia de uma nova Universidade, voltada para o atendimento das exigências do processo de industrialização do Ceará e dos Estados vizinhos.

Embora as circunstâncias não lhe tivessem permitido concluir um curso de nível universitário, foi o major José Raimundo Gondim um dos principais artífices do arrojado cometimento que consistiu na criação e no funcionamento da Universidade de Fortaleza-UNIFOR, de imediato reputada como das melhores organizadas no Brasil, devido, em muito, ao seu concurso, nas funções de diretor administrativo, posteriormente a nível de vice-reitoria, ainda agora em exercício, não obstante a permanência maior no sul do País, para o encaminhamento, no Conselho Federal de Educação, dos assuntos de interesse daquela instituição de ensino superior, de cuja existência o Ceará tem auferido, realmente, muitos dos benefícios pretendidos por seus idealizadores, em particular no tocante à qualificação de técnicos para os estabelecimentos industriais.

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