[Gestão] Francisco José Andrade Silveira

Missão cumprida

Ao contrário do que consta de trabalhos sobre a indústria cearense, com referência às eleições para a diretoria da Federação das Indústrias do Ceará, e apesar do processo eleitoral em vigor até a reforma dos dispositivos legais (CLT) a esse respeito, elas decorreram, mais de uma vez, de delicadas negociações, de maneira a evitar impasses como a acontecido, neste mesmo Estado, com entidade congênere do comércio, levando à criação de urna segunda Federação.

Em princípios de 1971, ano em que se verificariam as eleições tanto da FIEC como da C.N.I., para mandatos a partir de então trienais, o Engenheiro Thomás Pompeu Netto, incerto, ainda, de êxito na postulação da presidência efetiva da entidade nacional, cuidou de se reeleger no Estado, com maior empenho quando o Ministro da Indústria e do Comércio General Edmundo de Macedo Soares e Silva reassumiu a presidência da Confederação, em meio a uma onda de suposições acerca de sua atitude sobre algumas providências do presidente interino, pois havia desagradado a alguns o investimento feito na aquisição de uma sede própria.

O major José Raimundo Gondim recebeu, entretanto, apoio de alguns Sindicatos da Indústria do Ceará, para o caso de candidatar-se o Engenheiro Thomás Pompeu Netto à presidência da C.N.I., como estavam a indicar manifestações de industriais de vários Estados, verificando-se, em conseqüência, uma atitude reservada do segundo em relação ao primeiro, alijado na organização da chapa para o pleito da FIEC, devido ao que renunciou ao seu cargo, em 22 de abril de 1971.

Mediante convocação, passou a integrar a diretoria efetiva o 1º suplente engenheiro Francisco José de Andrade Silveira, logo após investido na presidência, em caráter interino, e efetivado na eleição de 5 de agosto daquele ano, com o assentimento do Engenheiro Thomás Pompeu Netto, já então convicto do êxito de sua candidatura no pleito da CNI.

O novo presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará formara-se, como os seus antecessores (efetivos), em Engenharia, tendo concluído o curso na conceituada Universidade Mackenzie, de São Paulo, e com graduação em 12 de abril de 1950, antes de completar os vinte e quatro anos de idade, pois nascera em 22 de novembro de 1926, na capital cearense. Ainda a exemplo daqueles, pertencia a uma das famílias de maior projeção na vida econômica e social do Estado, filho do comerciante e industrial José Carneiro da Silveira, que, de Viçosa do Ceará, onde nascera em 19 de março de 1901, viera para Fortaleza em 1908, para ingressar no Seminário da Prainha, desistindo, porém, do sacerdócio, pois a Primeira Guerra Mundial e a Seca de 1915 prejudicaram os negócios paternos, reclamando-lhe a ajuda, quando tinha apenas quinze anos. Fora despachante aduaneiro, fazendo relações que lhe valeram o convite para agente de revenda dos veículos Chevrolet, por ele iniciada, para o Ceará em 1926, quando organizou a firma denominada Organização Silveira Alencar (em sociedade com os irmãos Alencar Pinto), e, em 1947, ingressara no setor imobiliário, dois anos antes de estabelecer a primeira fábrica de Coca-Cola - a Fortaleza Refrigerantes S.A., na Avenida Monsenhor Tabosa, e de adquirir a Fiação e Tecelagem Ernesto Deocleciano, de Sobral. Em 1966, constituíra, ademais, a Agropecuária José Carneiro, tendo dirigido esses vários estabelecimentos até o seu falecimento, em 13 de agosto de 1975, após uma vida de trabalho edificante, no sentido moral tanto quanto no material.

O filho, uma vez formado, preferira colaborar na administração do patrimônio familiar, notadamente gerindo a fábrica de Sobral, um dos mais antigos estabelecimentos industriais do Ceará, à qual deu grande impulso, com a modernização tecnológica, vindo, em seguida, para a capital, onde se faziam necessários os seus conhecimentos para a solução dos problemas da Imobiliária José Carneiro, cujo patrimônio, de várias centenas de prédios, exigia cuidados constantes.

Dividindo o seu tempo, até então, com a família e a atividade empresarial, desenvolveu uma notável capacidade de trabalho e passou a ser conhecido como um administrador eficiente, de poucas palavras e de atitudes decididas, pelo que a sua eleição para a presidência da FIEC foi bem recebida por todos os industriais cearenses e pelos empresários em geral, tendo ele correspondido à expectativa, tanto em relação à entidade sindical como ao Centro Industrial do Ceará, que igualmente presidiu, até 7 de março de 1978.

Na FIEC, sua atuação caracterizou-se pela austeridade, incutida por várias portarias expedidas ainda como presidente interino, uma delas exigindo o cumprimento do horário integral dos contratos de trabalho, pois, de início a entidade não contara com Pessoal próprio, mas com servidores do SESI postos à disposição, de modo a prescindir de um regulamento para o problema do "ponto" de freqüência, cuja necessidade surgiu pela contratação de Economistas para o Centro de Produtividade Industrial - CEPI, mas foi negligenciada por se tratar de profissionais de nível superior, até empossar-se o Engenheiro Francisco José de Andrade Silveira, que houve por bem exigir a observância integral das cláusulas contratuais, de conformidade com o procedimento adotado nas empresas.

No cumprimento da Portaria em apreço houve desconto no salário de um dos economistas, que fez, por escrito, uma reclamação, iniciando-se, a respeito do assunto, uma correspondência, na qual o presidente jamais deixou de responder àquele servidor, Comprovando não ser a sua exigência um desapreço, mas uma forma de caráter geral, e ressaltando o respeito ao semelhante, em qualquer circunstância, devido à formação cristã, recebida em família.

Na verdade, o rigor não ficou limitado a FIEC, estendendo-se ao SESI, em medidas como a da portaria de 1º de setembro de 1971, determinando que as reuniões do Conselho Regional do referido órgão fossem realizadas sempre na sede da Federação, diferentemente do acontecido até então, e a designação de um dos diretores da entidade para a nova função de administrador do qual recaiu no vice-presidente industrial Abílio Rodrigues Lemos de Oliveira. Esses atos não tiveram a intenção de atingir o Superintendente, cuja dedicação, competência e honestidade estavam acima de qualquer suspeita, visando a reforçar a capacidade realizadora do SESI diante do apoio que o Departamento Nacional vinha proporcionando à construção de Centros Sociais, em Fortaleza e no Cariri (Crato), como passo para planos de atividades arrojados.

Tais providências terminaram, no entanto, por ocasionar um impasse, que levou à renúncia, a 14 de agosto de 1972, do Superintendente Dr. Hélio Ideburque Carneiro Leal, após mais de um vintênio de exercício do cargo, com inestimáveis serviços prestados, e a um inegável enfraquecimento das atividades do D.R., mesmo com as novas medidas então adotadas, de reestruturação, criação de órgãos, admissão de servidores, etc, e não obstante o bom trabalho desenvolvido pelo substituto, coronel Antônio Alexandrino Correia Lima, em sua passagem pela Superintendência, relativamente rápida.

Continuou a Federação das Indústrias do Estado do Ceará a ter uma participação ativa em todos os acontecimentos relacionados com o processo de industrialização do Nordeste, evidentemente mais intensa do que antes, salientando-se a promoção, pela própria entidade, com o patrocínio da Confederação Nacional da Indústria, do Encontro Regional da Indústria, e, por último, já no final do Segundo período administrativo do engenheiro Francisco José de Andrade Silveira, do III Encontro de Investidores do Nordeste, realizados esses eventos na capital cearense, e implicando em pesados encargos para a FIEC, a que ela atendeu satisfatoriamente, mediante o trabalho em equipe adotado como norma pelo presidente e aceito com entusiasmo pelos diretores e respectivos suplentes, como, igualmente, pelos Sindicatos das Indústrias.

Registre-se que, em sua administração, houve, além do intercâmbio com as entidades empresariais, um relacionamento mais efetivo com os poderes públicos e dirigentes dos órgãos atuantes no desenvolvimento regional, sempre com boa receptividade para as reivindicações apresentadas no interesse da indústria cearense, justificando as homenagens prestadas ao ex-Superintendente da SUDENE, general de divisão Tácito Teófilo Gaspar de Oliveira, no ensejo da promoção, em 25 de março de 1972, a esse posto e em reconhecimento dos serviços prestados ao Ceará pelo ilustrado militar, aliás cearense, no exercício do dito cargo em 1969-1970; ao presidente do Banco do Nordeste do Brasil, dr. Antônio Nilson Craveiro Holanda, que, em outra ocasião, atribuiu ao Engenheiro Francisco José de Andrade Silveira o honroso encargo de apresentar o livro Incentivos Fiscais e Desenvolvimento Regional, de autoria do referido homenageado; ao ex-Governador Raul Barbosa, por sua atuação como presidente, também, daquele estabelecimento bancário e como diretor, mais tarde, do Banco Interamericano de Desenvolvimento; e ao presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 7º Região, sediada em Fortaleza, juiz dr. Francisco Osmundo Pontes, pela serenidade e imparcialidade na solução dos litígios entre o capital e o trabalho e as providências adotadas para dinamizar as atividades das Juntas de Conciliação e Julgamento evitando procrastinações prejudiciais aos interesses das partes.

Ao Dr. Raul Barbosa, a FIEC concedeu a Medalha do Mérito Industrial, honraria com a qual foi homenageado, igualmente, o economista Mário Henrique Simonsen, então ministro da Fazenda e a quem os empresários cearenses deviam muitas atenções, não apenas pela amizade que testemunhava ao Engenheiro Tomás Pompeu Neto como pela compreensão da importância do Nordeste para o desenvolvimento brasileiro.

Prestou a FIEC, ademais, homenagens ao Governador César Cals de Oliveira Filho, ao final do seu período na chefia do Poder Executivo do Ceará, em 14 de março de 1975, e ao imediato sucessor dele, José Adauto Bezerra, identificado com a entidade por dedicar-se a atividades industriais, agradecendo-lhe a escolha do Dr. José Flávio Costa Lima para a Secretaria da Indústria e Comércio, primeiro empresário colocado à frente dessa importante pasta, "...nosso companheiro de vida associativa...", como salientou o presidente da entidade ao fazer-lhe uma saudação congratulatória, dias depois, na Federação.

À primeira vista, pode parecer laudatória a intenção de homenagear referidas personalidades, mas prevaleceu o interesse de expor os problemas e sugerir soluções nas diversas áreas de competência, como certificarão os termos dos discursos, de que não são feitas citações, por constarem da coletânea publicada com o título de Missão Cumprida, ed. FIEC-SENAI-SESI-IEL, Fortaleza-Ceará, 1977.

Nessa publicação está reproduzida a palestra proferida pelo presidente da FIEC, próximo a deixar o cargo, perante os estagiários da Escola Superior de Guerra, em visita a Fortaleza, sobre as atividades do Departamento Regional do SESI, a qual a Tribuna do Ceará divulgou, originariamente, na edição de 22 de agosto de 1977, tornando indispensável, por conseguinte, a exposição que poderia ser incluída, nesta monografia, a respeito da atuação do engenheiro Francisco José de Andrade Silveira à frente do órgão em referência, tanto mais por conter a coletânea citada outros pronunciamentos a ele relativos, notadamente os discursos proferidos nas inaugurações dos Centros Sociais Thomás Pompeu de Souza Brasil e do Cariri, em fevereiro de 1973.

Para um julgamento mais preciso do que foi aquela atuação, deve ser considerado que, apesar do convênio celebrado com o Departamento Nacional para a manutenção dos dois grandes complexos sócio-assistenciais, eles determinaram uma situação na qual os industriários atendidos em outras unidades de prestação de serviços do D.R., reivindicaram igualdade de tratamento, ou melhor atendimento, cogitando a direção do órgão, em conseqüência, da modernização dessas, conforme um plano, com prioridade para o Núcleo Social de Fortaleza (antiga sede do SESI do Ceará) e dependendo, a execução, de auxilio financeiro a ser autorizado pelo Conselho Nacional, requerido em várias ocasiões.

Por coincidência, o Engenheiro Francisco José de Andrade Silveira, eleito da primeira vez nas circunstâncias já referidas, ao aproximar-se a conclusão do seu segundo triênio mantinha relações delicadas com o Presidente da Confederação Nacional da Indústria, de cuja diretoria era suplente, motivo porque desistiu de concorrer ao cargo pela terceira vez, permanecendo, ainda, na presidência do Centro Industrial do Ceará, por extinguir-se o mandato respectivo somente em março de 1978, quando transmitiu o cargo ao recém-eleito, afirmando, em um trecho do seu discurso:

        Ofereci minha contribuição desinteressada e entusiasta, para que os dignos companheiros aqui encontrassem um ambiente propício à cordialidade. É natural que, a partir deste momento, outros tenham idêntica oportunidade de contribuir para a sobrevivência e a expansão do Centro Industrial - a mais antiga entidade representativa da indústria cearense.

 

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